A grave advertência da The Economist
O mercado de ações em alta em meio ao crescimento do desemprego e da quebradeira das pequenas empresas é a revelação da anomalia econômica na crise da pandemia.
Na edição desta semana a revista inglesa The Economist, órgão europeu da aristocracia das finanças, como a definiu Karl Marx, publicou matéria de capa alertando para o descolamento entre o mercado e a economia real na crise global da Covid-19.
Não é a primeira vez que a revista britânica adverte o mundo liberal e das finanças sobre a gravidade da concentração de riqueza e do empobrecimento da população, resultantes das políticas econômicas praticadas em nome do liberalismo.
O artigo chama atenção para o fato de que o mercado de ações dos Estados Unidos, depois de perder mais de um terço de seu valor entre 19 e 23 de março, reagiu espetacularmente. Em poucos dias, o índice S&P 500, composto por 500 ações cotadas nas bolsas de Nova Iorque (NYSE) e NASDAQ, recuperou mais da metade do valor perdido naquela semana de março.
A matéria atribui a rápida recuperação ao anúncio do FED, o Banco Central dos Estados Unidos, de que iria comprar títulos das empresas norte-americanas, inclusive os chamados “títulos lixo de alto rendimento”, ajudando assim as empresas a financiar seus débitos. O que a revista questiona é como é possível uma mudança drástica de humor dos investidores, indo em questão de dias do pânico à euforia, quando todos os indicadores da economia real apontam para uma derrocada sem precedentes da economia americana.
O desemprego subiu de 4% para 16% em poucas semanas, mais de 22 milhões de postos de trabalho foram eliminados apenas em abril. Depois de encolher 4,8% no primeiro trimestre, as previsões são de que a economia da américa encolha outros 10% no segundo trimestre, mergulhando o País na mais grave recessão desde a Grande Depressão de 1930.
Ao chamar atenção para esse comportamento aparentemente irracional dos investidores, a matéria nos permite refletir sobre como a dominância financeira sobre a economia real torna a economia mundial cada vez instável e propensa a crises de grande envergadura. A busca da valorização do dinheiro descolada do circuito produtivo tem sido a marca da economia mundial nestes tempos de globalização financeira.
Uma elite cada vez mais reduzida obtém enormes ganhos turbinando um mercado de títulos e ações cada vez mais deslocada da economia real.
Quando as bolhas especulativas estouram, para evitar que as crises financeiras globais que elas provocam arrastem a economia real para o fundo do poço, como ocorreu na Grande Depressão de 1930, os bancos centrais intervêm para salvar os bancos e as grandes empresas.
O custo disso tudo é empurrado para a sociedade na forma de mais impostos e redução de investimentos em áreas essenciais como infraestrutura, saúde e educação. Foi o que vimos na crise financeira de 2008/2009 e o que poderá se repetir agora.
Enquanto centenas de milhões de trabalhadores perdem seus empregos em todo o mundo, o mercado funciona em mundo paralelo, totalmente insensível ao drama humano que se desenvolve diante de nossos olhos com a certeza de que, haja o que houver, os ricos não vão perder nada.