Quem Cuida de Mim? Um filme sobre a realidade do trabalho que adoece professores no Brasil

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) traz como Dica Cultural da semana o documentário Quem Cuida de Mim?, dirigido por Afonso Celso Teixeira, do Sinpro-Rio, em parceria com Cristiano Requião.

A obra aborda um tema que durante décadas foi invisibilizado: o adoecimento mental dos trabalhadores e trabalhadoras da educação. O filme será lançado oficialmente no dia 29 de outubro de 2025, com exibição gratuita pelas redes do Sinpro-Rio, iniciativa que democratiza o acesso ao debate e amplia seu alcance nacional.

O documentário nasce de experiências reais e é construído a partir de escuta, respeito e coragem política. Trata-se de uma obra que dá voz a professores e professoras que carregam silenciosamente as marcas de um sistema educacional que os explora, sobrecarrega e desumaniza.

Durante o pré-lançamento do filme, após a exibição, muitos relatos emocionados confirmaram a urgência de reverberar a temática. A professora Bárbara Peres afirmou que o sofrimento docente não é individual e fez um chamado que resume o espírito do documentário: as questões apresentadas ali são coletivas, amplas, e atingem educadores de todas as idades e regiões do país. Ela lembrou que a profissão tem sido atravessada por pressões cotidianas que extrapolam os limites emocionais e físicos que qualquer trabalhador é capaz de suportar.

Outro depoimento forte que ecoou no pré-lançamento foi o de um professor com cinquenta anos de sala de aula. Ao recordar sua trajetória profissional, revelou que chegou a trabalhar em cinco escolas simultaneamente para complementar renda, dando 79 aulas por semana e vivendo uma rotina tão exaustiva que sequer tinha tempo para cuidar de si ou da própria família.

Relatos como esse ilustram a situação vivida por milhares de educadores no Brasil, que enfrentam sobrecarga, múltiplos vínculos de trabalho, precarização contratual e ausência de políticas de valorização profissional. O cansaço extremo, a sensação de inutilidade e a perda do sentido do trabalho afetam a saúde mental e a dignidade profissional.

Entre as falas presentes após a exibição, também houve espaço para denunciar o impacto político e social que tem recaído sobre a categoria nos últimos anos. Um professor relembrou episódios de perseguição ideológica e assédio institucional que transformaram professores em alvos de hostilidade dentro das escolas.

Segundo ele, docentes foram filmados sem autorização dentro de sala de aula e passaram a ser tratados como inimigos simplesmente por exercerem a liberdade de ensinar. Esse cenário trouxe medo, ansiedade e insegurança para o ambiente escolar, gerando um clima de permanente tensão no exercício da profissão.

Essas falas mostram que o adoecimento docente não é resultado de uma fragilidade individual, mas de uma estrutura de trabalho organizada para produzir desgaste. O que gera o sofrimento não é a suposta incapacidade do professor de lidar com pressões, mas a ausência de condições dignas de trabalho, a intensificação de tarefas, a violência, a desvalorização profissional e a transformação da educação em mercadoria.

O professor tem sido cobrado para ensinar, acolher, mediar conflitos, produzir relatórios, cumprir metas, atualizar-se constantemente e ainda administrar emocionalmente toda a precarização que se impõe sobre ele. Nenhum trabalhador suporta essa lógica indefinidamente.

O título do filme Quem Cuida de Mim? é uma pergunta política que expõe um abandono histórico. Quem cuida do educador? Quem protege o trabalhador da educação quando ele adoece? Quem assume a responsabilidade pelas consequências emocionais do ritmo das escolas, da falta de apoio e do excesso de cobranças? O documentário mostra que o sofrimento dos professores tem sido silenciado, tratado como fraqueza ou culpa individual, quando na verdade é fruto de um sistema de exploração que normaliza a exaustão e responsabiliza a vítima.

Mais do que emocionar, o filme é um chamado à consciência social e à ação coletiva. Coloca na agenda pública o direito à saúde do trabalhador da educação, que inclui não apenas assistência médica, mas proteção emocional, prevenção ao adoecimento e garantia de condições dignas de trabalho. Não significa falar de saúde mental apenas pelo viés terapêutico, mas pela perspectiva ética, humana e trabalhista. Não há educação de qualidade quando os profissionais que a sustentam estão adoecidos, desrespeitados e abandonados.

A Contee reconhece o documentário Quem Cuida de Mim? como uma obra relevante para o debate educacional brasileiro. O filme denuncia uma realidade urgente, mas também abre caminho para a construção de alternativas baseadas no cuidado e na valorização profissional.

‘Quem cuida de mim’ deve ser exibido e debatido coletivamente, preferencialmente acompanhada de rodas de conversa. O documentário é um potente instrumento de mobilização e reflexão, fortalecendo o diálogo sobre direitos trabalhistas, saúde emocional, combate ao assédio e defesa de condições dignas de trabalho.

Nenhum educador deve enfrentar o sofrimento sozinho. É urgente construir redes de apoio, garantir políticas públicas de saúde do trabalhador, fortalecer a organização sindical e enfrentar a precarização educacional que tanto adoece a categoria. Cuidar de quem educa é defender a educação como direito social e compromisso com o Brasil.

Por Antônia Rangel

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