Lógica neoliberal compromete saúde mental na educação

Contee Conta desta semana entrevistou Jefferson Peixoto da Silva, tecnologista da Fundacentro. Doutor em saúde pública pesquisa sobre condições de trabalho e saúde de professores

É a última semana do mês, mas ainda dá tempo de falar sobre o Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio, que existe desde 2015. E foi exatamente sobre isso que o Contee Conta tratou nesta segunda-feira (25): o Setembro Amarelo e a saúde mental na educação.

O programa entrevistou Jefferson Peixoto da Silva, tecnologista da Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), ligada ao Ministério do Trabalho. Jefferson é graduado em história pela Unesp e em pedagogia pela Universidade 9 de Julho. Tem mestrado em educação pela Universidade Cidade de São Paulo e doutorado em ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP.

“Meu interesse por estudar o assunto começou justamente quando me tornei professor da educação básica. Eu era professor de história da rede pública de São Paulo. E logo que comecei a atuar, tive que lidar com questões na sala de aula que começaram a desafiar a minha saúde, sem que eu percebesse”, contou. “No primeiro momento, achei que poderia suprir essas dificuldades estudando mais e melhorando minha formação. Com o tempo percebi que os problemas continuaram”.

Jefferson relatou que começou a achar que a docência já não era algo que ele queria. “Lembro de um dia lindo em que estava em casa com a minha filha, e tinha nada mais nada menos que 1200 provas para corrigir e um prazo apertado para colocar todas aquelas notas no sistema. E foi aí que percebi que a minha vida estava sendo invadida pelo trabalho.”

O doutor em saúde pública e tecnologista da Fundacentro explicou que, com o excesso de trabalho, o estresse começou a ser contínuo em sua vida, o que começou a se refletir em sua saúde física. A amigdalite tornou-se recorrente e ele precisou ir tantas vezes ao hospital que até os médicos começaram a achar que era fingimento. Com o caso, ele exemplificou como os sintomas físicos podem ser causados por transtornos emocionais e psíquicos.

A coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee, Cristina Castro, que participou do programa, apontou, por sua vez, como a pandemia prejudicou muito a saúde mental dos professores, com a sobrecarga de serviços que invadiram as casas dos docentes. Jefferson ponderou, conforme detectado nas pesquisas das quais participou, a invasão na vida do professor e o acúmulo de tarefas não surgiram com a pandemia. Essa precariedade já existia e a pandemia serviu apenas para potencializar esses problemas.

“Muitos dados que foram obtidos para as pesquisas, foram graças a lei de Acesso à Informação. Já tive muitos dados negados, inclusive pela rede pública e esses dados não vieram”, explicou Jefferson sobre as dificuldades de conseguir dados sobre a saúde de professores. Cristina também pontuou que muitos laudos sobre os professores podem ser burlados se a causa do afastamento for saúde mental, justamente para não serem reconhecidas como uma doença causada pelo trabalho. Ela lamentou ainda o isolamento dos trabalhadores em sofrimento mental.

“É importante tentar entender essas causas de adoecimento da saúde mental dos professores. E precisamos entender que nem tudo está sob o nosso controle, muita coisa é da organização do trabalho. Os sindicatos também precisam ser valorizados, como uma instância histórica de acolhimento das causas lutas coletivas, por trazer esse apoio para os professores”, defendeu Jefferson.

Se você precisa de ajuda, disque 188. O Centro de Valorização à Vida funciona 24 horas por dia.

Vitoria Carvalho, estagiária sob supervisão de Táscia Souza

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