Guia explica o Ideb

Ideb é dividido por etapas de ensino, geografia e esferas administrativas; veja como o índice é calculado e as metas de melhoria de qualidade determinadas pelo MEC. Este ano, pela primeira vez todas as escolas públicas brasileiras foram avaliadas no 3º ano do ensino médio. Veja tabelas com séries históricas de dados nacionais e estaduais nos ensinos fundamental e médio. Entenda quais comparações fazem sentido e conheça as críticas de especialistas aos rankings Indicador criado pelo Inep permite comparar escolas de acordo com a situação socioeconômica dos alunos. O que não pode faltar na cobertura e dicas de enfoques complementares

Guia do Ideb

Jeduca (Associação dos Jornalistas de Educação)

2018

1. O que é o Ideb

O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), do MEC (Ministério da Educação), é um indicador de qualidade dos ensinos fundamental e médio, abrangendo as redes pública e privada.

De modo geral, podemos afirmar que o Ideb mostra em que medida os estudantes estão aprendendo e passando de ano. Faz isso numa escala simples, de 0 a 10.

Embora a escala do Ideb replique a das notas escolares, para facilitar o entendimento pela sociedade, não se pode compará-las. Uma nota 6 para um estudante é mediana (ou abaixo da média, se a escola adota como mínimo para aprovação a nota 7). Para uma escola ou rede, é uma pontuação muito boa, como explicaremos mais adiante.

De um lado, o Ideb considera os resultados da Prova Brasil, nome pelo qual é conhecida a Anresc (Avaliação Nacional de Rendimento Escolar) e da Aneb (Avaliação Nacional da Educação Básica), isto é, as notas obtidas por estudantes em testes padronizados de português e matemática. As duas provas compõem o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).

De outro, leva em conta o índice de aprovação. Ou seja, o porcentual de estudantes que passaram de ano, ao final do respectivo ano letivo, conforme divulgado pelo Censo Escolar.

O Ideb é resultado do cruzamento do desempenho (Prova Brasil e Aneb) com o rendimento escolar (aprovação).

É importante perceber que os componentes do Ideb estão entrelaçados. A variação de um afeta o peso do outro.

Para atingir patamares elevados na escala do Ideb, portanto, é preciso aumentar tanto o número de estudantes com notas boas quanto o de alunos aprovados. Em outras palavras, garantir aprendizagem e fluxo.

A lógica por trás do indicador é clara: não basta ter estudantes com notas altas se o custo disso for a reprovação sistemática, impedindo que parcela significativa da juventude conclua a educação básica. Taxas elevadas de reprovação jogam o Ideb para baixo.

Tampouco é desejável a aprovação de estudantes sem o devido aprendizado, apenas com o intuito de elevar as taxas de conclusão de curso. Alunos despreparados tendem a ter fraco desempenho na Prova Brasil e na Aneb, com impacto negativo sobre o Ideb.

2. De qual Ideb estamos falando

Ao analisar os resultados do Ideb, devemos verificar de qual Ideb estamos falando. Isso porque o indicador é calculado para retratar separadamente a realidade de diferentes etapas do ensino, com variações geográficas e administrativas.

O Ideb mais abrangente é o do Brasil, que retrata a média nacional de cada etapa da educação básica, consideradas todas as redes de ensino. Mas há também o Ideb do Brasil por rede, que sintetiza a média nacional numa rede de ensino específica, como as redes municipais ou a rede privada, por exemplo.

No outro extremo da escala geográfica, há o Ideb por escola, que apresenta a situação de um único estabelecimento de ensino.

Até a edição da Prova Brasil do ano passado, o Ideb por escola era calculado só no ensino fundamental, para os anos iniciais e para os anos finais, exclusivamente em escolas municipais ou estaduais. O Ideb do ensino médio era feito por amostragem.

Em 2017 a Prova Brasil foi aplicada de forma censitária para todas as escolas públicas de ensino médio e para escolas particulares que fizeram pedidos formais nesse sentido. Desta forma, foi calculada a nota de todos os estabelecimentos públicos de ensino, desde que pelo menos 80% dos seus alunos tenham feito a prova.

Além do Ideb do Brasil e do Ideb por escola, existem o Ideb por estado e o Ideb por município.

