No Senado, diretor da Contee mostra indignação contra a intolerância e aponta relação entre a Lei da Mordaça e a MP do ensino médio
O engenheiro civil Alexandre José da Silva Neto, de 60 anos, que perseguiu e matou o filho, o estudante de matemática Guilherme Silva Neto, de 20, e se matou em seguida, em Goiânia, havia discutido com o rapaz momentos antes do crime por conta da participação do jovem em movimentos sociais e ocupações em escolas. O caso estarrecedor ocorrido ontem (15) e que chocou todo o país mostra como a intolerância ao pensamento livre e à liberdade de expressão pode atingir patamares assustadores.
Foi a indignação contra o assassinato de Guilherme a deixa que o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, usou hoje (16) para dar início a sua fala na audiência pública promovida pela Comissão de Educação do Senado que debateu o movimento Escola Sem Partido e a Lei da Mordaça — sessão à qual também compareceu o coordenador da Secretaria de Comunicação Social da Confederação, Alan Francisco de Carvalho. “Nós todos que acreditamos na humanidade acordamos hoje estarrecidos com a morte do Guilherme, o garoto assassinado pelo pai em nome do ódio e da intolerância”, lamentou Gilson, fazendo questão de prestar homenagem ao estudante.
Conforme o coordenador-geral da Contee, esse ódio tem dado a tônica do golpe articulado pelas elites brasileiras, sob um viés profundamente conservador, intolerante e fundamentalista. “No período pré-golpe vimos também essa intolerância. Isso é recorrente na história do Brasil. Em todos os momentos de golpe ocorreu essa reação de grupos fundamentalistas — TFP, integralistas, anticomunistas…”, enumerou. “Isso mostra que nossa luta contra a mordaça será muito maior. Estou indignado. E possivelmente não será última morte, porque o ódio está se esparramando pelas ruas e praças desse país.”
O Escola Sem Partido — que de “sem partido” só tem o nome, sendo ligado às ideologias mais conservadoras e reacionárias existentes — é uma expressão simbólica dessa violência. Mas, segundo Gilson, a Lei da Mordaça é também “um chamarisco para aquilo que é o projeto definitivo das elites que tomaram o país pelo golpe: a reforma do ensino médio”. De acordo com ele, ali está colocada a abolição do pensamento crítico quando se exclui disciplinas como filosofia e sociologia, pro exemplo.
Além disso, o diretor da Contee destacou que, ao abrir a possibilidade nociva de ingerência do setor privado na escola pública, a Medida Provisória 746 também abre caminho para a atuação de igrejas neopentecostais e da ala conservadora da Igreja Católica na educação pública, como acontece em algumas instituições dos Estados Unidos. “A reforma do ensino médio poderá significar a transferência de recursos públicos a setores privados e o controle dessas igrejas”, alertou.
Gilson destacou a atuação da Contee e das dezenas de entidades que compõem o Comitê Nacional de Luta em Defesa da Escola Pública, que se reuniu hoje em Brasília. “Estamos imbuídos num luta ferrenha não só para retomar a democracia, mas também para que não haja mais nenhum retrocesso”.
Após a fala de Gilson e a exibição do vídeo da campanha nacional da Contee contra a Lei da Mordaça — campanha cujos materiais, como camisetas e faixas, foram distribuídos aos demais debatedores presentes —, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que presidiu a audiência, ressaltou o trabalho da Confederação. “A Contee tem tido papel muito especial nessa luta. Tanto que foi ela que entrou com ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contra a Lei da Mordaça. Quero destacar a luta de vocês na defesa da educação e contra aberrações desse tipo.”
Assista ao vídeo com a intervenção do coordenador-geral da Contee:
Da redação
Fotos: Alan Francisco de Carvalho