No G20, Haddad defende taxação global dos super-ricos
“Precisamos fazer com que os bilionários do mundo paguem sua justa contribuição em impostos”, disse Fernando Haddad na abertura da reunião de ministros de Finanças do G20
Por Tiago Pereira, da RBA
São Paulo – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs nessa quarta-feira (28) um esforço global para a taxação dos super-ricos. Em discurso de abertura na Reunião de Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais da Trilha de Finanças do G20, em São Paulo, o ministro abordou a “crise da globalização”. E defendeu o combate à desigualdade e às mudanças climáticas como prioridades. Ele participou de maneira virtual, após diagnóstico positivo para a covid-19.
Para Haddad, a tributação progressiva é um tema central para a construção de um mundo mais justo. “Reconhecendo os avanços obtidos na última década, precisamos admitir que ainda precisamos fazer com que os bilionários do mundo paguem sua justa contribuição em impostos”, afirmou.
Nesse sentido, afirmou que o legado das últimas três décadas de globalização “não é simples”. Nesse período, milhões de pessoas saíram da pobreza, principalmente na Ásia. Ao mesmo tempo, houve “substancial aumento” das desigualdades de renda e riqueza em diversos outros países.
“Chegamos a uma situação insustentável, em que os 1% mais ricos detém 43% dos ativos financeiros mundiais e emitem a mesma quantidade de carbono que os dois terços mais pobres da humanidade”, ressaltou.
Nova globalização
Conforme o ministro, a atual reação contra a globalização é consequência da liberalização dos mercados e da flexibilização das leis trabalhistas. Segundo ele, esse modelo vigorou até 2008, quando eclodiu a crise no sistema financeiro.
“Enquanto a hiper-financeirização prosseguiu em ritmo acelerado, um complexo sistema offshore foi estruturado para oferecer formas cada vez mais elaboradas de evasão tributária aos super-ricos”, disse Haddad. Em um mundo em que trabalho e capital são cada vez mais móveis, a pobreza e a desigualdade se tornaram desafios globais. Assim, eventual fracasso diante desses desafios levaria à ampliação das “crises humanitárias e imigratórias”.
Desse modo, afirmou que “não há ganhadores” na atual crise da globalização, “embora os países mais pobres paguem um preço proporcionalmente mais alto”. Por outro lado, disse que seria uma “ilusão pensar que países ricos podem dar as costas para o mundo e focar apenas em soluções nacionais”.
E destacou as duas forças-tarefa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs, à frente do bloco, para atacar esses desafios: a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global Contra a Mudança do Clima. “Precisamos entender a mudança climática e a pobreza como desafios verdadeiramente globais, a serem enfrentados por meio de uma nova globalização sócio-ambiental”.