2ª rodada de negociações Rússia-Ucrânia conclui com acordo sobre corredores humanitários

Terminou em Belovezhskaya Pushcha, na Bielorrússia, a segunda rodada de negociações entre as delegações da Rússia e da Ucrânia, que chegou a acordo para a organização de corredores humanitários e definiu uma terceira reunião para os próximos dias.

O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, disse que as partes acordaram em corredores humanitários para a saída da população e um possível cessar-fogo temporário. O que ele considerou um “progresso significativo”, segundo o jornal russo Kommersant.

Por sua vez, Mikhail Podolyak, conselheiro do chefe do gabinete do Presidente da Ucrânia, confirmou o acordo sobre corredores humanitários e informou que a Rússia e a Ucrânia estão organizando um canal de comunicação especial para interação durante a evacuação de civis.

Na véspera, o chefe do partido Servo do Povo no parlamento ucraniano e membro da delegação, David Arakhamia, dissera que o “mínimo” que a Ucrânia estava buscando nesse momento das negociações era a “garantia de corredores humanitários, enquanto todo o resto depende das circunstâncias”.

As conversações ocorrem em paralelo à operação de “desnazificação e desmilitarização” acionada pelo presidente russo Vladimir Putin para deter a perseguição aos residentes do Donbass de fala russa, depois de oito anos de tentativas de obter do regime ucraniano o cumprimento dos Acordos de paz de Minsk, e diante da insistência do regime Zelensky em oficializar o rompimento do status de neutralidade do país para fazer da Ucrânia um trampolim da OTAN, inclusive com armas nucleares.

“NOS PRÓXIMOS DIAS”

Outro representante da delegação russa, o deputado da Duma, Leonid Slutsky , disse que a terceira rodada de negociações será “nos próximos dias”. Ele acrescentou que alguns acordos com a Ucrânia precisarão ser consolidados e após o procedimento nacional de ratificação serão realizados.

Segundo Mykhailo Podolyak, a terceira rodada será realizada “no início da próxima semana”. Ele apontou que houve avanços “nas questões humanitárias”. Assim, as partes organizarão corredores humanitários em um futuro próximo, nesse sentido, o fogo será cessado em vários setores.

“Para isso, canais especiais de comunicação e interação serão organizados em um futuro muito próximo, e procedimentos logísticos apropriados serão formados”, acrescentou.

A delegação russa, além de Medinsky e Slutsky, incluiu o vice-ministro das Relações Exteriores Andrei Rudenko, o embaixador na Bielorrússia Boris Gryzlov e o vice-ministro da Defesa Alexander Fomin.

A delegação ucraniana, além de Podolyak, incluiu o ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov, o vice-ministro das Relações Exteriores, Mykola Tochitsky, o presidente da bancada parlamentar do partido Servo do Povo, David Arakhamia, o primeiro vice-chefe da delegação ucraniana ao Grupo de Contato Trilateral, Andriy Kostin e o deputado Rustem Umerov .

Como antecipara Medinsky, o bloco de propostas da Rússia consistia em aspectos humanitários, políticos e técnico-militares, incluindo um caminho para o cessar-fogo.

“OFERECEMOS UM ACORDO”

Em entrevista à rede Al Jazeera, o chanceler russo Lavrov Lavrou afirmou que as exigências apresentadas pela Rússia à Ucrânia não podem ser qualificadas como capitulação.

“Oferecemos um acordo, que assegurará os direitos legais de todos os povos que vivem na Ucrânia, o que inclui todas as minorias nacionais sem exceção, sua igualdade”, enfatizou.

Em suma, sem apartheid e sem um país ‘racialmente puro inexistente’.

Ele acrescentou que Moscou “continua comprometida com a desmilitarização da Ucrânia” e que deveria haver uma lista de armas específicas que nunca poderiam ser implantadas em território ucraniano, armas nucleares, jamais.

O mesmo no que tange à restauração do status de neutralidade.

O principal diplomata russo referiu-se à lei ucraniana sobre os povos nativos no país – que exclui as pessoas de ascendência russa.

“Esse é o tipo de coisa que já está criando a base legislativa para uma política russófoba e não apenas russófoba – contra todas as outras minorias nacionais: húngaros, romenos, poloneses, búlgaros”, continuou ele.

Lavrov enfatizou que os militares russos estão fazendo “tudo” para evitar sérias baixas civis e sublinhou que não tem planos de ocupar a Ucrânia. Segundo ele, a Ucrânia deveria passar por um procedimento de desnazificação semelhante ao que a Alemanha nazista fez no século 20.

Em relação à enxurrada de sanções antirrussas dos países ocidentais, Lavrov considerou-a como uma tentativa de criar uma nova “cortina de ferro” para a Rússia que, no entanto continuará se desenvolvendo apesar disso.

PAPEL CONSTRUTIVO DA CHINA

Ainda no front diplomático, na terça-feira, o chanceler ucraniano Dmitro Kuleba, telefonou ao seu homólogo chinês, Wang Yi, pedindo a intermediação da China na busca de um cessar-fogo e um acordo. Kuleba posteriormente se referiu ao “papel construtivo” da China na questão.

Pequim tem rejeitado as sanções unilaterais e à margem da lei internacional que vêm sendo deflagradas contra Moscou por Washington e subalternos e manifestou seu apoio a que a Rússia tenha suas legítimas considerações de segurança sobre a expansão da Otan atendidas, e reiterou seu persistente princípio de respeito à soberania e de negociação ganha-ganha.

A Assembleia Geral da ONU extraordinária aprovou moção contrária à ação russa na Ucrânia, por 141 votos a 5, e 35 abstenções, entre estas, China e Índia. O presidente francês Emmanuel Macron ouviu de Putin, para quem ligou, detalhadas explicações sobre a presença dos nazistas nas instituições governamentais ucranianas e nas decisões ali tomadas.

DONBASS LIVRE

No front militar, praticamente se fechou o cerco sobre as formações ucranianas que cometiam a perseguição à população de Donbass, assim como sobre Mariupol, há cinco anos praticamente sob controle do Batalhão Azov. A capital, Kiev já está bloqueada, exceto no lado oeste, enquanto o comando russo considera que as ações seguem como previsto. Já a falta de uma operação “choque e pavor”, estilo de guerra preferido pelos norte-americanos, levou certos analistas a palpitarem sobre o ‘fracasso da aviação russa’.

Em 17 de fevereiro, após o agravamento da situação no Donbass pela intensificação do bombardeio ucraniano contra os civis, as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk anunciaram uma mobilização geral, a evacuação de civis para o território da Rússia e pediram o reconhecimento de sua independência, o que foi aprovado pelo parlamento russo e assinado pelo presidente Putin. Em 24 de fevereiro, atendendo ao pedido de assistência de Donetsk e Lugansk, a Rússia lançou uma operação especial para proteger o Donbass.

Hora do Povo

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