Valéria Morato na Secretaria de Movimentos Sociais e Sindicais da Contee: “Conferência Nacional do Trabalho e agenda legislativa são prioridades”

Do chão da escola à Secretaria de Movimentos Sociais e Sindicais da Contee, Valéria Morato construiu uma trajetória marcada pela experiência docente, pela militância incansável em defesa da categoria e pelo compromisso com a educação pública e os trabalhadores.

Mineira de Divinópolis, começou a dar aulas aos 18 anos na rede pública estadual, como contratada. Essa experiência, marcada pela instabilidade e pela ausência de direitos, despertou nela a consciência de que era preciso lutar pela valorização docente. Mais tarde, atuou também na rede municipal de Divinópolis e na rede privada, inicialmente como estagiária. Após seis meses, assumiu sua primeira sala de aula, conciliando a docência pública e privada.

O convite do então secretário de Educação do município, Edson de Paula — que também integrava a Contee e o Sinpro — aproximou-a do movimento sindical. O contato com dirigentes e a participação nas primeiras mobilizações abriram caminho para que assumisse responsabilidades crescentes no sindicato em Divinópolis, chegando a coordenar uma regional e ampliar a visibilidade da entidade.

Paralelamente, ocupou diferentes espaços institucionais e de representação: presidiu o Conselho da Mulher em Divinópolis, foi vice-presidente do Conselho Municipal de Educação e exerceu por seis anos a função de secretária adjunta de Educação. Nesse período, contribuiu para políticas estruturantes, como o Plano Municipal de Educação e o Plano de Carreira dos professores e professoras (2009 e 2010), garantindo isonomia salarial por formação e tempo de serviço, além do piso salarial — marcos da valorização docente no município.

Com mais de duas décadas de atuação sindical, Valéria Morato mantém o olhar voltado ao chão da escola e à garantia dos direitos trabalhistas. No Sinpro-MG, foi vice-presidenta e atualmente preside a entidade, consolidando-se como liderança de referência. Também está à frente da CTB-MG, em seu terceiro mandato. Em agosto, foi reeleita vice-presidenta da CTB Nacional e, em julho, eleita coordenadora da Secretaria de Relações com os Movimentos Sociais e Sindicais da Contee.

À frente da Secretaria de Movimentos Sociais da Contee

Assumir a Secretaria de Movimentos Sociais e Sindicais da Contee representa, para Valéria, um compromisso coletivo de grande responsabilidade e satisfação, devido à afinidade com a pauta. “Se fosse, por exemplo, a secretaria jurídica, eu teria que mergulhar em outro cenário. Já os movimentos sociais e sindicais fazem parte da minha prática cotidiana. Acompanhar legislação, dialogar com movimentos sociais, sindicatos e centrais é o meu dia a dia”, explica.

Entre as responsabilidades da secretaria, Valéria destaca duas frentes principais: a organização da Conferência Nacional do Trabalho e a articulação de uma agenda legislativa voltada aos interesses dos trabalhadores. “Nos cabe fazer com que o Parlamento vote com os trabalhadores e trabalhadoras, e não contra eles. Esse é o compromisso que assumimos com a Contee e com a nossa categoria.”

Plano de ação da Secretaria

A secretaria adotou um planejamento por ciclos, para que os planos não se percam ao longo de quatro anos. A prioridade imediata é concentrar esforços na agenda parlamentar e na construção da Conferência Nacional do Trabalho. “Até o ano que vem, estaremos focados no diálogo com deputados, acompanhando votações e articulando a Conferência. Esse é o foco central, porque sabemos que 2026 será um ano de muita disputa, e essa disputa precisa se dar a partir da pauta construída na conferência.”

O texto final da Conferência servirá de base para pressionar parlamentares. “Precisaremos cobrar compromisso de deputados e projetos políticos que se comprometam com o que realmente interessa aos trabalhadores e às trabalhadoras.”

Valéria reforça que a agenda parlamentar e a conferência são estratégicas para toda a Contee. “Para que a Secretaria de Assuntos Educacionais, por exemplo, consiga garantir a continuidade do Fórum Nacional de Educação, será preciso que tenhamos um programa progressista eleito, que reconheça a participação popular. Não podemos permitir retrocessos como os sofridos durante os quatro anos do governo Bolsonaro, quando o Fórum foi desativado e os espaços de diálogo desmontados.”

Além de Valéria, compõem a Coordenação: Thelma Patrícia de Moraes Santos (Sinpro-MG e comunicação da CTB Minas), Rodrigo Rodrigues Ferreira (Sinpro-MG e Secretaria de Formação da CTB Minas) e Juleide Almeida Corrêa (Sinproeste Chapecó e CTB-SC).

II Conferência Nacional do Trabalho

Construída em conjunto com o Ministério do Trabalho e Emprego, a Conferência Nacional do Trabalho tem composição tripartite — representantes governamentais, trabalhadores e empregadores — e será realizada em etapas estaduais e distritais de 15 de setembro a 12 de dezembro de 2025, com a etapa nacional prevista para março de 2026.

A organização é conduzida pela Comissão Organizadora Nacional (CON), formada pelo MTE, pelas centrais sindicais e pelas confederações patronais. As etapas estaduais e distritais ficam a cargo das Comissões Organizadoras Estaduais/Distritais (COE), compostas pelas Superintendências do MTE, órgãos estaduais equivalentes e representantes de trabalhadores e empregadores.

Em Minas Gerais, foram definidas 16 conferências distritais que alimentarão a estadual em novembro e, posteriormente, a nacional. Para Valéria, o processo é um espaço fundamental de mobilização e formação política. “Nosso ganho é o debate. Precisamos dialogar e mostrar aos trabalhadores a importância da luta por direitos. Nada cai do céu — direitos se conquistam com luta.”

