Malba Tahan e seu incrível Homem que calculava
Neste 6 de maio, Dia da Matemática, Contee lembra a história da “… obra que ficará a salvo das vassouradas do tempo como a melhor expressão do binômio ‘ciência-imaginação’” (segundo Monteiro Lobato*)
“O Homem que calculava: aventuras de um singular calculista persa” é um livro de Matemática recreativa e um romance infanto-juvenil do fictício escritor Malba Tahan, que narra as aventuras e proezas matemáticas do calculista persa Beremiz Samir (o protagonista da história, um calculista persa conhecido como O Homem que Calculava) na Bagdá do século XIII. Foi publicado pela primeira vez em 1938, tendo já chegado a sua 100ª edição, que possibilita ao público experienciar uma matemática mais viva e menos abstrata.
Malba Tahan (crente de Allah e de seu santo profeta Maomé) é um “famoso escritor árabe”, que nasceu na Península Arábica, em uma aldeia conhecida como Muzalit, próxima do centro islâmico dos muçulmanos, a cidade de Meca, em 6 de maio de 1885.
Ainda muito jovem, ele foi convidado pelo emir Abd el-Azziz ben Ibrahim a ocupar o posto de queimaçã, ou seja, prefeito, de Deir el-Medina, município da Arábia. Exerceu seu cargo, ou melhor, suas funções administrativas com inteligência e habilidade. Conseguiu também poupar incidentes entre peregrinos e autoridades locais e buscou dar amparo aos estrangeiros que visitavam os lugares sagrados do Islã.
Malba seguiu seus estudos por Cairo (Egito) e Istambul (Turquia) até receber uma vultosa herança de seu pai e resolver viajar pelo mundo, passando pela China, Japão, Rússia e Índia, onde teria observado e aprendido os costumes e lendas desses povos. Teria estado, por um tempo, vivendo no Brasil. Em 1921, lutou pela liberdade de uma minoria da região da Arábia Central.
Seus livros teriam sido escritos originalmente em árabe e traduzidos para o português pelo também fictício professor Breno Alencar Bianco*
Ali Iezid Izz-Edim ibn Salim Hank Malba Tahan, ou simplesmente Malba Tahan (crente de Alá e de seu santo profeta Maomé) é o pseudônimo do escritor brasileiro Júlio César de Melo e Sousa.
Quando Júlio César de Melo e Sousa criou o pseudônimo Malba Tahan, não queria apenas criar um pseudônimo, mas fazer com que ele parecesse real, como se houvesse realmente existido uma pessoa com esse nome, uma mistificação literária. Passou então a estudar a cultura e a língua árabes durante 7 anos (1918-1925), para que pudesse inventar a biografia de Malba Tahan e para que seus contos árabes fossem convincentes em termos de estilo, linguagem e ambientação.
Logo da primeira página do primeiro livro escrito como Malba Tahan, “Contos de Malba Tahan”, aparece a ilustração de um árabe (de turbante e longas barbas brancas) escrevendo.
Assim, durante muitos anos, o público acreditou que Malba Tahan fosse esse árabe de longas barbas brancas e turbante. Júlio Cesar e Malba Tahan passaram a ser então duas pessoas diferentes, havendo aí uma fusão entre o real e o fictício. Por esse motivo, Júlio César de Melo e Sousa foi autorizado pelo presidente Getúlio Vargas a utilizar livremente o nome Malba Tahan, e esse nome é acrescentado em sua carteira de identidade.
O personagem
Julio César criou o “famoso escritor árabe” Malba Tahan por acreditar que um escritor brasileiro não chamaria atenção escrevendo contos árabes. Para dar mais verossimilhança à história, criou também um tradutor para os livros, o professor Breno Alencar Bianco.
Malba Tahan significa “O Moleiro de Malba”, sendo Malba a denominação de um povoado ao sul da Arábia, e “Tahan” significa moleiro, aquele que prepara o trigo. A palavra Tahan foi tirada do sobrenome de uma de suas alunas (Maria Zachsuk Tahan).
Em entrevista concedida a Silveira Peixoto e a Monteiro Lobato e descrita no Terceiro Volume da obra “Falam os Escritores”[3] em 1941, Melo e Sousa narra o nascimento de Malba Tahan:
“O caminho, então, seria tratar de escrever com um pseudônimo estrangeiro. Pensei mais sobre o caso. Qual o pseudônimo a adotar? Deveria ser um que tivesse todo cunho de realidade. Americano? Mas não. Queria um pseudônimo que se conformasse bem com o caráter dos trabalhos que pretendia escrever… Seria um árabe. —Por quê? — O árabe é homem que faz poesia a propósito de tudo. Suas atitudes sempre são romanescas. Não compreende a vida sem a poesia. Mas o pseudônimo não deveria ser nem masculino e nem feminino. Teria de ser sonoro. Teria de dar a necessária impressão de perfeita autenticidade. Na Escola Normal, havia uma aluna com um sobrenome interessante: ‘Maria Tahan’. Simpatizei-me com esse ‘Tahan’. Perguntei-lhe que queria dizer. ‘Moleiro’ — respondeu-me ela. Fui, dias depois, descobrir num mapa da Arábia, o nome de uma cidade — Malba, aldeia perdida na Arábia Pétrea … E nasceu Malba Tahan … Que, como vê, pode ser traduzido por ‘moleiro de Malba’. Comecei, então, a estudar a civilização árabe. Li Gustave Le Bon, comprei o Alcorão, numa edição comentada, percorri as obras de Almaçudi. Tomei um professor de árabe: o dr. Jean Achar. Tempos depois, quando já havia me enfronhado nas coisas do Oriente, procurei Irineu Marinho, a esse tempo um dos diretores de A Noite. Apresentei-lhe uns trabalhos de Malba Tahan. Disse-lhe que se tratava de um escritor árabe; acentuei que eu apenas havia traduzido alguns de seus trabalhos”.
Registro e comentário de uma peça de teatro da obra e sobre seu autor:
animação:
*em https://pt.wikipedia.org/wiki/Malba_Tahan;
*outro pseudônimo de Júlio César de Melo e Sousa em https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Homem_que_Calculava;
*** Esta nota/homenagem à matemática foi escrita com trechos dos artigos da Wikipedia —Enciclopédia Livre