Maria Marta assume Secretaria de Formação da Contee
“Precisamos atrair os jovens para o movimento sindical”
Maria Marta de Andrade Cerqueira, carinhosamente conhecida no movimento sindical como Martinha, é professora de formação em educação infantil e uma apaixonada pela educação. Sua trajetória sindical é marcada pela dedicação e pelo compromisso com a valorização da categoria docente.
Há cerca de 11 anos no Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Regiões (Sinpro-Rio), Martinha ocupou cargos estratégicos, como diretora de Educação e Cultura por oito anos, e atualmente exerce a função de secretária-geral, posição que pretende continuar ocupando nas próximas eleições. Sua atuação, no entanto, vai além do sindicato: integra também a gestão da FETERJ, na Secretaria de Administração, e recentemente assumiu a função de conselheira no Conselho Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
Ao longo de sua trajetória, participou de importantes lutas sindicais. Esteve na linha de frente da greve histórica de 2017, contra a reforma trabalhista, a reforma da Previdência e o novo ensino médio. Foi também uma das vozes de resistência ao projeto Escola Sem Partido, mobilizando mais de 100 escolas em um grande ato no Largo do Machado. Além disso, engajou-se em movimentos sociais voltados à equidade e à valorização das mulheres, como as Marchas das Margaridas, o Levante Feminista e diversas mobilizações do 8M.
Atenta à realidade dos professores e das professoras da educação infantil, Martinha tem dado visibilidade à luta contra os salários desiguais e às dificuldades enfrentadas diariamente por esses profissionais no cuidado e na educação das crianças.
Neste ano, ela assumiu a coordenação da Secretaria de Organização e Formação Sindical da Contee, um desafio que considera uma oportunidade de aprendizado e de construção coletiva ao lado de colegas de diferentes regiões do país.
Com coragem, esperança e compromisso, Martinha segue firme na missão de fortalecer o sindicato, defender a educação pública e dar voz a docentes e técnicos administrativos em todo o Brasil, unindo experiência e inovação para construir um movimento capaz de dialogar com todas as gerações.
Primeiras articulações na Secretaria de Formação Sindical
“Ao assumir a coordenação da Secretaria de Organização e Formação Sindical da Contee, Martinha estruturou a equipe com José Jorge Maggio, o JJ do Sinpro ABC; Pedro Rafael Machado de Godoi Garcia, o Tico do Sinproep-DF; e Newvone Ferreira da Costa, do Sinpro-Rio. Juntos, já realizaram encontros para discutir prioridades e estratégias, com destaque para a aproximação de jovens sindicalistas.
‘Como atrair os jovens para a nossa categoria? Esse é um dos principais temas que discutimos’, explicou Martinha. A secretaria planeja enviar uma pesquisa aos sindicatos para mapear interesses, expectativas e dúvidas da juventude, construindo um plano de formação que integre novas gerações e fortaleça o sindicalismo.
Martinha observa que a presença dos jovens nas reuniões sindicais ainda é tímida, o que reforça a necessidade de aproximá-los do movimento. A dirigente destaca que a secretaria busca equilibrar estratégias tradicionais e novas tecnologias.
‘É um grande desafio hoje trazer os jovens para o mundo sindical. A gente conquista estando perto da categoria, mostrando nosso trabalho e a importância da luta. Por isso queremos saber o que eles pensam, quais são suas dúvidas e interesses, para traçar objetivos que estejam próximos deles e caminhar juntos’, afirma.
Na visão de Martinha, a pesquisa junto à base, combinada com ações de contato direto, permitirá que experiência e renovação se complementem, fortalecendo o sindicalismo de forma democrática e participativa.”
Pejotização e conscientização da categoria
A primeira ação concreta da secretaria será uma live sobre a pejotização na educação, marcando o início de um trabalho coletivo, inovador e conectado às demandas da categoria. “É uma secretaria que faz coletivamente, junto com outras secretarias também”, ressalta.
Martinha considera fundamental conscientizar os professores sobre os prejuízos da pejotização e da terceirização na educação. Segundo ela, muitos profissionais não percebem as perdas que enfrentam ao atuar sem carteira assinada. “Visitando uma escola, um professor me falou: ‘Aqui eu tenho carteira assinada, mas em outra escola não’. E ele não percebe as perdas que está tendo ao não ter carteira assinada. E também o que isso causa aos outros colegas, que acabam também sem direitos”, explica.
