PUC Minas: demissões revelam a mercantilização da educação
Como uma universidade respeitada em todo o país, a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais tem a responsabilidade de oferecer uma educação de qualidade e manter um corpo docente qualificado, com investimentos em pesquisas e extensão, que levem ao desenvolvimento do país. Com o anúncio de demissões de funcionários e professores, a realidade é que a PUC Minas caminha na direção oposta a esse princípio.
A meta de reduzir o seu quadro de pessoal é preocupante e demonstra uma clara tentativa de adequar a instituição aos interesses do mercado. As demissões de mestres e doutores, professores com larga experiência e anos de dedicação, estão diretamente relacionadas à crescente onda de mercantilização e financeirização da educação no Brasil. A lógica mercantil no setor educacional é cada vez mais nociva, pois o foco está somente em maximizar os lucros em detrimento da qualidade do ensino.
Dentro desse modelo, prevalecem as leis do mercado. Essas instituições de ensino adotam métodos de gestão empresarial praticados por grandes grupos econômicos, com o objetivo de transformar o negócio da educação em algo ainda mais lucrativo, em prejuízo de um projeto educacional que contribua para o desenvolvimento nacional.
A educação é um setor estratégico para a construção de um país justo e soberano e não pode ser guiada pelos princípios do mercado, pela busca desenfreada do lucro a qualquer custo. É necessário combater e impedir que a mercantilização se amplie ainda mais. É com esse objetivo que o Sindicato dos Professores (Sinpro Minas) e a Associação dos Docentes da PUC Minas (Adpuc) lutam pela manutenção do emprego dos professores na PUC Minas, trabalham em defesa de uma educação de qualidade e alertam para o processo de mercantilização que está por trás das atitudes arbitrárias da instituição de ensino.
A partir das análises feitas das últimas negociações para o fechamento de acordos coletivos celebrados entre Sinpro Minas, Adpuc e a Sociedade Mineira de Cultura (SMC) – mantenedora da PUC Minas –, é fácil concluir que a tentativa de demissões faz parte do modelo adotado pela administração da universidade, com o claro objetivo de precarizar as condições de trabalho do corpo docente para atender aos interesses mercadológicos.
O problema é que o resultado disso pode ser ainda mais prejudicial, com consequências para os alunos, com a queda da qualidade da educação, e até mesmo para a própria instituição, que poderá ter sua credibilidade abalada em curto e médio prazo.
Quando toma a decisão de descartar profissionais com longa experiência docente e que dedicaram suas vidas para a instituição de ensino, a PUC Minas caminha na contramão da história de outras universidades mundialmente respeitadas, que valorizam exatamente os mais experientes, sem abrir mão também do conhecimento advindo dos jovens educadores.
Diante da atual situação, as entidades que representam os professores da PUC Minas não vão medir esforços para defender a manutenção de um quadro docente altamente qualificado e confirmar as conquistas do passado que hoje qualificam os professores da instituição, responsáveis por elevar a PUC Minas à condição de uma das universidades mais respeitadas do país.
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Para a PUC, professores representam “peso na folha”
O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas) repudia o tratamento dado aos trabalhadores da PUC Minas e reitera que não medirá esforços para defender os direitos da categoria. Para isso, tem promovido diversas ações, como a realização de assembleias, produção e distribuição de materiais informativos e a divulgação de comunicados à sociedade em veículos de comunicação.
Na tentativa de estabelecer um diálogo com a instituição de ensino, o sindicato solicitou à direção da Universidade o agendamento de uma reunião, para tomar conhecimento e discutir os critérios adotados acerca das demissões, mas ainda não obteve resposta.
O Sinpro Minas também pediu à Superintendência Regional do Trabalho (SRT) uma reunião entre representantes do sindicato e da PUC Minas para discutir o assunto. A reunião foi agendada para 16 de novembro (sexta-feira), às 13 horas.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) também foi acionado pelo sindicato. O pedido de audiência foi encaminhado, e os professores aguardam uma resposta do órgão.
Diante desse quadro delicado, é importante lembrar que a saída para os problemas vivenciados pelos professores e auxiliares na PUC Minas é coletiva. Visando a clareza na divulgação de informações e sinergia nas ações de mobilização da categoria, o Sinpro Minas destaca que os trabalhadores devem informar ao sindicato e à Adpuc qualquer medida da universidade que prejudique as condições de trabalho e a manutenção dos empregos.
