Mulheres chefiam mais domicílios, mas desigualdade no mercado de trabalho persiste
A luta continua no 8M de 2025
Em um cenário de recuperação econômica no Brasil, com o crescimento do PIB de 3,5% e a criação de 1,7 milhão de postos de trabalho com carteira assinada, as mulheres ainda enfrentam sérias desigualdades no mercado de trabalho. Embora tenham conquistado a chefia de 52% dos domicílios brasileiros, como revelam os dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), os desafios para alcançar igualdade de direitos e oportunidades continuam sendo um obstáculo significativo. A luta por um mercado de trabalho mais justo e igualitário será uma das principais pautas de mobilizações e protestos deste 8M 2025, em todo o país.
O mercado de trabalho e os desafios para as mulheres
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-C/IBGE), com dados do terceiro trimestre de 2024, trouxe à tona números alarmantes sobre a realidade das mulheres no mercado de trabalho. Apesar da redução da taxa de desemprego para 7,7%, as mulheres continuam a ter as maiores taxas de desocupação, especialmente as mulheres negras, cuja taxa de desocupação chega a 9,3%, quase o dobro da dos homens não negros, que é de 4,4%. Além disso, a disparidade salarial entre homens e mulheres segue sendo um problema persistente: as mulheres ganham, em média, R$ 762 a menos por mês que os homens, uma diferença de 22%. Para as mulheres com ensino superior, esse número sobe para R$ 2.899 a menos por mês.
As mulheres negras enfrentam uma realidade ainda mais desafiadora, com uma disparidade salarial que chega a ser 115% menor que a dos homens não negros. Esses números refletem não apenas uma desigualdade salarial, mas também a exclusão das mulheres, especialmente as negras, de cargos de liderança e de prestígio no mercado de trabalho, que continuam majoritariamente ocupados por homens, principalmente os homens brancos.
A dupla jornada e seus impactos
Outro fator que agrava a situação das mulheres no mercado de trabalho é a sobrecarga com as responsabilidades domésticas e de cuidado. As mulheres gastam, em média, 21 dias a mais por ano que os homens em tarefas domésticas, o que se traduz em 499 horas extras anuais, limitando suas oportunidades de ascensão profissional. Quando consideramos a jornada semanal total, as mulheres acumulam mais de 55 horas de trabalho, levando em conta tanto o trabalho remunerado quanto o não remunerado, enquanto os homens trabalham 53 horas. Essa sobrecarga reflete a “dupla jornada” das mulheres, que muitas vezes não têm a assistência necessária, como apoio público à educação infantil ou políticas de licenciamento mais amplas.
8M 2025: Luta pelo reconhecimento e pela igualdade
Neste 8 de março, mulheres de todas as regiões do Brasil irão às ruas reivindicar igualdade, dignidade e justiça social. Com o lema “Pela vida de todas as mulheres, ainda estamos aqui”, as manifestações de 2025 se concentrarão em temas centrais, como a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, a igualdade de direitos e a defesa da democracia. Entre os pontos de pauta, destacam-se a luta contra a violência de gênero, a desigualdade salarial e a implementação de convenções internacionais, como a Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre violência e assédio, além dos direitos reprodutivos.
As mobilizações, organizadas por coletivos feministas, se espalham por várias capitais brasileiras, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, e têm como objetivo dar visibilidade à continuidade da luta das mulheres por seus direitos. Em 2025, o 8M se fortalece como uma data histórica, uma verdadeira resistência contra os retrocessos políticos e contra a opressão estrutural.
A Contee e as reivindicações por políticas públicas eficazes
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (CONTEE) tem sido uma defensora incansável das trabalhadoras da educação, buscando garantir igualdade salarial e melhores oportunidades de capacitação e liderança para as mulheres no setor educacional. No entanto, a CONTEE reforça que as políticas públicas precisam ir além de datas simbólicas como o 8M e se tornar um compromisso constante para promover um futuro mais igualitário para todas as mulheres.
Entre as principais recomendações da CONTEE para 2025, destacam-se:
- Fortalecimento da fiscalização da Lei de Igualdade Salarial (Lei 14.611/2023): Essa lei exige que empresas com mais de 100 funcionários apresentem relatórios de transparência salarial, mas precisa ser acompanhada de perto para garantir sua implementação e reduzir as disparidades salariais.
- Políticas públicas de redistribuição das responsabilidades domésticas: Ampliar o apoio às políticas de licença paternidade e outras iniciativas que incentivem uma divisão mais equitativa das responsabilidades familiares entre homens e mulheres.
- Apoio às mulheres negras: Implementar políticas específicas que reduzam as disparidades salariais e de emprego para as mulheres negras, garantindo um acesso mais igualitário às oportunidades de trabalho e qualificação.
- Ampliar o apoio à educação infantil pública: Criar mais vagas em creches públicas, especialmente nas regiões mais carentes, para permitir que as mulheres possam conciliar seu trabalho remunerado com as responsabilidades familiares de forma mais equilibrada.
Além disso, a CONTEE recomenda a leitura completa do Boletim Especial do DIEESE (8 de março de 2025 – Dia Internacional da Mulher), que oferece dados detalhados e uma análise aprofundada sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho no Brasil, ajudando a entender melhor as disparidades e os desafios enfrentados pelas mulheres, e como as políticas públicas podem ser mais eficazes na redução dessas desigualdades. O material pode ser acessado ao final da matéria.
A resistência das mulheres e a luta por um futuro justo
Embora o Brasil tenha avançado economicamente, as desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho ainda são uma dura realidade para as mulheres, especialmente para as mulheres negras. As mobilizações de 8 de março de 2025 reforçam a luta por igualdade salarial, o fim da violência de gênero, a ampliação das políticas públicas de cuidado e a garantia dos direitos reprodutivos. A resistência das mulheres é uma luta histórica que ganha força a cada ano, e em 2025, o movimento segue firme, com o lema da União Brasileira de Mulheres (UBM): “Por um mundo de igualdade, contra toda opressão.” A luta por um futuro mais justo e igualitário para todas as mulheres segue firme, com a esperança de que, no futuro, as conquistas de direitos sejam finalmente alcançadas de forma plena e duradoura.
Por Romênia Mariani