A política cultural do governo golpista é a truculência policial e a falta de cultura
Como se não bastasse a ação truculenta da Polícia Federal na madrugada de segunda-feira (25) para cumprir ordem de reintegração de posse do Palácio Gustavo Capanema, um dos prédios do Ministério da Cultura (Minc) ocupado há 70 dias por artistas em defesa da cultura e da democracia.
O Minc publicou ontem (26) diversas portarias exonerando mais de 70 servidores que exerciam cargos de chefia. As dificuldades da cultura começaram com a posse do desgoverno golpista e a extinção do Minc. Os artistas realizaram um movimento de ocupações nas 27 capitais brasileiras de edifícios do ministério, o desgoverno voltou atrás.
O movimento Ocupa Minc RJ tornou-se um dos principais símbolos de resistência ao golpe. A atriz e diretora Bia Lessa diz em vídeo que “aconteceram coisas muito extraordinárias “ nessa ocupação.
Ali virou um “lugar de encontro de todas as classes sociais”. De acordo com ela, isso é o que “deveria acontecer em todos os campos da cultura”. Mas ela ressalva que a desocupação é muito triste, porque deixa o país mais pobre.
Para Lessa, o movimento sustentado por mais de 2 meses no prédio do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, pertencente ao Ministério da Cultura, “dá uma esperança de que o futuro possa ser muito legal”.
Já o ator Humberto Carrão conta que os cariocas e fluminenses conhecem o jeito “PMDB de governar”, onde “as empreiteiras e as empresas de ônibus pensam a cidade”. Vários artistas disseram que a resistência continua.
Inclusive funcionários do Palácio Capanema desmentiram a direção do Minc de que estavam sendo impedidos de trabalhar. “Nunca fomos impedidos de entrar ou trabalhar (…) A gente conviveu muito bem com a ocupação”, escreveu funcionária do Iphan.
Os artistas denunciam também a construção de mais um “muro da vergonha” para impedir a reocupação do prédio. Esse é o diálogo prometido pelo ministro interino Marcelo Calero, quando assumiu o Minc, cargo rejeitado por ao menos cinco mulheres?
Para a secretária de Formação e Cultura da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Celina Arêas, a ação para desocupar o prédio no Rio de Janeiro, envergonha o Brasil, faltando poucos dias para a inauguração dos Jogos Olímpicos, época em que o mundo todo está de olho no país.
“A cultura expressa a alma de uma nação e a sua desvalorização entristece o país todo e castra nossos sonhos de construir uma civilização onde prevaleça o amor, a generosidade, o respeito aos direitos humanos e a alegria”, finaliza Arêas.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy
Veja abaixo o manifesto da Frente Ampla de Trabalhadoras e Trabalhadores do Serviço Público pela Democracia
Aprisionar o Palácio Capanema é aprisionar o sonho de um Brasil independente e para todos
Em 1936, uma equipe de arquitetos liderada por Lucio Costa projetou no Rio de Janeiro o primeiro arranha-céu modernista construído no mundo: o Ministério da Educação e Saúde Pública, encomendado por Gustavo Capanema. O “risco original de Le Corbusier” para a obra fora em muito alterado pela equipe brasileira, composta ainda por ninguém menos que Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão e Ernani Vasconcellos. A principal invenção era o chão da quadra completamente aberto, o grande bloco elevado sobre um pilotis colossal, produzindo uma urbanidade única: um híbrido entre espaço público e privado, um símbolo de progressismo (em pleno Estado Novo), um modelo em todos os sentidos, globalmente reproduzido.
A abertura e generosidade do hoje chamado Palácio Gustavo Capanema é parte do seu caráter. Era a esperança de que a industrialização traria independência econômica e cultural a todos, indistintamente, para além das oligarquias. É parte da configuração reconhecida mundialmente como Patrimônio Cultural. É parte de um grito de autodeterminação do povo brasileiro, que reverbera por décadas, e agora tentam sufocar. É o edifício-praça que acolhe o cidadão em seu cotidiano, que dá lugar a blocos carnavalescos populares, que abrigou o OcupaMinc na capital fluminense: um dos principais focos de resistência democrática ao gabinete conservador, misógino, racista, elitista, entreguista e opressor que se apossou do poder em nosso país por meio de um golpe de estado em 2016.
Hoje, após uma brutal desocupação sem diálogo, a praça do Palácio Capanema foi cercada por um muro de aço e arame farpado. O pretexto era, ironicamente, a continuidade das obras de restauro do edifício. É na verdade um ato de desespero opressivo do gabinete golpista. É sinal inequívoco das reais intenções dessa caterva, cega pelo seu desejo de coagir, explorar, excluir.
Aprisionar o edifício neste momento é aprisionar o sonho de uma nação para todos.
O povo do Rio de Janeiro e de todo o Brasil saberá entender esta agressão e reagirá.
Golpistas, não governarão!
25 de julho de 2016