“Vou continuar esperando que a Justiça faça justiça neste país”, diz Lula a Moro
Na sede da Justiça Federal, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou depoimento ao juiz Sergio Moro na tarde desta quarta-feira (13). A acusação é de que a Odebrecht teria comprado um terreno em São Paulo para construir o Instituto Lula e uma cobertura em São Bernardo do Campo, vizinha ao apartamento onde o ex-presidente mora.
Lula afirmou que as denúncias não procedem. “Quase todas as denúncias foram motivo para a imprensa aprisionar vocês, o grupo da Lava Jato. Eu acho que vocês estão reféns de uma coisa grave para o Poder Judiciário brasileiro”.
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O interrogatório começou às 14h e terminou por volta das 16h20.
Na condição de réu, Lula poderia ter optado por ficar em silêncio. “Apesar de entender que o processo é ilegítimo e injusto, eu pretendo falar. Talvez eu seja a pessoa que mais queira a verdade neste processo”, afirmou o ex-presidente a Moro.
Lula disse que não solicitou a compra do apartamento vizinho ao dele em São Bernardo do Campo, que visitou o terreno objeto da denúncia uma vez e que o achou inadequado e que as três denúncias apresentadas contra ele pela Lava Jato são “ilações”.
Nos dez minutos finais do depoimento, Lula disse que a imprensa tradicional não faz uma cobertura jornalística, mas sim uma campanha para prejudicá-lo e fez uma declaração sobre o ex-ministro Antonio Palocci . “Eu achei que o Palocci está preso há mais de um ano, ele tem o direito de querer ser livre […] O que não pode é, se você não quer assumir a responsabilidade por fatos ilícitos que você fez”.
Palocci foi interrogado por Moro nesta mesma ação na semana passada e disse que Lula tinha um “pacto de sangue” com o dono da Odebrecht.
Assista abaixo ao trecho final:
Cada vez que eu saio daqui, ou cada vez que eu ligo a televisão, eu vejo as pessoas fazendo campanha contra mim. Aliás, um conselho, o senhor utiliza a palavra “denegrir”, em referência ao advogado da Espanha que fez as acusações que o senhor não gostou. Politicamente não é correto falar a palavra “denegrir”. O movimento negro do país não gosta.
Eu, todo dia, tenho de 20 a 30 minutos de campanha contra mim. Difamando meu nome, achincalhando meu nome, sem nenhum respeito. Ontem mesmo, não sei se o senhor acompanhou, eu sou alvo de outra ação do Ministério Público por uma Medida Provisória aprovada por unanimidade no Congresso Nacional. Ou seja, parece que tem uma caça às bruxas.
Eu tenho lidado com muita paciência. Eu vi o depoimento do Palocci e eu não disse nada. Muita gente achou que eu ia chegar aqui com muita raiva do Palocci. Eu achei que o Palocci está preso há mais de um ano, ele tem o direito de querer ser livre, tem o direito de querer ficar com um pouco do dinheiro que ele ganhou fazendo palestra. Ele tem família. Tudo isso eu acho.
O que não pode é, se você não quer assumir a responsabilidade por fatos ilícitos que você fez. Não jogue em cima dos outros. Porque, na verdade, o Ministério Público – eu acho que pouca gente respeita o Ministério Público como eu – mas eu acho que o Ministério Público ligado à Lava Jato enveredou por um caminho que vocês estão com dificuldade de sair. Então o objetivo é encontrar alguém para me criminalizar. Este é o objetivo em todas as ações que são feitas contra mim.
Esses dias eu fiquei sabendo de uma pessoa que foi prestar depoimento na Polícia Federal. De 28 perguntas, 26 foram sobre o Lula.
E eu quero dizer ao Ministério Público que eu vou enfrentar todas as ações que vocês fizeram com o mesmo respeito, criticando sempre, protestando sempre, dizendo que é ilegítimo o que vocês estão fazendo.
As denúncias não procedem. Quase todas as denúncias foram motivo para a imprensa aprisionar vocês, o grupo da Lava Jato. Eu acho que vocês estão reféns de uma coisa grave para o Poder Judiciário brasileiro. Estamos vendo o que está acontecendo com o Janot.
Eu não posso deixar de dizer que esses processos contra mim tornaram vocês reféns da imprensa brasileira. Quero terminar fazendo uma pergunta para o senhor, doutor. Eu vou chegar em casa amanhã e eu vou almoçar com oito netos. Uma bisneta de seis meses. Eu posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que vim a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?
Porque não foi o procedimento na outra ação, doutor. Eu vou continuar esperando que a Justiça faça justiça neste país.