4° Seminário Unificado de Imprensa Sindical: Contee presente!
A atual conjuntura política brasileira e sua relação com a pauta da democratização da comunicação e do fortalecimentos das mídias alternativas. Essa foi, em resumo, a temática ontem (13) do primeiro dia do 4° Seminário Unificado de Imprensa Sindical, do qual a Contee participa até o próximo sábado (15), representada pelo coordenador da Secretaria de Comunicação Social, Alan Francisco de Carvalho, e pela jornalista e assessora de comunicação da Confederação, Táscia Souza.
A manhã de quinta foi dedicada a uma reflexão sobre a situação dos trabalhadores frente aos atuais acontecimentos. Na mesa de abertura, o professor do departamento de Economia e Ralações Internacionais da UFSC e presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos, Nildo Ouriques, fez uma análise do ajuste fiscal e dos prejuízos à classe trabalhadora. Afiado, Ouriques não poupou críticas ao papel desempenhado pela própria esquerda nos últimos anos — incluindo o que chamou de “petucanismo” — e sua responsabilidade sobre o momento pelo qual passa o Brasil hoje. “Não foi Dilma ou Lula que fracassaram. Foi toda uma via de transformação”, afirmou. E esse fracasso, segundo ele, deriva de uma “consciência ingênua” da militância e só pode ser combatido a partir da reversão dessa ingenuidade e sua conversão em consciência crítica. Para tanto, diante de uma plateia formada majoritariamente por jornalistas, ele frisou a necessidade de “trabalhadores de imprensa intelectualmente potentes”.
A discussão foi seguida pelo debate sobre os desafios da classe trabalhadora diante do novo momento político do país. A segunda mesa do seminário contou com a participação de dirigentes de quatro centrais sindicais: Paulo Barela, da CSP-Conlutas; Sérgio Luiz Leite, da Força Sindical; Daniel Mittelbach, da CUT; e Edson Carneiro da Silva (Índio), da Intersindical. Embora tenham apresentado visões distintas acerca da narrativa do golpe, os quatro concordaram que há uma ofensiva do capital sobre os direitos e os trabalhadores em todo o mundo e que o caso brasileiro exige unidade de luta, não apenas para responder aos ataques do governo ilegítimo, mas também para desfazer a própria desconfiança do povo no movimento sindical. Para tanto, também foi consenso entre os dirigentes das quatro centrais de que a discussão da comunicação é fundamental.
Democratize já!
Justamente por ser fundamental é que a pauta da democratização foi o assunto de toda a tarde desta quinta-feira, juntamente com o empoderamento popular através da mídia alternativa. Sobre a democratização da comunicação e o falso discurso da censura, o jornalista Gustavo Gindre (que é mestre em Comunicação e Cultura, integrante do coletivo Intervozes e especialista em regulação do audiovisual lotado na Ancine) desmistificou a ideia de que regulação da mídia e censura são sinônimas. “Sempre haverá regulação. Todos os editores, todas as empresas de comunicação regulam seus conteúdos, decidem o que vai ser publicado ou não. A diferença é que fazem isso de forma privada e não de forma pública, algo que não poderia acontecer já que, no caso de rádio e TV, estamos falando de concessões públicas. E, se exploram bens públicos, não poderiam nunca tratar disso na esfera privada.”
Gindre destacou que é preciso estabelecer limites às propriedades dos meios de comunicação e garantir produção regional de conteúdo. “O brasileiro não se vê representado nos meios de comunicação”, observou. Sobre países que adotam legislações reguladoras da mídia, ele citou exemplos como Estados Unidos, Suécia, Inglaterra e França. “Notem que estou usando como exemplo as democracias liberais burguesas, para que ninguém acuse esse discurso de ser comunista e bolivariano. Caminhar para isso no Brasil, para o que esses países fizeram, já significa enfrentar o oligopólio privado dos meios de comunicação.” Embora otimista sobre o crescimento dessa consciência hoje, Gindre, assim como Nildo Ouriques, não deixou de tecer críticas aos movimentos sociais e aos governos de esquerda por não terem enfrentado esse problema como deveriam. “Não adianta dizermos hoje que a mídia é golpista. Ela já é golpista na sua trajetória como um todo e a gente não tratou disso. E agora não dá mais para não falar disso porque, em última instância, estamos falando de democracia no Brasil.”
À fala de Gustavo Gindre se seguiram as exposições de formas independentes de jornalismo e suas respectivas experiências. A mesa foi formada por Marina Dias, coordenadora de comunicação da Agência Pública; Pedro Carrano, coordenador do jornal Brasil de Fato no Paraná; Clarissa Peixoto, jornalista do Portal Catarinas; e Paula Padilha, editora do portal Terra Sem Males. A despeito das diferentes propostas e frentes de trabalho, o desafio comum a todos é a questão do financiamento dessas mídias alternativas, seja por meio de crowdfundings ou até mesmo, como no caso da Pública, do patrocínio de grandes fundações.
Ao fim do dia, o diretor da Contee, Alan Francisco de Carvalho, participou ainda de uma reunião organizativa do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). Todos os tópicos debatidos ao longo do dia se casam perfeitamente com o tema que será discutido nesta sexta-feira (14) e que tratará de maneira específica da atuação dos movimentos sociais e do jornalismo sindical.
Por Táscia Souza, de Curitiba
Fotos: Alan Francisco de Carvalho e Táscia Souza