O golpe continua, mas a luta contra ele também

O golpe que se desenrola no Brasil teve um novo capítulo hoje (4). Na véspera da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a Comissão do Especial do Impeachment do Senado aprovou, por 14 votos a cinco, o relatório do senador tucano Antonio Anastasia (MG) favorável ao prosseguimento do processo e ao julgamento da presidenta Dilma Rousseff por crime de responsabilidade – ainda que os supostos “crimes” de que acusa Dilma sejam as chamadas pedaladas fiscais também colocadas e prática por ele quando ocupava o cargo de governador de Minas Gerais. Diante desse novo passo dado pelo movimento golpista, a Contee reforça a convocação para que as entidades filiadas e toda a categoria participem dos atos em defesa da democracia que acontecerão em todo o Brasil.
Amanhã (5), por exemplo, e dia haverá uma marcha nacional contra o golpe na abertura das Olimpíadas, no centro do Rio de Janeiro, na próxima terça-feira (9) – data em que o mesmo relatório será votado pelos 81 senadores da Casa, em sessão presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski – atos “Fora Temer” serão realizados em Fora Temer em todas as capitais e demais cidades, convocados pela Frente Brasil Popular. Na semana passada, o Comitê Nacional de Educação Contra o Golpe — Fora Temer, em Defesa da Democracia, Nenhum Direito a Menos, do qual faz parte a Contee, aprovou a adesão ás manifestações em seu calendário de lutas (veja aqui o calendário).
Prosseguimento
Com a votação de hoje, a Comissão do Especial do Impeachment do Senado encerra os trabalhos. Como já havia antecipado que faria desde que assumiu o colegiado, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) foi único que não votou. Agora, para o relatório ser aprovado em plenário, são necessários votos da maioria simples dos parlamentares, ou seja, metade mais um dos presentes à sessão. Caso os senadores decidam pela continuidade do processo, Dilma será julgada no fim do mês, em data ainda a ser definida. No julgamento final, os senadores terão de decidir se Dilma será afastada definitivamente do cargo e ficará inelegível por oito anos. Para aprovação, são necessários, no mínimo, 54 votos, em votação no plenário do Senado.
Em defesa do mandato de Dilma Rousseff, o senador Humberto Costa (PT-PE) comparou o momento atual do Brasil a uma “repetição farsesca” do golpe de Estado de 1964, que segundo ele, se justifica “pelo combate à corrupção reclamado pelos corruptos”. Costa disse ainda que a presidenta afastada não cometeu crime e que os decretos de créditos suplementares, alvo do processo, “jamais justificariam” a retirada de um presidente.
A ex-ministra da Agricultura de Dilma, Kátia Abreu (PMDB-TO), seguiu na contramão dos colegas de partido, que encabeçam o golpe, e afirmou que o processo de impeachment é fruto de “uma chantagem de Eduardo Cunha”, que queria se ver livre das acusações que pesavam contra ele. A senadora criticou ainda a política fiscal do governo interino de Michel Temer e acrescentou que “o mensalão e o petrolão não são de um partido só” e que “muitos estão atolados”.
Ao declarar voto contrário ao relatório de Antonio Anastasia, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que, apesar de um resultado desfavorável para Dilma, os aliados da presidenta afastada cumpriram seu papel. A petista criticou a comissão por ter dado mais importância ao rito que ao conteúdo e avaliou que há um golpe em curso, “não contra Dilma, Lula ou o PT, mas contra os 54 milhões de eleitores”.
Tensão
Um dos momentos mais tensos da comissão ocorreu quando a senadora Fátima Bezerra (PT-AM) se referiu ao relatório de Anastasia como “fraudulento”. O presidente Raimundo Lira pediu que a expressão fosse retirada da transcrição da íntegra da sessão, que é feita pela taquigrafia do Senado, e causou revolta entre os petistas.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que o centro de sua fala seria na mesma linha e acusou Lira de censura. “Isso não é censura, é equilíbrio”, rebateu Lira, que manteve a decisão.
Com informações da Agência Brasil