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Com a palavra, os professores da PUC Minas
“Não sei precisar a data, mas, nos últimos dois meses, começou a circular, aqui na Universidade, a notícia de que estaria em curso um plano de ajuste financeiro para diminuir os custos com a folha de pessoal. Vêm chegando notícias de demissões de funcionários, em razão de seus salários serem mais altos em função do tempo de serviço. Quanto aos professores, as informações vindas de gestores de unidades indicam que haveria uma lista de nomes a serem desligados, cujos critérios seriam a idade, ter mais de 65 anos, e tempo de casa. Com esses critérios, tão claros, não ficou nada difícil para cada um de nós, professores, nos imaginarmos dentro ou fora de tal lista. Algumas unidades começaram a informar quais de seus docentes estariam neste rol e algumas assinalaram com a possibilidade de negociação: os cortes não seriam necessariamente nominais, mas deveriam atingir a meta financeira definida. Não há necessidade de muita ciência para se entender porque a comunidade está inquieta, desassossegada, tensa.
Uma universidade é uma comunidade de produção e transmissão de conhecimento. “Um conhecimento que transforma” não é o lema de nossa PUC? Transformar supõe um projeto, uma finalidade, uma escolha ética. Uma universidade é assim, uma comunidade ética. É também uma comunidade ética porque se faz com estudantes, professores, gestores universitários, cujas relações são mediadas por palavras, consensos e dissensos, saberes e valores.
Assim acreditamos, trabalhamos e norteamos nossa prática.
Vejam, ser professor universitário é uma escolha. E não é qualquer escolha. É escolher trabalhar numa instituição que tem uma longa história. Parte importante dessa história tem a ver com a Igreja Católica, o que, aliás, justifica o nosso nome.
A universidade é uma instituição muito interessante: sua sobrevivência se deve à sua capacidade de acompanhar as mudanças e, ao mesmo tempo, preservar seus valores fundamentais. A PUC expressa este duplo sentido nos seus projetos de pesquisa e extensão, nos discursos e na organização de seus currículos de graduação.
Por tudo isso, qual o sentido de mandar embora as pessoas que se dedicaram à construção da Universidade? Por que – assim, sem diálogo – desconsiderar sua própria história? Por que este clima de medo e de silêncio? Por que o predomínio da lógica financeira descolada de seus objetivos, de sua imagem de uma boa universidade? Por que não conjugar sustentabilidade e valores universitários e humanos?”
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“Sempre saí de casa para o trabalho com os braços e coração abertos, sentindo-me capaz de levar, aos nossos queridos jovens, os olhares e saberes, que dão sentido à formação profissional de cada um. Assim tem sido a minha vida profissional dentro da arena do conhecimento cristão, que por tantos anos ajudei a construir. Lembro-me como se fosse hoje do dia em que relatei aos meus filhos, que havia sido aceita para trabalhar na casa onde me formara então, há apenas alguns anos. Já lá se vão anos e anos de formação, estudo e exclusividade profissional à Universidade…
Ao ser informada sobre a necessidade de minha saída da Universidade, senti nos olhos da minha amiga e colega a quem foi designado tal intento o mesmo sentimento de tristeza que ocupava o meu coração. Por que não posso prosseguir por esse caminho que há décadas trilho, ofertando aos jovens alunos e às jovens alunas as palavras da formação profissional e cristã?
O que ficará de minha trajetória profissional, toda ela dedicada ao departamento, à organização e ao amadurecimento de uma instituição que nos idos dos anos 60 e 70 ainda não gozava de tanto e merecido prestígio?
Sinto-me honrada por ter participado desse constructo. Recordo-me com clareza do estímulo que recebemos para levar adiante a formação no Mestrado e no Doutorado. O que era motivo de satisfação institucional e alegria pessoal tornou-se razão de exclusão. É o tempo que condena. Tempus edax rerum (“O tempo as coisas devora”) – recita Ovídio. Rogo a Deus que brotem palavras solidárias e revertam o que feito está”.
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“Com relação ao que vem ocorrendo hoje na comunidade acadêmica da PUC Minas, entendo que a desinformação é a principal questão. Se a alta gestão da Universidade informasse de forma clara e com bom nível de detalhes o que norteia seus planos, com certeza tudo seria mais fácil, inclusive discordar. Sabendo-se o que realmente ocorre, é sempre possível trabalhar em acordo”.
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Fonte: Sinpro Minas