Ela alerta: “Se os trabalhadores não ocuparem os espaços, outros ocuparão. Precisamos garantir nossa participação efetiva, levando propostas que atendam aos interesses da classe trabalhadora. A mobilização precisa acontecer em todos os estados, e nossa secretaria dará subsídios aos sindicatos nessa importante tarefa.”

Agenda legislativa e atuação no Congresso

Valéria Morato reconhece as dificuldades diante da atual composição do Congresso Nacional, onde os trabalhadores contam com uma base restrita de apoio. “Temos, no máximo, 108 votos, e isso não aprova nada. Por isso, nossa tarefa é ainda mais importante e urgente: precisamos dialogar com parlamentares de todos os estados, mesmo aqueles que não são do nosso campo, e convencê-los da importância dessas pautas para o conjunto da classe trabalhadora”, explica.

A dirigente lembra da experiência de 2018, quando as centrais sindicais conseguiram pressionar parlamentares a partir do lema ‘se votar, não volta’. “O recado era claro: votar contra os trabalhadores significava não voltar em 2018 — e agora significa não voltar em 2026. Vamos apoiar e reconhecer aqueles que estiverem conosco e denunciar os que votarem contra. Esse é o nosso trabalho.”

Para dar concretude a essa estratégia, Valéria cita o apoio técnico de entidades como o Dieese e o Diap, que elaboraram perfis detalhados dos parlamentares por estado. “Nosso papel na Contee é oferecer subsídios para que os sindicatos da educação abordem os parlamentares em suas bases, pressionando para que votem a favor dos trabalhadores e trabalhadoras.”

Com essa articulação nacional, a expectativa de Valéria é de conquistar avanços significativos, mesmo diante de um cenário adverso. “Não falo em sucesso total, mas acredito que alcançaremos um número considerável de parlamentares. O fundamental é não abrir mão da luta.”

Mobilização em minas pelo Plebiscito Popular

Em Minas Gerais, Valéria Morato relata que a Contee e os sindicatos têm buscado formas criativas e diretas de dialogar com a população sobre o plebiscito popular e suas pautas centrais, como a redução da jornada de trabalho. “Nós temos colocado barracas em pontos estratégicos da cidade, como em frente ao pronto-atendimento, nas praças mais movimentadas e também nas portas das escolas”, elucida.

A iniciativa busca aproximar o debate da vida cotidiana das pessoas. “Colocamos um banner escrito ‘Venha tomar um café conosco’, oferecemos um cafezinho com biscoito e conversamos com a população, explicando o que é o plebiscito e a importância de votar. Assim, conseguimos dialogar sobre como a redução da jornada impacta diretamente a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras”, afirma.

Segundo Valéria, essa experiência tem inspirado outros sindicatos em diferentes estados a promover ações semelhantes, adaptadas às suas realidades locais. “A ideia é que cada entidade encontre formas de dialogar com os trabalhadores em seus territórios, seja com barracas, panfletagens ou outras atividades. O fundamental é levar a discussão para as ruas e construir consciência coletiva em torno das pautas que nos afetam diretamente.”

Cenário político e desafios para a educação

Valéria Morato analisa o cenário político brasileiro com base nas consequências de diferentes governos sobre a educação e os direitos trabalhistas. “O golpe contra a presidenta Dilma não foi apenas misógino ou machista, mas também um golpe do capital. Aproveitou-se de fragilidades de gênero numa sociedade patriarcal para derrubar uma presidenta que enfrentava o capital e não fazia conchavos. Até hoje sofremos as consequências disso”, explica.

Ela destaca os impactos negativos da gestão Bolsonaro, mas também lembra que os retrocessos começaram antes, no governo Temer. “Foram anos difíceis, e mesmo com a eleição de Lula, que traz uma agenda progressista, ainda precisamos de fôlego para implementar reformas estruturais na educação. Se alguém tentar destruir avanços, temos que garantir que eles estejam consolidados na estrutura, para que não haja retrocessos.”

Para Valéria, a eleição de 2026 será decisiva. “É fundamental eleger representantes comprometidos com os direitos dos trabalhadores e com a educação. Nossa tarefa é construir um trabalho sólido, devolvendo à sociedade o que foi retirado e garantindo avanços estruturais para o segmento educacional.”

A dirigente ressalta que, apesar dos desafios, há esperança e determinação para avançar: “Nos últimos dois anos e meio, já conseguimos respirar e implementar várias ações na área da educação e em outros setores, mas ainda temos muito a fazer. O objetivo é seguir lutando para fazer diferente e consolidar conquistas.”

Justiça Social é o que queremos

No encerramento, Valéria Morato deixa uma mensagem de otimismo e valorização da luta coletiva: “Em 2022, nós enfrentamos um gigante que tinha toda a máquina nas mãos. Não era apenas um gigante político, mas alguém que usava essa estrutura para atacar o Estado Democrático de Direito e priorizar interesses individuais. Ainda assim, conseguimos, com a luta coletiva, vencer esses gigantes, mesmo sendo aparentemente pequenos. Isso mostra que, quando estamos juntos, a classe trabalhadora consegue avançar.”

Ela reforça a importância de lutar por um país democrático e inclusivo: “Nos interessa um país que seja para todos e todas, com saúde e educação de qualidade. Isso não é chavão. É garantir direito a remédio, à internação, a tratamento, e a uma escola democrática e inclusiva. Tudo isso se faz com um governo popular, que compartilhe esses anseios e desejos da sociedade.”

“Nós, juntos, podemos. Já fizemos, continuaremos fazendo e seguiremos lutando pelo que é justo para todos”, finaliza.

Por Romênia Mariani

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