13 de maio: É preciso continuar lutando pela liberdade, todos os dias
Em abril deste ano, o site da revista Exame publicou uma matéria sobre os cinco casos de racismo que chocaram o Brasil nos últimos tempos: a expulsão de um garoto de 8 anos, acompanhado pelo pai americano radicado no Brasil, da calçada de uma loja da grife Animale, na Rua Oscar Freire, em São Paulo, por uma funcionária do próprio estabelecimento; a expulsão de outro garoto, também filho adotivo, de uma concessionária da BMW no Rio de Janeiro onde seus pais – pasmem! – compravam um carro; os xingamentos de “macaco” ao goleiro Aranha, do Internacional, por torcedores do Grêmio, durante a Copa do Brasil; o policial militar que precisou se despir para provar aos seguranças de um supermercado em Vitória que não estava roubando dois vinhos comprados minutos antes do ocorrido; a australiana que se recusou a ser atendida por uma manicure negra em um salão de Brasília.
Depois da publicação da reportagem, outros três, recentíssimos, ganharam as redes sociais nas últimas semanas: a jornalista negra que sofreu uma enxurrada de ataques racistas ao publicar uma foto sua em seu perfil no Facebook (ver aqui); a menina de 12 anos, vítima de racismo da escola, obrigada a pedir desculpas a seus agressores (ver aqui); e, no último dia 11 de maio, a exposição de outra jornalista de Brasília que teve uma foto sua grávida, tirada em 2011, colocada em forma de anúncio num grupo da mesma rede social destinado a vender artigos usados, com a seguinte frase: “Vende-se um bebê por R$ 50 reais” (ver aqui).
Há outros tantos casos, incontáveis, invisíveis na mídia porque cometidos contra pobres e anônimos, de quem é tirado o direito até mesmo de denunciar. Não, nunca vivemos um regime de segregação extrema e oficial como o apartheid sul-africano. O que não quer dizer, como falsamente se orgulham alguns, que não vivemos num país racista. A resistência às cotas raciais nas universidades está aí para provar; o fato de os negros serem maioria prisões brasileiras também.
A escravidão só foi oficialmente abolida no Brasil com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Mas os negros foram protagonistas na luta pela libertação dos escravos. Ressalvadas as controvérsias sobre o real significado da Lei Áurea, é preciso ter em mente que mesmo essa abolição incompleta jamais teria existido se os escravos negros não tivessem lutado, muitas vezes de armas nas mãos, contra a opressão. Assim, neste dia 13 de maio, afirmar que a data representa apenas uma manobra da elite significaria esquecer e apagar a importância da luta de classes durante todo o período colonial e imperial.
Da maneira como foi conduzida, a abolição criou, sim, outras formas de escravidão que, infelizmente, ainda persistem. O trabalho compulsório e o tráfico de pessoas permanecem existindo no Brasil atual, a chamada escravidão moderna, que difere substancialmente da anterior e da qual o Projeto de Lei 4.330, que amplia a terceirização para todas as atividades, ilimitadamente, é apenas um dos exemplos. Passados 127 anos desde a abolição, há outros tipos de escravidão, que continuam a atingir em cheio, violenta e diariamente, a população negra.
Na luta contra elas, o negro continua sendo protagonista. E a educação é uma aliada fundamental nesse processo. Por isso, a Contee defende para este 13 de maio, bem como para o 20 de novembro (Dia de Zumbi e da Consciência Negra) para todos os outros dias do ano que a história brasileira seja passada a limpo por meio de uma educação não racista e não discriminatória em todas as instâncias, a fim de que se conquiste de fato uma liberdade plena e uma sociedade liberta de todas as desigualdades e de todos os preconceitos.
Da redação