Ascensão conservadora no primeiro turno das eleições lança sombra sobre educação
São Paulo – A dianteira de menos de 10 pontos percentuais de Dilma Rousseff (PT) em relação a Aécio Neves (PSDB) no primeiro turno das eleições presidenciais, bem como os resultados para a Câmara dos Deputados e o Senado, colocam em alerta os defensores de uma política progressista para a educação pública: a sociedade brasileira como um todo está mais à direita, e será mais difícil avançar o debate nos próximos quatro anos. “Chama a atenção que, entre os parlamentares, foram eleitos muitos representantes de partidos de esquerda que são, pessoalmente, mais conservadores. Ou seja, há uma guinada de toda a sociedade, e isso precisa ser debatido”, ressalta Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
“Durante a campanha, o ponto que foi mais discutido foi a implantação da educação integral e a expansão do acesso ao ensino técnico profissionalizante e superior. São discussões importantes, mas que não entram no mérito da qualidade do ensino. Nas manifestações de junho do ano passado, o que as pessoas pediam era qualidade”, ressalta Daniel. Essa demanda, no entanto, não se reverteu em votos para a bancada da educação pública.
“Ainda não temos os resultados finais, mas a bancada progressista dá sinais de que vai cair. Perdemos aliados importantes. Tivemos vitórias também, como a eleição a senadora da Fátima Bezerra pelo Rio Grande do Norte, com, talvez, o melhor resultado proporcional já obtido por uma mulher em eleições, mas o quadro geral é negativo”, pondera.
Daniel ressalta que, com um Legislativo mais conservador, o principal problema serão as bancadas dos sistemas privados de educação e das igrejas. “Os obstáculos que enfrentamos, e que se intensificarão na próxima legislatura, são os parlamentares ligados ao setor privado de ensino e às entidades religiosas que ocupam a Comissão de Educação. Desse jeito, não haverá projeto de lei importante sobre educação que não passe por discussões que podem travar a pauta, como, por exemplo, a laicidade do Estado.”
Ele aponta ainda a vitória de Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno em São Paulo como outro sinal de que é necessário mudar a forma de dialogar com a população. “O Alckmin tem um cabedal de programas bem avaliados pela população. Está estabelecida em São Paulo uma rejeição muito forte ao PT e à esquerda, como um todo. Muitas vezes a iniciativa do militante é criticar o eleitor, mas é necessário entender a população”, afirma.
Da Rede Brasil Atual