Entidades e pesquisadores reagem à declaração do ministro da Educação
Diversas entidades ligadas à educação voltaram a condenar as declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que novamente atacou as Ciências Humanas. Em visita a manifestantes bolsonaristas no domingo (14/6), Weintraub disse ser contra a destinação de recursos oriundos de impostos para a formação de sociólogos, filósofos e antropólogos em universidades públicas.
Para a presidenta do Sinpro Minas, Valéria Morato, a declaração do ministro revela, mais uma vez, o desprezo pelo conhecimento científico e pela reflexão crítica. “É lamentável perceber que um cargo tão importante como este esteja sendo ocupado por uma pessoa tão desqualificada, que só destina esforços para enfraquecer a educação brasileira. Já temos quase um ano e meio de governo sem qualquer projeto para o setor, a não ser atacar os professores e a ciência. Tudo aquilo que provoca reflexão e descortina interesses ocultos na sociedade é rechaçado neste governo”, critica a professora Valéria Morato.
Na avaliação do sociólogo Daniel Cara, integrante da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, as polêmicas do ministro têm a finalidade de esconder a ausência de propostas para a educação brasileira. “Ele faz essa perseguição porque as Ciências Humanas denunciam o obscurantismo dele. É um ministro que, pela falta de capacidade, vive de polêmica. Só que essas polêmicas acabam denunciando quem de fato ele é, um sujeito sem ética, incapaz de conhecer as dificuldades do país e com um enorme ódio às culturas afro-brasileiras e indígenas. Então, quem não tem o que propor provoca. É o máximo que ele consegue fazer”, afirma Daniel Cara, que também é professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
Para Miriam Grossi, professora de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e atual presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), a fala do ministro funciona como uma “cortina de fumaça para criar inimigos no momento em que há outras prioridades no país”. “É uma declaração sem nenhum sentido, infeliz e discriminatória, que não reflete inclusive o que pensa a sociedade brasileira sobre o nosso campo científico. É uma posição absolutamente minoritária e insignificante. Mostra apenas a ignorância do que é a ciência, de um campo do conhecimento que é central para pensar a vida humana em sua complexidade histórica, econômica, geográfica e em suas múltiplas dimensões. Temos o slogan ‘todas as ciências são humanas’, porque na há ciência que não incorpore o conhecimento que vem das Ciências Humanas”, ressalta a pesquisadora.
Ela aponta que o conhecimento produzido pelas Ciências Humanas tem sido fundamental na elaboração de políticas públicas destinadas a populações marginalizadas. “Nesta pandemia, por exemplo. Por mais que se diga que o vírus é democrático, que ataca todo mundo, nós, das áreas de Humanas e Sociais, dizemos que não, que ele é mais letal para as populações marginalizadas, como o povo negro e o indígena. Do ponto de vista biológico, pode se pensar que sim, mas do ponto de vista social, isso não é verdade, e essa reflexão tem sido feita de forma muito aprofundada pelas Ciências Humanas, o que é fundamental para a produção de políticas de enfrentamento e isolamento”, explica Miriam Grossi, ao destacar o reconhecimento internacional dos estudos brasileiros neste campo do conhecimento. “Temos um lugar muito importante globalmente pelo que produzimos, um respeito no campo mundial e um compromisso de que o nosso conhecimento científico e teórico ajude a população a melhorar as situações de desigualdade e opressão”.
Nas redes sociais, outras entidades ligadas à educação também se manifestaram, entre elas a União Nacional dos Estudantes (UNE). “Toda a semana, Weintraub passa de todos os limites. Não é surpresa pra ninguém, por isso pedimos e lutamos pela sua saída. O ódio às Ciências Humanas não é infundado. Pensamento crítico é poder”, afirmou a entidade. Já a União Brasileira de Estudantes (UBES), que representa os secundaristas, afirmou que “num só dia, Weintraub conseguiu atacar a saúde, a educação e a democracia. Basta desse ministro irresponsável”.
“É por essas e outras razões que a Contee entrou com um pedido de impeachment do atual ministro da Educação. O Brasil não pode mais suportar uma figura tão medíocre como esta. Ele já passou de todos os limites possíveis e toleráveis de uma sociedade minimamente democrática. Já está fazendo hora extra na pasta. Não cabe outra coisa que não seja a destituição dele, alguém incapaz de assumir o cargo em que está”, afirmou Gilson Reis, coordenador-geral licenciado da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee).