Milton Bituca Nascimento nos cinemas: O canto do trem que viaja pelo mundo

Aos 80 anos, com a sabedoria que só o tempo e a arte podem proporcionar, Milton Nascimento, carinhosamente conhecido como “Bituca”, segue atravessando os mundos da música e da vida, como um trovador que desafia as marcas da idade. Nascido no Rio de Janeiro, mas com a alma profundamente enraizada em Minas Gerais, Milton transcende as barreiras do tempo e do espaço. Sua música, que mescla a beleza de sua terra natal com influências de todos os cantos do planeta, é um testemunho vivo de um homem que canta a vida em suas várias dimensões: a dor, o amor, a esperança e a luta.
Com uma voz que desafia a passagem do tempo e um espírito que permanece jovem, o cantor e compositor brasileiro embarcou em sua turnê de despedida, intitulada “A Última Sessão de Música”, um ato de despedida que reverbera nas memórias de quem já o viu no palco ou o ouviu em gravações. E é justamente essa jornada única e poética de Milton que é imortalizada no documentário Milton Bituca Nascimento, dirigido por Flávia Moraes e narrado pela genial atriz Fernanda Montenegro. O filme, que estreou nos cinemas em 20 de março de 2025, mergulha na alma do artista, registrado ao longo de dois anos de apresentações e vivências ao redor do mundo.
O documentário Bituca é uma imersão profunda nessa jornada singular, onde a arte de Milton se entrelaça com as experiências de um Brasil plural e de um mundo que o recebeu de braços abertos. Por meio das lentes de Moraes, somos conduzidos em uma viagem que atravessa continentes, passando pelo Brasil, Estados Unidos e Europa, entre junho e novembro de 2022, capturando os detalhes de um homem que ultrapassa fronteiras. Milton, com seu canto inconfundível, leva o som de sua alma a novos horizontes. Acompanhamos, com silêncio e admiração, o cantor que, aos 80 anos, continua a ser o centro de sua música, com a força de um trem que não para, não importa a estação.
O documentário vai além de uma crônica musical. Ele revela a fragilidade do homem por trás da lenda, humanizando a figura do artista. Em momentos de vulnerabilidade, como quando Milton faz uso de cadeira de rodas ou enfrenta episódios de tontura, vemos não apenas o cantor, mas a pessoa que segue, com dignidade, na luta contra o tempo. Como Flávia Moraes descreve, a confiança mútua entre ela e Milton foi essencial para que a equipe pudesse registrar esses momentos íntimos, sem reservas, onde a beleza e os desafios coexistem no mesmo compasso.
Além das cenas de bastidores, o filme traz depoimentos de grandes nomes da música, como Djavan, Chico Buarque, Quincy Jones, Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outros. Cada um desses ícones é um testemunho vivo da imensa influência de Milton no cenário musical global. Essas vozes ecoam a universalidade de sua arte, que, como um bom vinho, apenas melhora com o passar dos anos.
Como uma obra de arte que nunca se apaga, o documentário é acompanhado por um álbum que eterniza a diversidade de sua obra: ReNASCIMENTO. Este projeto traz releituras de suas músicas feitas por artistas da nova geração, como Sandy, Liniker, Johnny Hooker e Kell Smith. Cada versão é uma homenagem, uma maneira de reintegrar a energia criativa de Milton a uma nova onda de artistas que, como ele, sabem que os sonhos não têm idade.
Em Milton Bituca Nascimento, assistimos à última grande turnê de um homem cujos sonhos, assim como sua música, nunca se apagam, mesmo diante da inevitabilidade da despedida. O documentário, portanto, não é apenas sobre a despedida de um cantor, mas sobre a celebração da eternidade que suas canções conquistaram. Afinal, como Milton deixa notar em seus versos, os sonhos não envelhecem — eles se transformam em poesia que atravessa o tempo, os espaços e os corações.
Neste último ato, Milton Nascimento não se despede; ele nos ensina que, como o trem que segue seu caminho, devemos seguir nossas paixões e nossos anseios, sem medo do desconhecido. Bituca nos presenteia com um legado imortal, capaz de nos tocar como se fosse a primeira vez. E assim, com a leveza de quem sabe que não há fim para o que é eterno, Milton segue, em sua travessia, pelos bailes da vida, desbravando o mundo, levando consigo o canto do trem, a força de sua alma e o poder transformador de sua música.
Por Romênia Mariani