Quando vamos ecoar o verdadeiro grito de liberdade?
Neste Sete de Setembro, o Brasil completa 202 anos que D. Pedro 1º proclamou o Grito de Independência, mas será mesmo que a conquistamos?
A história mostra que a caminhada em busca da liberdade prometida em 1822 continua. De lá pra cá, o cenário de opressão não deixou de se fazer presente. O Brasil se descolonizou de Portugal, mas não se desvinculou das práticas colonizadoras.
Como disse o ativista luso-senegalês, Mamadou Baila, durante Congresso Internacional de Estudos Afrodiaspóricos, promovido pelo Serviço Social do Comércio (SESC/RJ), nesta quinta (5), “não há independência em mundo racista”, me atrevo a acrescentar:
Não há independência em mundo dominado pelo capital, que oprime a classe trabalhadora, retira direitos. Não há independência em mundo ocupado por patrões que submetem trabalhadores à condição análoga à escravidão. Não há independência em mundo que prega a uberização e a pejotização. Não há independência em mundo ameaçado pelo conservadorismo, pelo fascismo e as forças de extrema direita. O Brasil faz parte desse mundo. O povo negro, escravizado neste país, tem ainda mais propriedade para confirmar essa realidade repugnante.
A escravidão, o período da ditadura militar, a plataformização do trabalho, são páginas infelizes da nossa história que comprovam a colonialidade. Ainda não superamos o sistema colonial. É visível a lógica de poder e dominação enraizada no contexto nacional. De um lado, os donos dos grandes conglomerados, das empresas, com lucros vultosos; do outro, trabalhadores precarizados, injustiçados e censurados, recebendo migalhas. O cenário é de total desrespeito à dignidade da pessoa humana.
É preciso “lembrar para não esquecer”. Esse exercício é fundamental para construir novos caminhos, no intuito de fazer ecoar o verdadeiro Grito de Liberdade. Por isso é muito importante revisitar o passado para entender o presente, fazer as conexões críticas necessárias, e projetar o futuro.
FILME “AINDA ESTOU AQUI”
Este fim de semana é uma boa oportunidade para pesquisar sobre o filme “AINDA ESTOU AQUI” e conhecer o livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva que inspirou o longa.
O filme do diretor Walter Salles foi ovacionado pelo público durante 10 minutos, no Festival Internacional de Cinema de Veneza, no último domingo (1) e estreará em breve no cinema.
A trama conta a história de Eunice Paiva, advogada, mãe de Marcelo, que se tornou ativista política após o sequestro do seu marido pela ditadura militar brasileira, o político Rubens Paiva. Ela passou 40 anos procurando a verdade sobre seu esposo desaparecido. Rubens é interpretado por Selton Mello. Fernanda Torres e Fernanda Montenegro interpretam Eunice em diferentes idades.
Paiva foi torturado e assassinado num quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971. Seu corpo foi várias vezes enterrado e desenterrado pelos agentes da repressão e seus restos mortais lançados ao mar na costa do Rio, em 1973.
MAIS DICAS CULTURAIS
TRILOGIA 1808, 1822 E 1889 DE LAURENTINO GOMES – um bom ponto de partida para compreender a história do Brasil. Trata-se de uma narrativa envolvente e de uma pesquisa detalhada, oferecendo uma visão profunda e acessível dos eventos que delinearam o Brasil moderno.
O primeiro volume – 1808 – aborda o período que a família real portuguesa se mudou para o Brasil devido à invasão napoleônica em Portugal. Com a chegada da corte ao Rio de Janeiro, o país passa a ser o centro do Império Português e experimenta profundas mudanças sociais, políticas e econômicas.
O segundo volume – 1822 – discorre sobre o processo de independência do Brasil, destacando a figura de Dom Pedro I e os acontecimentos que levaram à separação do Brasil de Portugal. A obra evidencia as tensões políticas e sociais que antecederam a declaração de independência em 7 de setembro de 1822, as batalhas internas e externas, entre outros aspectos.
O terceiro volume -1889 – encerra a trilogia ao narrar o fim da monarquia e a Proclamação da República. A obra esmiuça o contexto político e social que levou ao golpe militar que depôs Dom Pedro II e instaurou a República em 15 de novembro de 1889. O livro analisa as razões por trás da queda da monarquia, as mudanças que a República trouxe para o Brasil e as consequências desse período de transição para a formação da identidade nacional brasileira.
TRILOGIA ESCRAVIDÃO DE LAURENTINO GOMES – é uma obra monumental que detalha diferentes nuances da escravidão, desde a chegada dos primeiros africanos até a “abolição”, que na verdade ainda não aconteceu de fato. A escravidão ganhou novas roupagens.
O primeiro volume cobre o início da escravidão no Brasil, começando com a chegada dos portugueses em 1500 e a implantação do sistema escravagista no território. Gomes detalha a captura e o transporte de africanos para o Brasil, as condições desumanas dos navios negreiros e os primeiros anos da colonização, além das interações e conflitos entre colonizadores e indígenas.
O segundo volume traduz o período de expansão do Brasil colonial e o crescimento da economia baseada na produção de açúcar e, posteriormente, café. Gomes retrata o desenvolvimento das plantações, a intensificação do tráfico de escravos e a resistência dos escravizados, bem como as primeiras movimentações em direção à abolição.
O último volume enfatiza a “reta final do ciclo escravagista no Brasil”, explorando os movimentos abolicionistas, as pressões internas e externas pela abolição, e as complexas negociações políticas que levaram à Lei Áurea de 1888. Também examina as consequências da abolição para a sociedade brasileira e os desafios enfrentados pelos ex-escravizados na nova ordem social.
PRIVILÉGIO DA SERVIDÃO DE RICARDO ANTUNES
A obra reflete sobre o mundo do trabalho em tempos de IA, reforma trabalhista, uberização, pejotização e plataformas digitais, esclarecendo de forma crítica como as consequências dessas transformações vem afetando a classe trabalhadora.
O conhecimento alarga os horizontes e é capaz de fazer “raiar o Sol da Liberdade”. Boa leitura!
Por Romênia Mariani