Declaração de Tarcísio sobre Boulos e PCC deixa marcas para próximas eleições, afirma analista
Renato Eliseu Costa analisou os resultados do segundo turno das eleições no Central do Brasil desta segunda (28)
O dia do segundo turno das eleições municipais em São Paulo foi marcado por uma tentativa do governador do estado, Tarcísio de Freitas(Republicanos), de vincular Guilherme Boulos (Psol) ao PCC. Tarcísio, que apoiou ativamente Ricardo Nunes, afirmou que criminosos ligados ao PCC teriam orientado voto em Boulos, sem apresentar nenhuma prova.
Para Renato Eliseu Costa, professor de ciência política da FESPSP e doutor em políticas públicas, a motivação por trás da declaração de Tarcísio vai além de influenciar votos no dia da eleição. Representa, também, uma afiliaçãoao bolsonarismo.
“Essa prática de acusar candidatos de ter uma ligação com organizações criminosas é algo recorrente [no bolsonarismo], ele repete essa prática, tentando não só uma vitória eleitoral, mas já deixando marcas para um próximo processo de eleição ou a continuidade, na verdade, da forma que essa direita vem tratando da política e a democracia no nosso país”, acredita.
O especialista também acredita que a abstenção na capital paulista, que atingiu o recorde de 31,54% neste segundo turno, indica um cenário preocupante de descrença na política como um todo.
“É importante a gente repensar como a gente vai trazer a população de novo pra essa esferas participativas, para esse momento tão importante da democracia que é a eleição. E para além do número de abstenções, chama atenção o número de eleitores que ou votaram no número do Marçal, cerca de 20 mil eleitores, ou votaram ainda em números como o de Datena, dois candidatos que já não estavam mais no segundo turno, manifestando em alguma medida um voto de protesto, ou uma desatenção com esse processo eleitoral. De qualquer forma, são dados que trazem elementos pra gente se preocupar com a nossa democracia”, explica Costa.
Pelo país, o segundo turno consolidou a força dos partidos do chamado Centrão: o PSD se firma como grande vitorioso das eleições municipais de 2024. O partido de Gilberto Kassab conquistou a prefeitura de 891 cidades. Na sequência vem o MDB, com 864 prefeituras, o PP com 752, e o União Brasil com 591. O PL, partido de Bolsonaro, ficou em quinto lugar no ranking, com o comando de 517 cidades. O PT ficou em nono lugar, com 252 prefeituras.
Renato Eliseu Costa acredita que esse cenário de enfraquecimento do PL e do PT, e o fortalecimento do centrão, aponta uma tendência para as eleições presidenciais de 2026.
“É importante as forças políticas, principalmente o governo federal, que agora se encontra no poder na figura do PT, que preste bastante atenção no resultado dessas eleições. Apesar do PT ter crescido em número de prefeituras em relação à eleição passada, claramente o vitorioso dessa eleição é o centro, e um centro-direita. E por que as prefeituras são importantes nesse cenário? Porque são nas prefeituras onde vão acontecer a exposição desses candidatos, o papel dos deputados federais ali buscando votos e apoiando candidatos à presidência. Então o jogo eleitoral nos municípios vai ser muito grande, e o centrão, principalmente na figura do PSD e na figura do MDB, tem avanço significativos”, explica.
O especialista ainda afirma que as emendas parlamentares tiveram um papel fundamental nesses resultados, fortalecendo esses partidos em cidades pequenas e médias, e ainda, colaborando para a reeleição de 80% dos candidatos que já tinham mandato de prefeito.
“O papel que o Congresso Nacional tem exercido através das emendas parlamentares e através dessa figura da emenda secreta foi fundamental na mudança desse jogo político do município e certamente vai continuar, se não bem freadas, se a gente não voltar para o princípio das transparências, vai ser um elemento importante nas eleições presidenciais”.
A entrevista completa está disponível na edição desta segunda-feira (28) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.