“Pra não dizer que não falei das flores”

Por Neizy Cardoso*

É verdade que a anistia perdoou, e que hoje não devemos julgar os agentes punidores.

Nós que vivemos nos anos de chumbo, época de ditadura militar, não deixamos de lembrar de nomes que passaram pelo DOI-Codi, pelo Dops, que possivelmente se envolveram com casos de repressão num período em que perdemos Wladimir Herzog, Betinho foi exilado juntamente com Chico, Caetano, Rubens Paiva e outros artistas e intelectuais que, na época de 1964, não concordaram com o regime implantado neste país.

Não podíamos cantar, nem pensar por escrito. Eram proibidas as ideologias que não condiziam com as do consenso dos generais da “revolução” de 64: “cheiro de cavalo ao cheiro do povo”.

Vivemos num momento em que cantar “Viola enluarada”, “Pedro pedreiro”, “Debaixo dos Caracóis”, “Construção” e outras relíquias da MPB (música popular brasileira) era proibido.

De repente: “o tempo passou na janela e só Carolina não viu”. Mas nós, que não somos Carolinas, vimos esse tempo passar, criamos nosso modo de pensar, aprendemos a questionar, a valorizar o bom diálogo e, por isso, estranhamos que pessoas aparentemente comprometidas com um período horrível de nossa história recente tenham reconhecimento de governantes.

Por isso, a repressão jamais pode ser alguém em sã consciência.

A humildade é uma das virtudes mais belas, com certeza e então poderemos “Falar das flores, caminhando e cantando e seguindo a canção”, sem medo, nem recordações tristes para muitos de nossa geração que viveram os anos de chumbo.

*Professora Neizy Cardoso é presidenta do Sinpro Jundiaí 

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