Palmada: sim ou não?!
Por Neizy Cardoso
As manchetes de jornais trouxeram, nos últimos tempos, opiniões, as mais diversas possíveis, sobre o projeto de lei de iniciativa do então presidente Lula que proíbe “palmada” em crianças.
É claro que somos contra a violência indiscriminada frente a qualquer cidadão, ainda mais quando se trata de criança, indefesa e desprotegida.
Na época, a Folha de S.Paulo, em seu caderno Cotidiano, trazia como manchete: “Maioria é contra proibição de palmadas”. São 54% de brasileiros contrários ao projeto de lei que veta castigos físicos em crianças, segundo Datafolha.
Em tese, o Jornal informava que “a maioria dos brasileiros já apanhou dos pais, já bateu nos filhos e é contra o projeto de lei que proíbe ainda beliscões e castigos físicos em crianças.”
Foram entrevistadas 10.950 pessoas, sendo que 36% delas se revelaram favoráveis à proposta do presidente Lula.
Agora, no dia 4 de junho, o Plenário do Senado aprovou o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 58/2014 – que segue agora para sanção da presidente Dilma Rousseff – e estabelece o direito de crianças e adolescentes serem educados sem o uso de castigos físicos. A proposta altera o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990) para vedar o castigo físico de qualquer natureza ou intensidade, além do tratamento cruel e degradante, como instrumentos de correção e educação. Na mesma data lembrava-se o Dia Mundial das Crianças Vítimas de Agressão.
A proposta define o castigo físico como a “ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em sofrimento físico ou lesão”. Já o tratamento cruel e degradante é conceituado na nova legislação como a “conduta ou forma cruel de tratamento que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança ou adolescente.”
O novo nome da lei foi escolhido em homenagem ao gaúcho Bernardo Boldrini, 11 anos, que foi encontrado morto no mês passado, em Três Passos. O pai e a madrasta são suspeitos de envolvimento no assassinato. O projeto inclui dispositivos no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei 8.069/90).
Segundo a proposta, os pais ou responsáveis que usarem castigo físico ou tratamento cruel e degradante contra criança ou adolescente ficam sujeitos à advertência, encaminhamento para tratamento psicológico e cursos de orientação, independentemente de outras sanções. As medidas serão aplicadas pelo Conselho Tutelar da região onde reside a criança.
Além disso, o profissional de saúde, de educação ou assistência social que não notificar o Conselho sobre casos suspeitos ou confirmados de castigos físicos poderá pagar multa de três a 20 salários mínimos, valor que é dobrado na reincidência.
A Lei da Palmada estabelece o direito da criança e do adolescente a não serem submetidos a qualquer forma de punição corporal, mediante a adoção de castigos moderados ou imoderados, sob alegação de quaisquer propósitos, ainda que pedagógicos. Tal alteração visa garantir o direito de uma criança ou jovem de ser educado sem o uso de castigos corporais.
Nem tudo ao céu nem tudo à terra, isto é, a proposta precisa ser muito bem pensada pois violência não cura violência. Mas será que uma “palmadinha” faz tão mal?
Leiam o poema da imortal escritora Cecília Meireles, intitulado “Uma palmada bem dada”, do livro “Ou isto ou aquilo”, que nos leva a uma reflexão bem pé no chão.
Uma palmada bem dada
É a menina manhosa
que não gosta da rosa,
que não quer a borboleta
porque é amarela e preta,
que não quer maçã nem pêra
porque tem gosto de cera,
que não toma leite,
porque lhe parece azeite,
que mingau não toma,
porque é mesmo goma,
que não almoça nem janta
porque cansa a garganta.
que tem medo do gato,
e também do rato,
e também do cão
e também do ladrão,
que não calça meia
porque dentro tem areia,
que não toma banho frio
porque sente arrepio,
que não toma banho quente
porque calor sente,
que a unha não corta,
porque sempre fica torta,
que não escova os dentes,
porque ficam dormentes,
que não quer dormir cedo,
porque sente imenso medo;
que também tarde não dorme,
porque sente um medo enorme,
que não quer festa nem beijo
nem doce nem queijo…
Ó menina levada,
quer uma palmada?
Uma palmada bem dada
para quem não quer nada.
*Neizy Cardoso é ex-vereadora e atual presidente do Sindicato dos Professores (Sinpro) de Jundiaí e da Academia Feminina de Letras e Artes de Jundiaí (Aflaj)
E-mail: neizy@terra.com.br