Bolsonaro ainda mais isolado. Pressão por impeachment cresce após o 7 de setembro
Por Adilson Araújo, presidente da CTB
É generalizada a percepção de que Jair Bolsonaro deu um tiro no pé com os atos e discursos golpistas do 7 de setembro. Embora o público reunido por bolsonaristas na terça-feira não seja desprezível, o principal saldo das manifestações extremistas foi um isolamento político ainda maior do chefe do Executivo e o crescimento das pressões pelo impeachment.
Parlamentares e dirigentes de partidos que até a semana passada mantinham equidistância em relação ao impeachment, como o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (presidente do PSD), estão mudando de posição e sinalizando apoio ao afastamento de Bolsonaro.
É uma reação aos discursos golpistas pronunciados pelo mito da extrema direita, que anunciou que não respeitará decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) emanadas do ministro Alexandre de Moraes. É mais um crime de responsabilidade, uma afronta à Justiça, um atentado à Constituição Brasileira, que preconiza a harmonia entre os três poderes da República, ou seja, Legislativo, Executivo e Judiciário.
Frente ampla
Lideranças do PSDB, MDB, PSD, Novo, Solidariedade, Cidadania, PDT, PT e PCdoB, já começaram a debater o processo de impeachment. Outros partidos, como PL, Podemos, Rede, PSB e PSOL, também apoiam.
Nos meios jurídicos a indignação com a pregação golpista do presidente também é grande. Celso de Mello, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), cobrou uma reação mais efetiva do Judiciário e do Legislativo contra as “tentações autoritárias e as práticas governamentais abusivas”.
“A resposta do povo brasileiro aos discursos deste 7 de setembro de 2021, indignos da importância da data nacional que celebramos, só pode ser uma: as tentações autoritárias e as práticas governamentais abusivas que degradam e deslegitimam o sentido democrático das instituições e a sacralidade da Constituição traduzem justa razão para a cidadania, valendo-se dos meios legítimos proporcionados pela Constituição da República, insurgir-se, por intermédio dos Poderes Legislativo e Judiciário, contra os excessos governamentais e o arbítrio dos governantes indignos”, disse Mello em entrevista ao jornalista Rafael Moraes Moura, da Veja.
A incorporação de novas forças sociais e políticas à campanha pela deposição de Bolsonaro torna mais premente e viável a construção de uma frente ampla para deter o avanço do neofascismo, defender a democracia e abrir caminho para a reconstrução nacional e a superação da grave crise econômica, política e institucional que dilacera a nação.
Mais de 100 processos de impeachment já foram protocolados na Mesa da Câmara Federal, mas a conclusão do processo requer, além da abertura, quórum qualificado. Não será tão simples. Acima das divergências políticas e ideológicas impõe-se a necessidade de unificar o conjunto de forças que hoje se opõem ao líder golpista para concretizar tal objetivo.