Castro Alves: 150 anos de lição e atualidade
O nome de Antônio Frederico de Castro Alves já apareceu algumas vezes aqui no Portal da Contee, geralmente evocado pelo consultor jurídico da Confederação, José Geraldo de Santana Oliveira em seus artigos, com uma citação pertinente que o escritor romântico nos legou. Não apenas pertinente, aliás, mas de extrema atualidade, como se o “poeta dos escravos”, como ficou conhecido, morto há exatos 150 anos que se completam neste 6 de julho de 2021, tivesse escrito para e sobre hoje.
De O Navio Negreiro, os versos mais famosos são:
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus…”.
Já de Vozes d’África nos chega o grito:
“Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais… irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão”.
Há poucos dias, o ator e dramaturgo Rafael Coutinho, formado em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), assim definiu, num vídeo bem humorado, o Romantismo no Brasil:
“1ª fase: ‘Vou criar a literatura nacional: vem, gatinho, você vai ser o herói.’
2ª fase: ‘Bem, gente, vou criar uma literatura do meu quarto mesmo, uma coisa mais íntima sobre o meu sofrimento, a vida ruim…’
3ª fase: ‘Mas as outras pessoas também sofrem! E se eu desse voz a elas?’’’.
Castro Alves pertenceu justamente à terceira geração, ou geração condoreira, marcada pela temática social e a defesa de ideias igualitárias e cujas obras expressavam indignação e protesto em relação aos problemas sociais da época, principalmente quanto à crueldade da escravidão. Falecido em 1871, Castro Alves não viu a abolição da escravatura, mas talvez nem nós a tenhamos visto, mesmo um século e meio após sua morte, tantos são os horrores perante os céus representados pelo racismo e por tantas formas de escravização moderna a que os trabalhadores brasileiros têm sido submetidos.
No entanto, a lição que a passagem da segunda para a terceira geração romântica nos ensina é aquela do salto do sofrimento individual para a luta coletiva. Em tempos de pandemia e ataques às organizações coletivas, esse é um grande desafio. E esta — a unidade de forças na luta — continua tão imprescindível quanto há 150 anos. Não exatamente no sentido de “dar voz”, mas de apurar a audição para escutar as vozes que historicamente não são ouvidas e preparar a garganta para bradar junto com elas.
Por Táscia Souza