“Juros exorbitantes estão esfacelando a nação”, afirmam centrais em manifestação no BC
Nesta terça-feira (21), as centrais sindicais e movimentos sociais realizaram manifestações contra a alta da taxa básica de juros do Banco Central (BC) e pressionaram para que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), reunido entre hoje e amanhã (22), reduza a taxa Selic, atualmente em 13,75%.
Em São Paulo, o ato ocorreu em frente à sede do BC, na Avenida Paulista, onde centenas de manifestantes pediram a saída do presidente do Banco, Roberto Campos Neto.
“Essa, provavelmente, é uma das principais lutas a serem travadas nesse início de governo. Nós ajudamos a eleger um projeto democrático popular. E é verdade que, se considerarmos que estamos diante de uma encruzilhada histórica, dado o esfacelamento da nação durante o governo Bolsonaro, uma mudança de rumo se faz necessária. Não é possível conceber que, diante da dificuldade da nossa gente, o Brasil siga correspondendo a uma das maiores taxas de juros do planeta”, disse o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo.
Adilson lembrou da recente fala do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em seminário realizado pelo banco BNDES, afirmando que “não há nada que justifique a manutenção de uma taxa de juro real de 8%”. Os juros também foram rechaçados pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que destacou em publicação recente que a “taxa de juros alta é crime contra desenvolvimento social”.
O presidente da CTB enfatizou que, enquanto isso, o ministro Fernando Haddad tem afirmado que Pacheco e Lula receberam bem o novo ‘arcabouço fiscal’. “Arcabouço fiscal? Nenhum arcabouço, até porque o povo sabe muito pouco o que diabo é arcabouço. Vai resolver o problema da carestia dos alimentos? Vai indicar controle da inflação? Baixar o preço do combustível e do botijão de gás? É isso que interessa ao povo”.
DESENVOLVIMENTO NACIONAL
Em janeiro, Haddad afirmou que o Brasil segue com muita responsabilidade e compromisso com a previsibilidade. “Mas que previsibilidade é essa?”, questionou Adilson. “Uma taxa de juros que alimenta a fúria insana de um conjunto de bancos. Bancos esses que lucraram, somente no ano passado, mais de R$ 100 bilhões. Que previsibilidade é essa que permite com que 1%, de acordo com relatório de organismo das Nações Unidas, controle 50% da renda do país? A gente elegeu um projeto assentado na defesa e desenvolvimento. A previsibilidade possível precisa ser construída com a nossa gente”, completou Adilson.
Os dirigentes lembraram da declaração do ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2001 e professor da Universidade Columbia (EUA), Joseph Stiglitz, que afirmou que o juro básico no Brasil é de um nível “chocante”.
Para o secretário geral da Força Sindical, João Carlos, o Juruna, o ato de hoje foi fundamental para demarcar a posição dos trabalhadores em defesa da queda dos juros e pela retomada de uma política de desenvolvimento nacional. “Os juros, que prejudicam a economia, prejudicam a indústria, prejudicam o investimento, prejudicam o comércio porque não há consumo, não há crédito. O que temos são trabalhadores em diversos segmentos demitidos, outros entrando em férias coletivas, como agora foi anunciado pelas montadoras”.
“Férias coletivas das automobilísticas geram também demissões ou férias coletivas na indústria de autopeças. Uma sequência negativa em cadeia. Por isso, essa manifestação tem por objetivo chamar a atenção da sociedade, da população, para que o governo federal tome providência. Para que o Banco Central, que se reúne hoje e amanhã, possa sinalizar à sociedade a queda da taxa de juros”, ressaltou Juruna.
Durante todo o ato, populares que passavam pela Paulista paravam para acompanhar as manifestações, demonstrando entusiasmo e concordância com os sindicalistas.
BENFÍCIO AOS BANQUEIROS
A presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, representando a CUT, seguiu no mesmo tom e afirmou que a redução da taxa de juros é fundamental para que o país retome o caminho do desenvolvimento. “Muitas pessoas têm perguntado ‘por que eu tenho que lutar para reduzir os juros? Essa luta é minha?’. Essa luta é minha. Essa luta é sua. Essa luta é nossa. Essa luta pode definir se a gente vai ter emprego amanhã ou não. Essa luta vai definir se nós vamos ter renda ou não. Se a gente vai estar na rua desempregado, sem lugar para moradia, sem lugar para morar porque não temos dinheiro para pagar, ou se vamos ter um país melhor. E depende do Banco Central reduzir a taxa de juros”.
“Reduzir a taxa de juros é essencial para o Brasil crescer, é essencial para a economia crescer. Porque os juros altos só beneficiam os banqueiros, só beneficiam os rentistas, os especuladores, aqueles que ganham muito. Juros altos encarecem toda a economia. O governo gasta mais com juros altos, então é menos dinheiro para construir escolas, para construir creches, para construir hospitais, para investir na saúde. O povo gasta mais quando vai financiar uma geladeira, uma televisão, quando vai lá no banco pegar empréstimo vai ficar mais caro. Vai ficar mais caro, porque os juros básicos da economia estão mais caros”, continuou Juvândia.
Juvândia lembrou que Bolsonaro sancionou a Lei de Autonomia do Banco Central, em fevereiro do ano passado, que impediu que Lula pudesse exonerar Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro. Com isso, o atual presidente do BC permanece no cargo, a princípio, até dezembro de 2024.
“Ou seja, o presidente Lula só vai escolher um bom presidente do Banco Central em 2025. Até lá ele vai ter que ficar com a política econômica do Paulo Guedes, do Bolsonaro? O mesmo presidente do Banco Central que estava nas manifestações de camisa verde e amarela, que foi fazer campanha para o Bolsonaro? Esse cara que está aqui definindo a taxa de juros tem que pedir para sair. É ‘fora Campos Neto’ e ‘abaixo a taxa de juro já!’. Isso é fundamental para o Brasil tenha emprego, para que tenha renda, para que tem investimento em infraestrutura, para construir escola, creche, para investir na saúde, contratar médicos, para que tenha remédio para todo mundo nas farmácias populares”.
“Nós não podemos também deixar de lado que essa política de juros maltrate nossas empresas, sobretudo as empresas que têm compromisso com um projeto nacional de desenvolvimento. Então esse movimento sindical precisa, sim, indicar um caminho de impacto entre a produção e o trabalho. Nós não vamos construir aliança com aqueles que apoiaram o Bolsonaro, mas nós queremos discutir com muita gente que tem compromisso com um projeto desenvolvimentista”, reforçou, ainda, o presidente da CTB.
“A centralidade da luta política há de exigir muito da nossa parte. Se a gente quer botar o pé na porta, se a gente quer um Brasil desenvolvido, nós temos que fazer da política a arte da guerra e somar junto, construir junto, radicalizar de forma consequente. Mandamos um recado para os banqueiros, mas também temos que mandar um recado para o nosso governo, que tem que levar ferro e a cabo a defesa de um projeto voltado a valorizar um trabalho e trabalhador. Sigamos juntos, e até a vitória”, sentenciou.
Além das centrais CTB, CUT, Força Sindical, UGT, CSB, Nova Central, CSP-Conlutas, participaram do ato entidades de diversos setores do movimento social como a UNE, UBES e UMES, pelo movimento estudantil; UBM, FMP, do movimento de mulheres; MTST, MDM pelo movimento de moradia; sindicatos de diferentes categorias, entre outros.
RODRIGO LUCAS PAULO