Manifestação em Brasília enfrenta forte repressão e medidas golpistas
Sob forte esquema de segurança, com dezenas de policiais cercando a entrada do auditório e controlando a entrada das pessoas, os movimentos sociais se reuniram com parlamentares, nesta quarta-feira (5), na Câmara dos Deputados, em manifestação contra a PEC 241, chamada de PEC do desmonte do estado brasileiro. O ato, que durou três horas, dentro e fora do prédio, onde se aglomeraram milhares de manifestantes que não puderam entrar no auditório, foi marcado pelo grito de “Fora Temer”.
Agência CâmaraA líder da Minoria, deputada Jandira Feghali, que presidiu a manifestação, apelou aos movimentos sociais para que se mantenham mobilizados contra as propostas do governo golpista
A manifestação, articulada pelas lideranças do PCdoB, PT, PDT, PSOL e Minoria, que começou às 10 horas e prosseguiu até as 13 horas, serviu para denunciar o plano golpista embutido nas propostas que estão em avaliação no Congresso.
Além da PEC 241, que congela por 20 anos os investimentos, parlamentares e lideranças sociais e sindicais se manifestaram contra o projeto de lei, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), que acaba com a obrigatoriedade da Petrobras ser operadora de pelo menos 30% da exploração do petróleo do pré-sal. O projeto está na pauta da Câmara para ser votado ainda nesta quarta-feira .
Parlamentares e movimentos sociais e sindicais também se uniram na defesa da mobilização permanente contra o governo golpista de Michel Temer e sua agenda de retrocessos e ameaça aos direitos da classe trabalhadora.
Derrotar o governo
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) destacou que “o que precisamos fazer é ter a disposição e certeza de que temos um objetivo maior que é derrotar esse governo golpista, que entrou pela porta dos fundos do Palácio do Planalto, não porque queria simplesmente chegar ao poder, mas, representando o capital financeiro internacional, encaminhar essas reformas absurdas antipopulares e antipátria brasileira”.
E alertou que, para isso, “eles usam de todos os meios e armas, como fizeram até agora, para enganar a população brasileira”, denunciando que a PEC 241 terá campanha publicitária. “Eles ainda têm a cara de pau de usar o nosso dinheiro para dizer que a PEC é necessária porque o Brasil está entrando em falência”.
Os oradores que antecederam e se seguiram à senadora reafirmaram que o teto do gasto público proposto pelo governo, sob o pretexto de que o Estado está à beira da falência, na verdade atingirá apenas o trabalhador que ganha salário mínimo, com redução de recursos para as áreas de saúde e educação e de valores dos benefícios previdenciários.
Guilherme Boulos, da Frente Povo Sem Medo, também destacou que existe um duplo golpe em curso no país. “O golpe não foi somente contra a soberania do voto popular, mas também para tentar aplicar um programa que não teve voto, não foi eleito pelo povo brasileiro.”
E confirmou as palavras da presidenta nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PEC), que lembrou em sua fala que um dos ideólogos da “Ponte para o Futuro” (programa de governo do PMDB) admitiu que o programa não podia passar pelo crivo das urnas e teria que ser imposto e assim estão fazendo.
“Quem ganharia eleições nesse país dizendo que vai congelar investimentos no país por 20 anos?” indagou Boulos.
Orçamento sem povo
A líder da Minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que foi recebida na manifestação com gritos de “me representa”, foi quem abriu o evento. Ela lembrou que não precisava fazer discurso de convencimento para a plateia e que, por isso, reforçaria o apelo para que “as lideranças sociais e sindicais junto conosco fazer a multiplicação dos dados e informações da PEC, que é uma proposta de orçamento sem povo”.
Jandira enfatizou a necessidade da mobilização permanente e luta constante contra a PEC 241 e o projeto de lei que altera as regras de exploração do pré-sal, destacando que “só um governo muito perverso pode anunciar medidas com esse conteúdo e essa gravidade”.
“Não há limite para os gastos financeiros, só para educação, saúde e programas sociais”, afirmou, complementando a fala do líder do PSOL na Câmara, deputado Ian Valente (SP), que, em seu discurso, afirmou que esse “saco de maldades” do governo golpista de Temer é contra a classe trabalhadora e privilegia o mercado financeiro internacional (os banqueiros).
“O governo Temer é vinculado ao mercado financeiro, por isso o eco do grito de ‘Fora Temer’ deve permanecer nas ruas”, disse o parlamentar que, por sua vez, confirmou o vídeo exibido no início da manifestação que, ao explicar a PEC 241, disse que a proposta é como um Robin Hood ao contrário: o governo Temer quer tirar dos pobres para dar aos ricos.
O deputado Patrus Ananias (PT-MG) foi o primeiro orador na manifestação. Ele disse que precisava sair para participar de audiência no Superior Tribunal de Justiça (STF), onde faria denúncias sobre as tentativas do governo golpista de Temer de criminalizar os movimentos sociais, classificando como terroristas as práticas de resistência desses movimentos.
Mobilização
Entre as diversas lideranças dos movimentos sociais que se revezaram ao microfone, o presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, e a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Moara Correa, se comprometeram em manter suas bases mobilizadas contra as propostas, porque reconhecem nelas uma ameaça à Petrobras e a educação brasileira.
Entre os manifestantes que conseguiram entrar no auditório, Jucelene Franco, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz, do Rio de Janeiro, levantava os cartazes e acompanhava os gritos de “Fora Temer” e outras palavras de ordem. Para ela, “essa PEC é danosa não apenas para os trabalhadores da saúde, mas para todo o povo brasileiro. Eles querem fazer economia para pagar a dívida pública. É uma bolsa-banqueiro”.
Aurívio Lúcio Veiga, professor de Minas Gerais, que também participou da manifestação, disse que “o povo já acordou para o golpe e seus derivados. Essas medidas são derivadas do golpe, que não era contra a presidenta Dilma e nem um partido político, mas contra a classe trabalhadora, é uma forma de tirar os direitos da classe trabalhadora”.
De Brasília
Márcia Xavier