Para a dirigente da Contee, a pejotização faz com que o professor perca conquistas históricas do sindicato, que não se limitam à CLT, mas incluem benefícios como a aposentadoria especial, entre outros. “Ele perde toda uma convenção coletiva que é batalhada a cada ano e renovada com novas cláusulas sociais”, afirma.
Na luta pela valorização dos trabalhadores e das trabalhadoras da Educação
Martinha destaca os desafios de atuar no sindicalismo diante de uma realidade complexa e antagônica. Segundo ela, “não é fácil militar no sindicato com uma realidade tão contraditória”, mas reforça que a principal estratégia é estar junto da categoria, mostrando os prós e contras e conscientizando sobre a importância do sindicato.
Para ela, a entidade é “a casa deles”, onde se conquistam melhores salários e condições de trabalho. “Uma andorinha só não faz verão. Quando se elege uma diretoria, a diretoria sozinha não faz nada. Precisamos da categoria junto, batalhando, conquistando, lutando nas ruas”, frisa.
A coordenadora evidencia a necessidade de valorizar os professores e as professoras diante do cenário de adoecimento crescente da categoria e do desinteresse pela profissão. A campanha do Sinpro-Rio, que utiliza o slogan “Educação tem nome, CPF e impressão digital”, busca não só valorizar a categoria, mas também sensibilizar a sociedade sobre a importância da educação na formação de sujeitos críticos e autônomos. “Cada vez mais que estamos nas ruas, falando com a sociedade e com a categoria, é uma forma de reivindicar melhores salários, condições de trabalho e uma vida melhor para todos e todas”, salienta.
Martinha também chama atenção para os impactos da sobrecarga de trabalho na saúde mental dos professores e professoras. Ela aponta que a hora-atividade — correção de provas, avaliações, trabalhos individualizados e planejamento, por exemplo — não é remunerada. O excesso de funções e a necessidade de atuar em várias escolas resultam em jornadas extenuantes.
“Essa hora-atividade não é remunerada; a gente diz que é um trabalho escravo. É preciso oferecer remuneração digna a esse educador, para que ele possa trabalhar menos, em menos escolas, e oferecer o ensino adequado a cada turma com leveza, sobrando tempo para seu lazer e ficar com sua família”, defende.
Mobilização se faz com internet e calor humano
Martinha evidencia que mobilizar a categoria pela internet não substitui a presença física. “Não se faz mobilização só pela internet. Hoje, diante de tantas telas, o grande desafio para o mundo sindical é trazer esse corpo a corpo”, afirma.
Para ela, o trabalho de base é fundamental, mas muitas pessoas estão desgastadas e priorizam a vida doméstica e familiar. “Está muito cômodo hoje abrir a tela e acompanhar o que acontece, mas isso não tem a substância que os atos de rua têm. Precisamos somar internet e presença. Não podemos abrir mão do contato humano, do calor humano, da troca”, alerta.
Martinha sublinha que o sindicato se constrói no contato direto, no corpo a corpo. “Eu fui contagiada por um sindicalista que visitou minha escola. A conversa presencial desperta, acolhe e abre caminhos. A gente se constitui como sujeito na relação com o outro. Não é pela internet, é no contato direto”, pontua.
Ela lembra que não é a quantidade de tempo que importa, mas a qualidade: estar realmente junto, olhar, ouvir, dialogar. “Hoje, muitas pessoas deixaram de se conectar afetivamente; você vai a um restaurante e vê casais, cada um no celular, sem interagir. O ser humano foi feito para estar com o outro, e sem essa conexão afetiva não conseguimos olhar, escutar ou caminhar juntos. O sindicato é justamente isso: relação, presença, construção gradual. É um processo de aproximação, cuidado e construção conjunta”, contextualiza.
Live sobre a pejotização hoje (29), às 19h
Por fim, Martinha deixa um chamamento à participação: “A luta é grande, mas quero estar junto com vocês, com esperança e coragem, batalhando pela nossa categoria. Convido todos e todas para a nossa live hoje (29 de setembro), às 19h, pela plataforma Zoom: ‘Pejotização na educação: liberdade ou precarização?’. Vamos falar sobre o que significa isso para nossa categoria. Contamos com vocês.”
Por Romênia Mariani





