24 anos sem Paulo Freire, patrono da educação brasileira e referência internacional
Filósofo e educador faleceu em 2 de maio de 1997, vítima de infarto
Há exatos 24 anos, em 2 de maio de 1997, o filósofo e educador Paulo Freire falecia vítima de infarto no miocárdio. Foram 75 anos dedicados à criação de métodos inovadores de educação com foco na transformação social que se consolidaram como referência mundial.
O pensamento freiriano parte do princípio da humanização do ensino e do reconhecimento da história e da cultura do aluno que, junto com o professor, passa a construir o processo de aprendizagem. Um ensino horizontal, onde todos ensinam e aprendem.
Em 2018, foram celebrados os 50 anos do livro Pedagogia do Oprimido, obra que revolucionou o sistema de ensino de adultos em todo o planeta, criando um modelo pedagógico que segue sendo pilar de formação em muitas salas de aula no campo e nas cidades brasileiras.
Brasileiro mais homenageado da história, o pernambuco autor de quase 40 obras ganhou dezenas de títulos de doutor honoris causa de universidades da Europa e América. Em 1986, recebeu o prêmio da Unesco de Educação para a Paz.
Um levantamento do Google Scholar permite compreender a dimensão do legado: Freire é o terceiro cientista brasileiro mais citado em trabalhos acadêmicos da área de humanas no mundo.
Durante a ditadura civil-militar brasileira, o método de alfabetização do pedagogo foi considerado uma ameaça à ordem, obrigando Freire a deixar o país e permanecer exilado durante 16 anos.
Mesmo passadas mais de duas décadas de sua morte, as ideias do educador incomodam profundamente os setores mais conservadores do país. A começar pelo presidente Jair Bolsonaro e outros deputados da extrema direita que já encamparam ofensivas para revogar o título de patrono da educação brasileira concedido ao educador em 2012.
Em 2017, o Movimento Brasil Livre (MBL) também organizou um abaixo-assinado que angariou mais de 20 mil assinaturas pela revogação da honraria sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Sofia Freire Dowbor, neta de Paulo Freire, já criticou publicamente os ataques do atual governo brasileiro e outros grupos contra a imagem de seu avô.
A também educadora afirmou em 2019 que “Bolsonaro propôs entrar com um lança-chamas no Ministério da Educação para destruir até o último vestígio do que meu avô nos deixou. Quer anular o pensamento crítico e o trabalho em grupo”.
“Hoje, mais do que nunca, a educação popular é fundamental para gerar um ser coletivo, porque como bem dizia meu avô, ‘quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor’”, afirmou, exaltando o legado do pedagogo.
Apesar das tentativas de apagar seu legado, os ensinamentos de Paulo Freire vivem no seio dos movimentos populares pelo Brasil e pelo mundo. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, tem a educação popular inspirada no pensamento freiriano como um pilar fundamental na militância.