Vitória de Kast no Chile aprofunda polarização na América Latina, analisa especialista

Governos de extrema direita priorizam alinhamento com EUA e têm visão 'soberanista' que marginaliza blocos como a Celac

A vitória da extrema direita no Chile, com a eleição de José Antonio Kast, reacendeu o debate sobre os rumos da política na América Latina e o avanço de governos conservadores. Ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a professora Miriam Gomes Saraiva, do departamento de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), enxerga a região cada vez mais polarizada.

“Alguns governos — obviamente de direita — tendem a ficar mais alinhados aos Estados Unidos, como vemos na Argentina, com o Javier Milei. Não necessariamente todos estão ligados ao Trump. Na verdade, são governos mais próximos à extrema direita do que a uma direita tradicional, refletindo na Celac, a Comunidade de Estados Latino-Americanos. É difícil ter um consenso”, destaca.

Para a professora, as redes sociais e a desinformação também são fatores que colaboram com a polarização na América Latina.

“Se há um tempo havia uma concentração em poucos jornais, uma visão política e visões de valores mais ou menos parecidas entre si, hoje em dia você tem essa imensa variedade. Essa imensa variedade de informações acaba incentivando ideias extremamente polarizadas, incluindo visões de mundo diferentes”, explica.

Política chilena

O novo quadro do Chile, com a eleição de Kast, deverá refletir no perfil de política externa do país. Pautas prioritárias do governo de Gabriel Boric, como feminismo, meio ambiente e fortalecimento do multilateralismo, não devem ser prioridade na agenda do presidente eleito. “Podemos imaginar que a política externa chilena vai mudar bastante”, acrescenta Miriam Gomes.

“Esses presidentes de extrema direita têm também uma perspectiva muito soberanista, em que a cooperação e a integração ocupam um lugar secundário. Então, isso afeta, sem dúvida, o equilíbrio ou desequilíbrio político da América Latina”, pontua.

Segundo a especialista em Relações Internacionais, o principal desafio para as forças progressistas atualmente é manter a democracia de pé e as instituições fortes.

“Se você não tem instituições fortes, eles podem deformar e desrespeitar a democracia. Com uma base fortalecida, a tendência é que eles cumpram o mandato eleitoral e irem embora depois. O que não pode deixar acontecer é que ocupem mais espaço, se instalem e, por meio de políticas autoritárias, não queiram mais sair”, finaliza.

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