Entre vozes e toques: A leitura que ilumina os olhos de quem vê com o coração

Ler é tocar com a alma o que as palavras desenham. E quando os olhos se fecham, o coração vê. Para milhares de pessoas cegas ou com baixa visão, a leitura acontece por outros caminhos — através dos dedos que percorrem o relevo das letras em braille, das vozes que ecoam nos audiolivros, ou das tecnologias que transformam letras em sons e significados.

No Brasil, iniciativas como a Fundação Dorina Nowill para Cegos ajudam a manter viva essa chama do saber. Sua biblioteca digital, a Dorinateca, é um verdadeiro portal de acesso à literatura, à imaginação e ao conhecimento, oferecendo livros em braille, áudio, digital e até mesmo obras infantis com letras ampliadas e ilustrações inclusivas. Tudo gratuitamente, para pessoas com deficiência visual e instituições que promovem a inclusão.

A rede de apoio à leitura acessível vai além. O Portal do Livro Acessível permite que pessoas cegas sugiram títulos a editoras, democratizando o acesso e a escolha. A Audioteca Sal & Luz, com sua coletânea de audiolivros, e o acervo do Instituto Benjamin Constant também representam pilares dessa travessia literária. Já o Programa Nacional do Livro Didático Acessível (PNLD/Acessível) garante que o aprendizado nas escolas também seja inclusivo e transformador.

Esses caminhos são pontes de autonomia, sensibilidade e pertencimento. E nesta semana em que celebramos o Dia Nacional do Sistema Braille (8 de abril), é impossível não reconhecer que o mundo se revela de outra forma — mais tátil, mais atento, mais profundo. O braille é mais do que um sistema: é um caminho de liberdade, de presença e de protagonismo para quem lê com as mãos e escuta com o coração.

Quando o livro toca quem não vê, nasce uma leitura mais sensível — aquela que se faz no escuro, mas ilumina por dentro. Democratizar o acesso à leitura não é apenas garantir direitos: é abrir janelas e afirmar, com todas as letras (em todos os formatos), que o saber deve caber em todas as mãos. Quando um livro acessível chega às mãos de uma criança ou adulto com deficiência visual, é o mundo inteiro que se escancara. E é a nossa sociedade que se torna mais justa, mais plural, mais humana.

Algumas obras disponíveis em braille e formatos acessíveis

Estes livros podem ser encontrados gratuitamente na Dorinateca ou em bibliotecas acessíveis de instituições especializadas:

  • “O Pequeno Príncipe” – Antoine de Saint-Exupéry
  • “A Menina que Roubava Livros” – Markus Zusak
  • “Capitães da Areia” – Jorge Amado
  • “Dom Casmurro” – Machado de Assis
  • “O Alquimista” – Paulo Coelho
  • “A Hora da Estrela” – Clarice Lispector
  • “Romeu e Julieta” – William Shakespeare (adaptação acessível)

Onde encontrar livros acessíveis gratuitamente:

Fundação Dorina Nowill para Cegos – Dorinateca
https://www.dorinateca.org.br

Portal do Livro Acessível
https://livroacessivel.org.br

Audioteca Sal & Luz
https://www.audioteca.org.br

Instituto Benjamin Constant (IBC)
https://www.ibc.gov.br

PNLD Acessível (FNDE/MEC)
https://www.gov.br/mec/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/pnld

Para quem educa e inclui:

Esses portais e acervos são também uma fonte essencial para educadores, bibliotecários, coordenadores pedagógicos e demais profissionais que atuam com educação inclusiva. Servem como ferramentas práticas e poéticas para transformar o cotidiano escolar em um espaço verdadeiramente acessível, onde todos possam aprender, sonhar e criar — independentemente de como enxergam o mundo.

Por Romênia Mariani

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