SinproSP: Sindicato vê corte de custos ‘exagerado’ em demissões nas faculdades de SP: ‘Um só dá aula para 150 alunos online’
Justificativa das universidades é o aumento da taxa de inadimplência de alunos, que na Grande São Paulo subiu 64% em maio de 2020 em relação a maio de 2019.
Faculdades alegam crise e demitem professores
Muitas carreiras de professores universitários têm sido interrompidas por causa de uma onda de demissões. Algumas instituições já demitiram mais de 30% de professores. Uma das justificativas para os desligamentos é a crise provocada pela pandemia, que se reflete também nos boletos pagos pelos alunos.
A taxa de inadimplência no estado de São Paulo subiu 57% em maio de 2020, na comparação com maio de 2019. Na Grande São Paulo, o número fica ainda pior: 64% de aumento de um ano para o outro.
A taxa de evasão também subiu 14% em todo o Estado em 2019 e 31% na Grande São Paulo, de acordo com o Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp)
Mas para o Sindicato dos Professores de São Paulo, o motivo não é só a inadimplência e a evasão. O diretor Celso Napolitano diz que percebe que está havendo sim uma redução de custos “exagerada”.
“Em função das novas tecnologias as instituições estão rompendo barreiras físicas e estão concentrando um número muito grande de estudantes em uma mesma sala virtual. Assim pode demitir 4 professores e manter 1 com a responsabilidade de ministrar aulas para 150 alunos em uma plataforma virtual que é um verdadeiro absurdo”, afirma.
A onda de demissões no ensino superior interrompeu a carreira de 16 anos do professor de jornalismo Ulisses Rocha, na Uninove.
“Eu entrei para dar a aula e de repente a gente estava acessando um grupo de comunicação entre os professores e um professor falou ‘Fui demitido.’ Aí fui ver o meu email e eu também estava demitido. Eu nem sequer sabia que eu estava demitido, mas eu já estava por email”, conta ele.
Esse foi o segundo corte na universidade. No mês passado, 300 professores foram desligados de um dia para o outro – via mensagem de pop up.
“A gente achava que as demissões já haviam encerrado. Quem ficou estava livre no meu curso foram praticamente todos demitidos. Ficaram uns 4 ou 5. Dos que eu soube pelo menos 18 foram junto comigo”, afirma Ulisses.
A Uninove disse que diante da pandemia foi obrigada a se adaptar, e foi ao limite para manter o quadro de funcionários enquanto foi possível.
A estudante de ciências econômicas Milena Souza está no fim de faculdade, conciliando trabalho com as aulas à distância, com o trabalho de conclusão de curso. Mas agora ela está sem o acompanhamento do professor que a orientava na Universidade Cruzeiro do Sul.
“A gente vai tentar se adaptar com o professor novo, mesmo sabendo que provavelmente não vai ser a mesma coisa. Vai ser uma perda gigantesca para o nosso trabalho, vai ter um impacto enorme porque ele estava muito alinhado com a gente.
A preocupação de Milena é que as mudanças se reflitam em perda da qualidade de ensino.
A Universidade Cruzeiro do Sul falou que a crise econômica e as incertezas em relação ao próximo semestre levaram a instituição a reduzir custos, inclusive com funcionários.