7 de setembro, Brasil, Independência ainda que tardia

Por Vítor Andrade*

Sete de setembro. O que se comemora neste dia? A escola da história positivista, principalmente dos anos 70 aos 90, tem a resposta exata; a escola de história marxista tinha a sua crítica e reflexão sobre a data e fazia uma alusão a luta de classes; a história crítica fazia questão de questionar o valor, seus símbolos e significados. Pois bem, os anos 2000 chegaram e no Brasil não conseguimos chegar a um consenso. Seria o 7 de setembro um retrocesso cultural ou um adormecimento cultural? Hoje não se faz nenhuma alusão à data e também não se tem apontamentos congruentes, a não ser aqueles que ficam restritos aos debates acadêmicos.

Pois bem, a data de 7 de setembro não é um acontecimento teatral realizado as margens do Rio Ipiranga; hoje já é possível ter uma noção clara dos fatos que contribuíram para esse evento, são observados outros pontos, linhas e vieses de estudos para explica-lo. A comemoração existe devido à Lei 662 de 1949, alterada em 2002 pela Lei 10.607. No Brasil, caso o 7 de setembro caia em um sábado ou um domingo, para a população é data morta, ao contrário do 4 de julho nos Estados Unidos, onde há um valor patriótico, heróico, fenômeno muito parecido com José Martí em Cuba e com Simon Bolívar na Venezuela. Aqui, o candidato a herói nacional, D. Pedro I, é substituído por jogadores de futebol e até participantes de reality show. Justifica-se, em parte, pelo fato de que o príncipe regente não herda um caráter libertador como os outros citados, e sim de um absolutista e centralizador político, que conduzia o país para não ter que seguir as ordens que seu pai, D. João VI, determinava na Europa. Uma independência feita sem revolução, sem a participação popular, e com ausência de lutas, tendo apenas alguns focos de resistência.

A data de 7 de setembro é comemorada com desfiles cívicos e militares. Aqui se tem mais ênfase na monarquia do que na República. Hoje em dia, no desfile, a sociedade civil organizada também participa, grupos se reúnem para protestar, e para mostrar que as coisas não andam tão bem no país. O tradicional “Grito dos Excluídos” é pouco noticiado, mas ainda é um foco vivo de resistência. O desfile é cada vez mais uma exibição das secretarias de Segurança Pública, pois desfilam policiais civis, rodoviários federais, polícia federal, entre outras forças de segurança. A Maçonaria desfila em alguns estados como pais legítimos do movimento de independência do Brasil. É necessário refazermos todas as críticas que fazíamos antes, a crítica de qual Independência estamos falando ou necessitando: financeira/econômica, social, cultural, de valores?

A semana da pátria comemorada na semana do 7 de setembro deve ser uma reflexão a todos os brasileiros sobre o que é acreditar no país, o que é de fato não desistir do país, muito mais que usar o verde e o amarelo (lembrando que este amarelo representando a casa Real dos Lorena, e o Verde a Casa dos Bragança no Brasil), que somos muito mais que a seleção de futebol, que somos um povo que tem esperança e brilho nos olhos, que acredita em dias melhores, que acorda cedo, luta, trabalha, que luta pela sua independência todos os dias nas paradas de ônibus, que procura enxergar em alguém um líder, que o busca, esse é o sentido do 7 de Setembro.

Acreditar no Brasil é acreditar no futuro do país, é acreditar que a educação é a semente a ser jogada, que o professor é o jardineiro da sociedade, que é preciso valorizar os profissionais em educação, para ter boa educação e boa segurança, para que a cultura seja um cotidiano, e isso não é função apenas do Estado, é função de todos. Precisamos conquistar nossa independência através do respeito, da dignidade, da tolerância, da educação, da democracia e da soberania; é dessa independência que estamos falando, da qual talvez D. Pedro I não tivesse noção exata quando gritou “Independência ou Morte!”. Se não buscarmos essa independência, só nos restará a morte.

*Vítor Andrade é professor de História e diretor do Sinproep-DF

Os textos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não necessariamente traduzem o posicionamento da Contee

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