‘Trump é sintoma do capitalismo’, afirma Claudia de la Cruz no evento ‘Dilemas da Humanidade’
Ex-candidata à Presidência dos EUA destacou que crise econômica decorre do sistema capitalista como um todo, sendo necessária 'solidariedade internacional'

Começou na noite desta segunda-feira (07/04) a conferência ‘Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social’, que reúne mais de 70 personalidades de relevância social em âmbito global, incluindo intelectuais, líderes políticos e movimentos sociais. A abertura da quarta edição do evento foi realizada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), contando com a presença do deputado estadual Eduardo Suplicy, da ex-candidata à Presidência dos EUA em 2024 pelo Partido Socialismo e Libertação, Claudia de la Cruz, e o historiador indiano Vijay Prashad.
Atualmente diretora executiva do International Foundation for Community Organizing (IFCO), de la Cruz considerou que Trump “não é a doença, mas sim um sintoma”, ao explicar que a crise deflagrada no mundo deriva do sistema capitalista como um todo.
Em sua exposição, a ex-candidata enfatizou que o espaço fornecido pela conferência no Brasil possibilita “dar uma nova energia” para a sociedade e construir uma solidariedade internacional, sendo nesse sentido, importante contextualizar, em um primeiro momento, o cenário sócio-político dos EUA.
Contra Trump
De la Cruz destacou que a maioria da população norte-americana não sustenta uma posição favorável ao magnata quando mencionou que 58% dos civis, inclusive, não se simpatizam com o capitalismo. Nesse âmbito, a gestão Trump é uma consequência, ou seja, “resultado de um sistema econômico e político que é inequivocamente antidemocrático, brutal e cruel”.
“Estou aqui para compartilhar que há um mundo inteiro de pessoas nos Estados Unidos que entende que nossa subsistência e sobrevivência estão ligadas à guerra internacional. E está comprometido em promover conversas e planos de construção para uma sociedade melhor”, enfatizou.
Nessa mesma linha, citou, em seguida, a luta estudantil norte-americana contra ogenocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza, sob financiamento da Casa Branca, que tem repercutido internacionalmente.
“As mesmas pessoas que atacam a classe trabalhadora todos os dias são as mesmas que estão financiando os bombardeios e a matança de bebês na Palestina. Esses jovens se mantiveram firmes na tomada de suas universidades. Esses jovens se mantiveram firmes na repressão policial”, afirmou. “O povo dos EUA chegou à conclusão de que os inimigos estão no Pentágono, na Casa Branca e no Congresso”.
Crise econômica
“Não podemos esperar que os Estados Unidos sejam o mercado para todos. Temos que construir nossos próprios. Na verdade, talvez, no final, Donald Trump esteja fazendo um favor ao mundo”, afirmou o historiador e diretor executivo do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, Vijay Prashad, em fala a Opera Mundi, uma vez que o magnata tem demonstrado explicitamente “seus interesses à frente dos interesses do mundo”.
“Têm vidas que são tratadas como preciosas e outras que são descartáveis. Você pode matar um milhão de pessoas no Iraque e ninguém se lembra delas. Você mata uma pessoa na Europa e ela fica furiosa. Nós realmente não sabemos qual é a fórmula matemática. Uma vida branca contra quantas vidas pardas e negras? Um israelense é morto, eles têm que matar 10 mil palestinos. É essa a fórmula?”, perguntou Prashad. “Esta é uma ‘divisão internacional da humanidade’” acrescentou, afirmando que a maneira como o mundo entende, hoje em dia, a economia é por meio dessa mesma “divisão internacional da humanidade”.
Ao abordar as nuances da crise econômica, o diretor do Instituto Tricontinental exemplificou que, em 2019, antes mesmo da eclosão da pandemia de covid-19, dados mundiais já indicavam um declínio profundo no número de pessoas que haviam saído da fome, além de um aumento nas taxas da pobreza, sendo a única exceção daquele período a China.
“O socialismo é necessário. O capitalismo falhou. Desculpem-me por ser direto. Mas o liberalismo teve seu tempo. E o novo liberalismo teve 30-40 anos para destruir o mundo. Não é mais sobre como vamos brincar com o liberalismo. Para nós, o socialismo é o único caminho a seguir”, disse.
Renda básica universal
Após o evento, em fala a Opera Mundi, o deputado estadual Suplicy ressaltou a importância do evento Dilemas da Humanidade e, com ele, “maior qualidade de vida e justiça”. O político aproveitou para abordar o Brasil e mencionar um de seus projetos de lei já aprovado e sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a renda básica universal, sendo ela uma ferramenta para combater a desigualdade social.
“É direito de todas as pessoas, não importa a sua origem, raça, sexo, idade, condição civil e socioeconômica, de participarmos da riqueza comum de nossa nação através de uma renda que será paga a toda a população residente aqui, inclusive os estrangeiros”, explicou Suplicy. “A renda básica será instituída por etapas a critério do poder executivo, começando pelos mais necessitados”.
Dilemas da Humanidade
Diversas personalidades internacionais, entre intelectuais, líderes políticos e membros de movimentos sociais, em sua maioria do Sul Global, se reúnem no Brasil para participar da Conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social.
A quarta edição do evento ocorre em São Paulo, de 8 a 10 de abril, e tem como objetivo a troca de experiências globais para a construção de políticas que superem a lógica do capital e do imperialismo.