O planejamento estratégico situacional – PES e La Panificación estratégica situacional
“Mais uma vez contamos com a grata contribuição da professora Liliana Aparecida de Lima, Diretora de Formação do Sinpro Campinas e Região, da APROPUCC e professora do CES – Centro de Estudos Sindicais.”
As experiências Brasileira e Cubana
“O que define o caráter estratégico de uma decisão é a duração do efeito desta decisão e seu impacto sobre o futuro da Organização.”
(Prof. Pedro Orlando Cairo)
Em artigo anterior pude situar o leitor sobre o Curso de Postgrado para uma delegação de 13 professores brasileiros, formadores do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho – CES, realizado no período de 1º a 10 de Julho de 2015 em Havana – Cuba.
Fiquei muito curiosa e motivada quando vi que fazia parte do temário das aulas uma disciplina chamada La Planificación Estratégica Situacional – Concepto, Modelos y Métodos que seria ministrada pelo Professor Especialista Pedro Orlando Cairo.
O CES realiza o Planejamento Estratégico Situacional – PES em diversas entidades sindicais tanto filiadas à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB, como também para entidades filiadas a outras centrais e/ou independentes.
Augusto César Petta (Coordenador Técnico do CES) e eu, vimos acumulando uma larga experiência teórica e metodológica na execução do PES, procurando atender ao máximo as demandas que surgem das entidades sindicais, prioritariamente filiadas à CTB, para dar cumprimento ao convênio firmado entre CES e CTB Nacional, que possibilita que todas as CTBs Estaduais possam realizar além dos cursos de Formação Básica 1ª e 2ª etapas, dos Cursos de Gestão Sindical 1ª e 2ª etapa, dos Cursos de Formação de Formadores/as, o Planejamento Estratégico Situacional – PES em suas entidades.
Bem, para efeito de controle dos PES realizados, o CES possui em seu acervo institucional, os relatórios finais que são cuidadosamente revisados por mim e finalmente entregues ao CES para que constem em seus arquivos.
Por ocasião do lançamento do livro de Gestão Sindical organizado por Augusto Petta onde há o capítulo sobre a Importância do Planejamento Estratégico Situacional, pude recorrer aos relatórios entregues ao CES para identificar dados importantes que os mesmos revelam, tais como as prioridades elencadas por regiões do País, entre outros. Estes dados se constituem em fotografias do momento vivido pelas entidades e podem ser qualitativamente muito bem aproveitados pela CTB Nacional para traçar as suas políticas estratégicas para as regiões do Brasil.
Bem, mas o que poderiam ser aproximações e/ou distanciamentos entre o PES que desenvolvemos aqui no Brasil e La Planificación Estratégica Situacional que estudaríamos em Cuba?
Posso dizer-lhes que na sua essência os modelos são muito semelhantes e pudemos trocar ricas experiências mesmo trabalhando com autores diferentes. Há alguns eixos comuns e há algumas peculiaridades muito interessantes na proposta desenvolvida em Cuba.
As perguntas são: O que podemos aproveitar do que aprendemos com o Professor Cairo para adaptarmos e até aprimorarmos ao nosso modo de fazer o PES? Considerando o nosso contexto sindical (tempo que as entidades destinam à realização do PES, número de participantes etc.), como poderíamos incluir alguns passos do planejamento que aprendemos lá?
Para situar o/a leitor/a, atualmente fazemos o PES nas entidades sindicais em 4 períodos – 16 horas (normalmente aos finais de semana em uma situação em que é a primeira vez que a entidade realiza o seu planejamento); quando voltamos após um ano para o que denominamos de revisão do PES, o realizamos em 3 períodos – 12 horas (há passos realizados da primeira vez que não são mais necessários nas execuções posteriores mas há um passo fundamental que é a avaliação apresentada ao coletivo do que foi planejado e cumprido ou não com as respectivas justificativas).
Em Cuba, eles realizam o planejamento reunidos durante 1 mês! Lá eles possuem outras condições que favorecem a participação e que atualmente não identifico estas condições nos sindicalistas brasileiros pois muitos dirigentes não são liberados integralmente para desenvolverem as tarefas sob suas responsabilidades.
Aqui no Brasil limitamos o grupo em no máximo 35 dirigentes em função do tempo exíguo e lá em Cuba o professor Cairo disse que quanto mais gente participar é melhor, pois as contribuições ficam mais ricas ainda!
