Após pressão, jornal retira do ar ferramenta de denúncia contra professores
Uma vitória foi conquistada no Paraná contra o movimento Escola Sem Partido — que, conforme o professor Demerval Saviani, é, na verdade, uma Escola de Partidos reacionários e conservadores— e a tentativa de amordaçar o magistério e impedir a formação crítica dos estudantes. Depois da pressão feita por professores, advogados e outros diversos leitores, o jornal Gazeta do Povo retirou ontem (10) do ar o “Monitor de Doutrinação”, ferramenta que tinha sido lançada no último dia 6 com a finalidade de “receber relatos de doutrinação ideológica nas salas de aula brasileiras”, que supostamente “seriam publicados após rigorosa apuração jornalística”.
“A reação nos levou a refletir se a ferramenta era condizente com o papel da comunicação, a finalidade editorial e a personalidade da Gazeta do Povo. Se contribuía efetivamente para a construção de um ambiente permanente de debate cordial e construtivo. Se nos colocávamos de forma amiga, respeitosa e inspiradora para fortalecer a educação brasileira. Se estávamos, de fato, cumprindo o propósito de dar poder às pessoas para compreender e transformar para melhor o seu ambiente. Se colocávamos, nesta ferramenta, a comunicação a serviço do desenvolvimento de nossa terra e nossa gente, como é missão deste veículo”, diz o jornal na nota em que informa sobre a suspensão.
O veículo também afirma concordar “em parte substancial com críticas contidas na nota da APP-Sindicato”, divulgada na sexta-feira (8). Na moção, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná repudiou o lançamento do “Monitor de Doutrinação”: “A Gazeta do Povo, ao divulgar o que chama de ‘nova plataforma de denúncias’, demonstra, além de desrespeito com profissionais da educação, o despreparo pedagógico e humano, ao incitar, na escola, o clima de denuncismo e perseguição.”
Enfrentar esses denuncismo e essa perseguição tem sido uma das lutas dos trabalhadores em educação da rede pública e do setor privado, bem como das entidades que os representam, entre as quais a Contee, autora da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que levou o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), a suspender a Lei da Mordaça no estado de Alagoas. O recuo da Gazeta do Povo é a segunda vitória popular contra a censura e a criminalização do magistério em menos de um mês, já que no último 21 de novembro, após pressão, o senador Magno Malta (PR-ES) retirou de circulação seu projeto instituindo a Escola Sem Partido.
No entanto, é preciso estar alerta, uma vez que outras dez propostas com teor semelhante tramitam na Câmara dos Deputados, sem contar as matérias em pauta nas câmaras municipais e assembleias legislativas. Um dos instrumentos para isso, também já divulgado pelo Portal da Contee, é o vasto material compilado no site “Professores contra o Escola Sem Partido”, no qual estão reunidos textos, artigos científicos, palestras, participações em audiências públicas e programas de TV, além de lista atualizada com o panorama dos projetos de Lei da Mordaça que tramitam no Brasil. Combatê-los é necessário e urgente, porque tais propostas contrariam os princípios constitucionais que asseguram o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e a liberdade de aprender e de ensinar, destruindo o ideal de educação democrática e cidadã.
Por Táscia Souza