Sinpro Minas: Opinião – Carta a uma grande amiga
Antonieta Shirlene*
Querida, espero encontrá-la em ótima saúde, em paz e feliz.
Por aqui, não podemos dizer o mesmo. Aliás, como já dizia na música de Chico Buarque:
“Aqui na terra estão jogando futebol / tem muito samba, muito choro e rock and roll / um dia chove noutros dias bate sol /mas o que eu quero é lhe dizer / que a coisa aqui tá preta”.
Ganhamos a eleição de 2022, mas a extrema direita avança sem fé nem piedade. E ainda se dizem cristãos.
São tantos ataques à democracia, aos direitos mais básicos da humanidade, que acordo todo dia pensando: qual será a luta a ser travada hoje?
Será contra o PL 1904/24 – o PL do estupro -, por meio do qual querem criminalizar não o estuprador, mas as meninas e mulheres estupradas? Um horror! Um retrocesso ao século XVIII.
Ah! Ainda tem a Lei 14611, que estabelece igualdade salarial entre homens e mulheres. Ela foi criada com o intuito de corrigir as lacunas salariais, corrigir as disparidades baseadas em gênero e proporcionar maior segurança às mulheres. Nós, os humanistas, estamos tendo que empreender uma luta pelo óbvio.
Outro absurdo: a PEC 3/22.
Pasme, amiga!
Esta PEC flexibiliza a aquisição e venda das áreas da Marinha e permite a privatização das praias no Brasil. Além de vender pedaço a pedaço do nosso país, privatizar as praias é tirar do povo o pleno direito de usufruir desses espaços e de outros ambientes públicos. Tudo isso para satisfazer os interesses de uma elite que já tem todos os privilégios neste nosso país.
Por aqui, também estamos fazendo uma luta constante em relação ao genocídio praticado por Israel contra os povos palestinos.
Já são meses e meses em que, principalmente, mulheres e crianças estão sendo sistematicamente assassinadas pelo governo israelense.
Neste movimento, somamo-nos às milhares de vozes pelo mundo afora, que também gritam contra o massacre de palestinos e palestinas.
Ainda em 2023, fiz um pequeno poema sobre este massacre. Vou te mandar e espero que goste.
Entre bombas
(Às milhares de mães palestinas)
Não consigo falar de amor
De estrelas, tão pouco
No céu só vejo clarões de bombas
Que caem ali, lá, perto
Aqui? Quando?
Pois eu sei. Elas cairão!
Até quando poderei abraçar meu filho querido?
Meu pai, minha mãe, todos já estão mortos.
E nós aqui! Entre bombas!
7.11.23
Bem, como você percebeu, eu poderia ainda descrever vários e vários retrocessos aos quais estamos vivendo por aqui.
Entretanto, gosto muito deste poema de Mia Couto, que transcrevo pra você, desejando que nos encontremos em breve.
— Dói-te alguma coisa?
— Dói-me a vida, doutor.
— E o que fazes quando te assaltam essas dores?
— O que melhor sei fazer, excelência.
— E o que é?
— É sonhar.
(Mia Couto)
Abraços!
*Antonieta Shirlene é professora de História e diretora do Sinpro Minas em Belo Horizonte