Do campo à Palestina: crianças do MST debatem o direito à terra e a paz global
Encontro nacional ressignifica o mês das crianças e reafirma pequenos e pequenas como protagonistas da luta por justiça
Após uma semana de intensas atividades em todo o Brasil, termina neste domingo (12) a Jornada das Crianças Sem Terrinha, evento anual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A edição de 2025 teve foco em temáticas que, na maior parte das vezes, são vistas como assunto de adulto, mas que impactam diretamente no futuro dos jovens cidadãos e cidadãs do planeta.
Com o lema “Sem Terrinha em ação: defender a natureza é defender o nosso chão”, o encontro garantiu voz e protagonismo da infância do MST no debate sobre a crise climática, agroecologia e à solidariedade à Palestina.
O encerramento no dia das crianças não é uma coincidência. A jornada subverte o foco no consumismo e celebra a cidadania na infância. Em entrevista ao Brasil de Fato, Janaína Rezende, do setor de educação do MST, enfatizou o objetivo de dar visibilidade à participação das crianças na luta e garantir espaços de formação política e pedagógica.
“A jornada sem terrinha é sempre um momento muito emocionante, que envolve e sensibiliza o conjunto do movimento” afirmou ela. “Neste ano, trouxemos a defesa da natureza e a defesa do nosso chão, porque entendemos que o problema ambiental tem uma dimensão internacional, mas se inicia no chão que pisamos.”
A programação envolveu estudos sobre os biomas, oficinas, brincadeiras e discussões sobre os impactos do modelo do agronegócio. A Reforma Agrária Popularcomo um contraponto necessário para enfrentamento da crise climática no Brasil permeou todo o encontro.
“Entendendo que a educação ambiental não é só economizar água enquanto se escova os dentes, mas é identificar o agronegócio enquanto o maior responsável pelos impactos ambientais, pelo desmatamento e pelas consequências disso, como as secas, as cheias e as enchentes.”
O debate sobre o genocído na Palestina é um exemplo de que o internacionalismo é um valor presente na luta pela terra do MST desde a infância. As crianças plantaram mudas de oliveira, árvore que, para o povo palestino, simboliza a conexão com a terra, a resistência contra a ocupação, e a capacidade de renascimento. A atividade integra o Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis do movimento, que visa o plantio de 100 milhões de árvores.
Além disso, as crianças do MST escreveram cartas de apoio, que serão enviadas às crianças palestinas vítimas dos bombardeios israelenses em Gaza. “Sabemos que esse é um tema muito sensível. Falar de guerra, falar da fome que o Estado de Israel tem imposto à população, falar das principais vítimas dessa guerra, que são crianças. São temas delicados, mas considerando que as essas crianças sem terrinha já participam da luta pela terra no Brasil, essa é uma semelhança. A luta palestina também é luta por terra e isso aproxima o debate”, afirmou Janaina Rezende.
Na conversa com o BdF, ela também falou sobre a troca de aprendizados que a jornada proporciona. “As crianças participam e nos ensinam demais sobre outras formas de fazer luta, de um jeito leve, alegre, divertido, com bastante brincadeira, porque a luta pode ser isso também”, concluiu Rezende.
Editado por: Luís Indriunas