Vejamos o Ideb em suas diferentes abrangências:

Ideb por etapas de ensino

– Anos iniciais do ensino fundamental (1° ao 5° ano)

– Anos finais do ensino fundamental (6° ao 9° ano)

– Ensino médio (3º ano)

Ideb por dimensão geográfica

– Brasil

– Estados e Distrito Federal

– Municípios

– Escolas

Ideb por dependência administrativa

– Municipais

– Estaduais

– Pública

– Privada

– Total (média geral de todas as redes)

– Federal (disponível por escola; entra no cálculo da média da rede pública)

3. Como o Ideb é calculado

O Ideb é calculado a partir do cruzamento da taxa de aprovação com o desempenho escolar dos estudantes.

Exemplos:

– Numa escola cuja taxa de aprovação seja 0,9 e o desempenho escolar, 6, o Ideb será 5,4, na escala de 0 a 10.

Como calcular: 0,9 x 6 = 5,4.

– Numa escola cuja taxa de aprovação seja 0,8 e o desempenho escolar, 5, o Ideb será igual a 4, na escala de 0 a 10.

Como calcular: 0,8 x 5 = 4.

– Numa escola cuja taxa de aprovação seja 0,5 e o desempenho escolar, 4, o Ideb será 2, na escala de 0 a 10.

Como calcular: 0,5 x 4 = 2.

* * *

A taxa de aprovação corresponde à taxa média de aprovação de estudantes nas séries que compõem a etapa de ensino analisada.

Assim, no cálculo do Ideb dos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, a taxa de aprovação corresponderá à média das taxas de aprovação de estudantes nas turmas de 1º, 2º, 3º, 4º e 5º ano do ensino fundamental, num determinado ano letivo.

No cálculo do Ideb dos anos finais do ensino fundamental, a taxa de aprovação corresponderá à média das taxas de aprovação de estudantes nas turmas de 5º, 6º, 7º, 8º e 9º ano do ensino fundamental, num determinado ano letivo.

No cálculo do Ideb do ensino médio, a taxa de aprovação corresponderá à média das taxas de aprovação de estudantes nas turmas de 1º, 2º e 3º ano do ensino médio, num determinado ano letivo.

O desempenho escolar corresponde à nota média de português e matemática, padronizada numa escala de 0 a 10, de exames oficiais do Ministério da Educação.

Tanto a Aneb quanto a Prova Brasil são testes aplicados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), autarquia vinculada ao MEC. Ambos são realizados a cada dois anos. Avaliam a aprendizagem das turmas do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e do 3º do ensino médio.

4. Histórico

O Ideb foi lançado em 2007 pelo MEC, dando sequência a uma trajetória de avaliação do ensino básico iniciada em 1990.

Como já vimos, o Ideb se baseia nas taxas de aprovação de alunos e nos resultados da Prova Brasil e da Aneb.

A primeira edição da Aneb ocorreu em 1990. Realizado por amostragem, o exame avalia conhecimentos de português e matemática em escolas urbanas e rurais, da rede pública e privada, em todo o Brasil.

Só em 1995, porém, é que o Inep adotou metodologia que permite a comparação de resultados de diferentes edições do exame. É a chamada TRI (Teoria de Resposta ao Item), que pré-testa as questões, garantindo que cada prova tenha o mesmo grau de dificuldade.

Assim, a série histórica comparável de dados da Aneb teve início em 1995.

Em 2005, houve um novo avanço: o Inep criou a Prova Brasil, ou Anresc.

Diferentemente da Aneb, a Prova Brasil não é amostral, sendo aplicada em escolas municipais, estaduais e federais no 5º e 9º anos do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio.

5. Resultados e metas

O MEC estabeleceu a meta de que o Brasil (rede pública e privada) atinja 6 na escala do Ideb (0 a 10).

De acordo com o Inep, o Ideb 6 corresponde ao nível de desempenho de estudantes brasileiros com melhores pontuações no Pisa (sigla em inglês do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes).

O Pisa é um exame de leitura, matemática e ciências aplicado a alunos de 15 anos, a cada dois anos, pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entidade que reúne países desenvolvidos e nações convidadas. O Brasil participa do Pisa e costuma ficar entre os últimos colocados.

