Edson Luís presente: Era para nunca mais ter acontecido

Há exatos 50 anos, que se completam hoje, 28 de março de 2018, mataram um estudante. E ele podia ser seu filho.

Há exatas duas semanas, que se completam hoje, 28 de março de 2018, mataram uma vereadora e militante pró-direitos humanos. E ela podia ser sua filha, sua mãe, sua irmã, sua mulher.

Há exatos três dias, que se completam hoje, 28 de março de 2018, mataram cinco jovens ligados a projetos culturais de rap, que davam aulas de hip hop para as crianças de seu conjunto habitacional. Eles também podiam ser seus filhos, seus netos, seus irmãos, seus primos, seus amigos.

Estudantes velam o corpo de Edson Luís na Assembleia Legislativa do Rio – Foto: O Globo
O corpo da vereadora Marielle Franco é levado até a Câmara por amigos, acompanhados por milhares de manifestantes

Lembrar as cinco décadas do assassinato do secundarista Edson Luís de Souto Lima, o adolescente de 17 anos que saiu de Belém do Pará para cursar a escola técnica no Rio de Janeiro, é mais do que lamentar um triste episódio histórico que marcou a ditadura civil-militar — e seu endurecimento — no Brasil. É também enxergar 1968 no agora, assustadoramente próximo, como se não houvesse 50 anos separando esses dois tempos.

Filho de lavadeira, Edson Luís fazia bicos de faxina para se manter na capital fluminense e comia no restaurante universitário Calabouço, para jovens de baixa renda. O estudante fazia parte da Frente Unida dos Estudantes do Calabouço (Fuec). No dia em que morreu com um tiro, policiais tentavam reprimir um protesto pelo preço da comida do restaurante.

Em seu velório, pela primeira vez desde o golpe de 1964, a população em peso foi às ruas, indignada. Insatisfeito com o levante popular, o Exército cercou a Igreja da Candelária no dia da missa de sétimo dia. Os meses que se seguiram foram de um crescimento da tensão, até o embrutecimento ainda maior do regime ditatorial, em dezembro, com o Ato Institucional Número 5.

E as consequências da morte de Marielle Franco? E as consequências das mortes de Matheus Bittencourt, Marco Jonathan, Sávio Oliveira, Matheus Baraúna e Patrick da Silva?

Depois de Edson, centenas de jovens foram assassinados pela ditadura. E agora?

Neste 28 de março de 2018, na lembrança de Edson Luís, lamentamos suas mortes e exaltamos suas vidas.

Era para não ser esquecido. Era para nunca mais ter acontecido.

Por Táscia Souza

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