Mulheres em sociedade?
Por Vítor Andrade*
Pode parecer apenas mais um texto a respeito deste assunto, mas nos perguntamos: aonde vamos parar? A crueldade e a violência nos parecem estar numa grandeza diretamente proporcional à impunidade em nosso país. A violência contra a mulher não é apenas contra o gênero feminino, é também contra dignidade humana.
Por séculos houve uma expressão, diria hoje machista, de que a mulher era sexo frágil, mas desde longa data já se sabe que a mulher e o homem podem desenvolver todas atividades em comum. Hoje as mulheres chefiam o lar, trabalham fora, sustentam a casa, ou seja, a ideia do sexo frágil não se confirmou. A mulher não é e nunca deverá ser submissa a um homem.
Foi divulgada, dias atrás, uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que, ainda que posteriormente tenham divulgado que os dados apresentavam erros, ainda causa estranheza por mostrar que nossa sociedade trata como natural a violência de gênero. Parte da nossa sociedade, aproximadamente um quarto, ainda acredita que a roupa da mulher justifica o estupro, ainda que o índice real não tenha sido os mais de 60% anteriormente divulgados. A mulher ainda é subjugada, discriminada e desrespeitada, dentro e fora de casa. Considera-se aceitável que a mulher ganhe menos que o homem para desempenhar a mesma atividade, ainda que a qualificação da mulher seja muitas vezes superior.
Recentemente o país vive momentos de crise em relação à mulher. Ainda que o combate à violência contra a mulher tenha tido um importante avanço com a Lei Maria da Penha, infelizmente ainda ocorrem muitos casos de desrespeito e violência. No Rio de Janeiro, uma mulher, Cláudia Silva, foi arrastada pela rua como se fosse um objeto qualquer por policiais militares. É óbvio que não é apenas a violência contra a mulher o único problema do caso em tela, existem várias versões sobre o caso. Discute-se a violência, os despreparo policial, a existência de favelas, a pobreza.
O Caso da Irmã Dorothy Stang ainda está sem solução, o caso da sindicalista Margarida Alves completou 30 anos sem respostas, o da juíza Patrícia Acioli e tantos outros casos que aparecem nas delegacias e no júri de todo o país mostram que não existe classe social e nível intelectual para a violência; todas essas citadas sofreram violência e morreram por consequência da falta de humanidade, e não podem ficam sem solução. Todas essas mulheres acima foram mulheres guerreiras e demonstram o incômodo causado por mulheres que não aceitaram ser submissas a um sistema opressor. Essas mulheres pagaram com suas vidas lutando por todos.
As escolas, os sindicatos, as Igrejas, as associações de bairro, os partidos políticos e locais que abrangem grande público devem abordar a questão do respeito aos direitos femininos e funcionar também como fiscalizadores desses direitos. Devem ser criadas secretarias, movimentos pastorais que exijam a paridade e a igualdade entre homens e mulheres, para que não preenchamos páginas de noticiários com notícias lamentáveis e, muito além disso, com impunidade. O Estado demorou muito a reagir, e a sociedade civil ainda está demorando, apesar de grande avanços. Ainda falta muito. E o primeiro local de divulgação e disseminação da tolerância, da verdade, da humanidade e da igualdade tem que ser a escola, não tem outro lugar, e o lar e o convívio social, lugar de se praticar o que foi aprendido nas fileiras escolares.
Esperamos que a cada dia as mulheres tenham mais força para exigir seus direitos, e sejam multiplicadoras da fraternidade, da igualdade e da justiça. E que os homens percebam que a tolerância, a paciência e o respeito devem pautar todas as relações sociais para que nossa sociedade seja melhor e mais humana.
*Vítor Andrade é professor de História e diretor do Sinproep-DF