Revolução Russa: Os cem anos que mudaram o mundo

“Em fins de setembro de 1917, um professor de sociologia que percorria a Rússia veio visitar-me em Petrogrado. Os homens de negócios e os intelectuais haviam-lhe garantido que a revolução começara a declinar. O professor acreditou em tais informações e escreveu um artigo sustentando essa opinião. Entretanto, continuou a viajar pelo país, visitando cidades industriais e pequenas aldeias do interior. Com assombro, verificou então que a revolução parecia entrar em nova fase de desenvolvimento. Entre os operários das fábricas e os camponeses pobres ouvia-se frequentemente falar de ‘todas as terras aos camponeses’ e ‘todas as fábricas aos trabalhadores’. Se o professor tivesse visitado as trincheiras, verificaria, também, que os soldados só falavam em paz…”

É assim que o jornalista John Reed começa o livro 10 dias que abalaram o mundo, o mais famoso relato sobre a Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, publicado com prefácio de Vladimir Lênin. Em fevereiro daquele ano, os russos já haviam se mobilizado num processo revolucionário pela derrubada do regime czarista. Entre fevereiro e outubro, pouco mudou na sociedade, porém, que continuava mergulhada em miséria e altos impostos cobrados dos trabalhadores. A estagnação tinha um motivo, que pode ser citado nas palavras do próprio Reed: “Os capitalistas, os negociantes e os intelectuais achavam que a revolução não só já fora demasiado longe, como durara excessivamente”.

O rompimento com a lógica das classes dominantes, que, mesmo sem o czar, continuava a tentar subjugar os trabalhadores, foi o objetivo da Revolução de Outubro e a razão pela qual tornou-se tão fundamental para a história do século XX quanto a Revolução Francesa de 1789 para o século XIX. E agora, cem anos depois, ainda é possível identificar nesse processo revolucionário lutas que ainda lutamos: contra a exploração e em defesa da igualdade e da justiça social.

Neste 2017 em que tantos desafios já se anunciam para a educação e a classe trabalhadora, marcar o centenário da Revolução Russa e das diversas revoluções — políticas, sociais, artísticas, culturais — derivadas dela é propício para refletirmos sobre o que mudou — ou não — desde então. Quais os avanços? Quais as dificuldades? Que face o espelho da história nos mostra num momento em que a sociedade atual, no mundo inteiro, passa novamente por um início de século de radicais embates e transformações?

A Contee se propôs a isso desde o início deste ano, quando lançamos uma agenda inteiramente dedicada ao centenário desse acontecimento, lembrando poemas de Vladimir Maiakóvski e imagens do artista gráfico El Lissitzky. Prestou homenagem mais uma vez no dia 25 de outubro, data que marca o centenário, no calendário gregoriano, com a matéria “Revolução Russa, 100 anos de um acontecimento extraordinário”. E faz isso mais uma vez hoje, neste 7 de novembro, data da comemoração pelo calendário russo — só mesmo um acontecimento bastante extraordinário para ter a honra de comemorar cem anos duas vezes.

Se 2017 tem sido um ano tão difícil no Brasil para os trabalhadores e trabalhadoras, em que direitos seguem sendo mutilados e golpes seguem sendo desferidos contra conquistas sociais, que a Revolução de 1917 siga servindo de inspiração para a luta por dias melhores e para que não percamos a esperança de batalhar pela construção de uma sociedade mais justa.

Alan Francisco de Carvalho — Coordenador da Secretaria de Comunicação Social da Contee

Táscia Souza — Jornalista da Contee

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