Aqui no Brasil planejamos as entidades para 1 ano e realizamos revisões anuais; em Cuba eles planejam por 5 anos com revisões anuais.
Vejam, temos outro contexto para a nossa atuação aqui no Brasil, nossa realidade é bem diferente e ficarmos encantados com uma proposta e não refletirmos sobre a sua real possibilidade de implantação, mesmo que parcialmente, poderá resultar em frustrações se não considerarmos as condições dadas à realização do nosso trabalho.
Conversando com uma companheira de curso que já participou de alguns PES coordenados por Augusto e por mim, portanto conhece a metodologia de trabalho, perguntou: “Lili, será que daria para fazermos alguns dos passos que eles fazem aqui nos PES que são realizados nas entidades no Brasil?”
Na sequência disse-me: Daria para trabalhar com as Fortalezas, Debilidades, Ameaças e Oportunidades como aprendemos aqui?” Respondi que as condições de participação em nossa realidade são diferentes mas que podemos pensar em como incluir as contribuições de uma outra experiência no trabalho que desenvolvemos.
Foi bastante desafiadora esta disciplina durante o curso porque desde o primeiro dia fomos orientados a trabalhar em equipes, com responsabilidades de temas diferentes, para ao final do curso apresentar o que eles chamam de Taller, ou seja, uma oficina denominada: Estrategia de Capacitación para Cuadros, Dirigentes e Instructores del CES.
Nestas equipes, exercitamos os seguintes passos para o taller final: A Missão do CES, A Visão do CES, Fortalezas e Debilidades que possam ter implicações no trabalho do CES, Ameaças e Oportunidades que possam ter implicações no trabalho do CES e Elaboração de um Plano de Ação que corresponda à estratégia de capacitação do CES considerando os elementos aportados pelas equipes anteriores.
O trabalho foi riquíssimo e revelou que também o nosso grupo, formado por dirigentes sindicais que já viveram a experiência do PES em suas entidades (alguns por mais de uma vez), enfrentou dificuldades em compreender as dimensões propostas pelo modelo cubano.
Portanto, por mais que tenhamos voltado encantados com o que aprendemos (e eu digo que sou uma destas entusiastas), precisamos ter cautela nos futuros ajustes e para tanto, Augusto Petta e eu já estamos amadurecendo o aperfeiçoamento do nosso trabalho do PES junto ao CES.
Aos que não conhecem mais profundamente a proposta de Carlos Matus cuja concepção adotamos para fazer o PES nas entidades sindicais, identifico na proposta cubana alguns correlatos o que nos coloca em uma posição bastante favorável no trabalho que desenvolvemos. Os correlatos estão abaixo descritos:
Experiência Brasil/CES | Experiência Cubana |
Problemas | Debilidades |
Torpedos* | Ameaças* |
Análises de conjuntura (local, nacional, internacional) | Cenários Plácidos e/ou Turbulentos |
Pequena, Média ou Alta Viabilidade** | Oportunidades** |
Objetivos Gerais (Construir uma Imagem Objetiva para ser atingida Estrategicamente) | Visão |
Papel (Razão de ser de uma Organização) | Missão (Razão de ser de uma organização) |
* Por uma questão do tempo destinado à execução do PES nas entidades sindicais, esta etapa dos Torpedos não é realizada.
** Por uma questão do tempo destinado à execução do PES nas entidades sindicais, esta etapa da Viabilidade (pequena, média e alta) não é realizada.
*** Estas etapas somente poderão ser executadas se o tempo destinado à execução do PES for ampliado, estudo este que o CES está realizando para possível implementação.
Há uma questão que destaco no que diz respeito ao controle do Planejamento Estratégico Situacional. Em ambas as experiências o controle é fundamental para lograr êxito ao PES.
Portanto, quando insistimos na confecção do relatório (que alguns responsáveis demoram em fazê-lo) e na indicação de pelo menos dois participantes da entidade para monitorar/controlar o PES permanentemente, estamos apenas garantindo que o trabalho do PES seja o guia que apontará os caminhos para o enfrentamento das debilidades das entidades e fazê-las avançar na superação do improviso na gestão das mesmas.
Dra. Liliana Aparecida de Lima
Psicóloga, Psicoterapeuta, Psicodramatista Didata Supervisora, Professora da PUC-Campinas, Professora do CES, Diretora de Formação do Sinpro Campinas e Região e Diretora da APROPUCC.
Campinas, 26 de Julho de 2015.
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