Abril vermelho: MST prepara ocupações e doações de alimentos em denúncia ao agro e por reforma agrária
'Que nesse mês de abril a gente possa tirar conquista para o nosso povo”, espera coordenadora do MST

O Abril Vermelho, jornada anual de mobilização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pretende avançar o governo federal – cujas políticas para a reforma agrária são consideradas “aquém” do necessário – e defende no debate público que o modelo que se contrapõe ao agronegócio é aquele que, de fato, pode levar comida à mesa da população. O mote deste ano é “Ocupar para o Brasil alimentar”.
Ocupações de latifúndios, marchas, distribuição de alimentos e protestos em sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estão previstas em todas as regiões do país.
A maior parte das ações acontece até dia 17 de abril, marco dos 29 anos do Massacre de Eldorado do Carajás . Desde que, em 1996, uma repressão policial a uma marcha no Pará deixou 21 camponeses mortos e outros 69 mutilados, a data se tornou o Dia Internacional de Lutas pela Reforma Agrária.
Alta do preço dos alimentos, 145 mil famílias vivendo em acampamentos no país – 100 mil delas ligadas ao MST – e um recente anúncio do governo Lula que deverá estabelecer 8% desse montante. É neste contexto que chega o Abril Vermelho de 2025. Para Margarida Maria da Silva, da cooperação nacional do MST, é o momento de início para que o “orçamento [federal para a reforma agrária] seja recomposto, para que essa dívida com o país seja sanada”.
“A reforma agrária é um instrumento importante no combate à fome, à desigualdade social, à crise climática , mas também pode contribuir na diminuição dos preços dos alimentos”, argumenta Magal, como é conhecido o dirigente sem-terra. A expectativa, conta, é que a partir da jornada de lutas seja possível “tirar conquista para o nosso povo”.
Confira a entrevista na íntegra:
Brasil de Fato: Como o MST avalia o momento atual da luta pela reforma agrária no país?
Margarida Silva: Vivemos no nosso país uma crise alimentar com a concentração fundiária, a alta da inflação e o preço dos alimentos. Os grandes impactados são os mais pobres e vulneráveis do nosso país.
Trazemos, então, como a reforma agrária é um instrumento importante no combate à fome, à desigualdade social, à crise climática, mas também pode contribuir na redução dos preços dos alimentos.
Recentemente, o presidente Lula (PT) foi até um assentamento do MST pela primeira vez neste mandato e anunciou algumas medidas nesta área, como a entrega de 12.297 lotes para a reforma agrária. Como vocês veem o anúncio?
Foi um anúncio importante e simbólico no Quilombo do Campo do Meio [em Minas Gerais]. Mas é muito preciso fazer o que é preciso para a reforma agrária no Brasil. Só o Incra, em levantamento ainda não concluído, já cadastrou mais de 150 mil famílias acampadas. Destas, 100 mil são do MST. E neste anúncio que o governo Lula fez, um pouco menos de 5 mil famílias do MST serão contempladas. Então o anúncio tem uma importância simbólica, mas é muito perto daquilo que necessitamos neste momento.
Qual a demanda central deste Abril Vermelho de 2025?
Este abril vem como denúncia do modo de produção do agronegócio, com a destruição dos bens da natureza e o aumento da violência no campo. Nós temos vivenciado isso enquanto o Movimento Sem Terra, mas os indígenas têm vivenciado isso muito mais forte.
Além disso, o nosso Abril Vermelho traz como principal bandeira de luta a defesa da reforma agrária. Compreendendo que é preciso que esta pauta esteja no centro das prioridades do governo, com o aumento do orçamento, mas também no debate com a sociedade.
A reforma agrária cumpre um papel importante na produção de alimentos saudáveis com base agroecológica, na defesa do meio ambiente e dos bens comuns, mas principalmente na defesa da vida, dos camponeses e camposneses, das comunidades tradicionais, ribeirinhas e dos povos indígenas.
Precisamos ocupar o latifúndio, denunciar os crimes que eles fizeram no campo, mas principalmente a nossa bandeira principal do nosso abril é produzir comida e dialogar com a sociedade.
O que podemos esperar das ações desta jornada de lutas?
Será um abril de muita luta, de denúncia do modelo do agronegócio através da luta pela terra, mas também de várias outras atividades em todas as regiões do nosso país, como doações de alimentos, doações de sangue, plantio de árvores.
Também vamos entregar a nossa pauta ao governo, aos Incras, e que nesse processo de luta do mês de abril a gente possa tirar conquista para o nosso povo. Seja através da luta pela terra com a desapropriação de áreas, mas também com o desenvolvimento dos nossos assentamentos.
Nós temos assentamentos que são sem construção de casas, sem acesso a nenhuma política pública nesses oito últimos anos, desde o golpe da presidente Dilma [Rousseff]. Os anúncios do governo são importantes, mas não conseguimos acessar lá na ponta.
Então é um momento de diálogo com a sociedade sobre o modelo de agricultura que queremos para o campo brasileiro. Nós queremos um que respeite a biodiversidade e a natureza, que produza comida agroecológica e que se preocupe com os problemas que o nosso povo mais pobre tem vivido no país.
Editado por: Thalita Pires