Portanto, a nota 6 é alta, porque corresponde à pontuação dos estudantes brasileiros que se saíram melhor numa avaliação aplicada em países com sistemas educacionais mais consolidados do que o do Brasil. Além disso, é preciso considerar que é virtualmente impossível atingir um Ideb 10, porque a escola ou rede precisaria aliar um altíssimo desempenho dos alunos na Prova Brasil com um índice de reprovação próximo de zero.

O MEC definiu que a meta do Ideb 6 deverá ser alcançada primeiramente no segmento dos anos iniciais do ensino fundamental. O prazo para isso vai até 2021.

A escolha de 2021 não foi aleatória. Como os resultados do Ideb de 2021 só serão conhecidos em 2022, a ideia foi fazer coincidir a conquista da meta com a comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil, ocorrida em 1822.

Para os anos finais do ensino fundamental, o cronograma estabelecido pelo MEC estipula que a meta de Ideb 6 deverá ser atingida em 2025. Para o ensino médio, o prazo é ainda mais longo: vai até 2028.

A premissa é de que é mais fácil ­– ou melhor, menos difícil – melhorar o desempenho e o rendimento escolar das crianças que o de adolescentes e jovens. Não à toa, o Ideb brasileiro é mais alto nos anos iniciais do ensino fundamental.

Além disso, o ritmo de avanço no Ideb dos anos iniciais do ensino fundamental não tem se repetido, em escala nacional, no Ideb dos anos finais. Menos ainda no do ensino médio, como mostra a Tabela 1 (todas as tabelas do guia tem como fonte o Inep).

A série histórica do Ideb já tem sete edições: 2005, 2007, 2009, 2011, 2013, 2015 e a última, de 2017, que está sendo divulgada agora, em setembro.

Tamanho volume de dados permite identificar tendências da educação brasileira na última década, bem como apontar gargalos e desafios.

O detalhamento das informações possibilita ainda analisar a situação das escolas e das redes de ensino dos municípios, dos estados e do Distrito Federal.

A cada nova edição, o Ideb revela uma fotografia da educação no país. Como um filme, a série histórica mostra o desenrolar da trama, registrando avanços, estagnação e retrocessos.

A meta estabelecida pelo Inep é que o Brasil atinja, na média nacional, a pontuação 6 até 2021, nos anos iniciais do ensino fundamental.

O Inep definiu também metas intermediárias para cada dois anos. Assim, entre o Ideb de 2005 e o de 2021, foram fixadas metas intermediárias para as edições do Ideb de 2007, 2009, 2011, 2013, 2015, 2017 e 2019.

As metas intermediárias foram calculadas separadamente para cada estado, para o Distrito Federal, para cada município e para cada escola, de maneira que o conjunto geral do país consiga chegar à média 6.

As metas intermediárias são diferenciadas porque cada ente federativo e cada escola partiu de um ponto distinto em 2005, quando o Ideb foi calculado pela primeira vez.

O cronograma de metas intermediárias prevê que, em 2021, quando a média nacional atingir 6, haverá estados, municípios e escolas com resultados acima de 6 e outros abaixo. A meta é que a média nacional, contudo, seja 6.

O mesmo vale para os anos finais do ensino fundamental, cuja meta deverá ser atingida em 2025 e para o ensino médio, cujo prazo para isso é 2028. As metas intermediárias permitem saber se o ritmo de evolução do Ideb está dentro do previsto para que o país atinja, no prazo, o Ideb 6. A Tabela 2 mostra as metas intermediárias para o Ideb do Brasil:

Antes de passar para o próximo tópico, cabe fazer um alerta: é preciso ter cuidado ao comparar a evolução do Ideb e da Prova Brasil de 2005 a 2015. Só na edição de 2009 passaram a ser avaliados os anos finais (8º e 9º anos) do ensino fundamental de escolas públicas rurais que atendiam ao número mínimo exigido de alunos matriculados. Por isso, na comparação da série histórica o jornalista deve levar em conta escolas ou redes de ensino que participaram de todas as edições. Até porque estudos demonstram que as escolas rurais tendem a ter desempenho mais baixo que as urbanas.

6. Reportagens que podemos fazer com o Ideb

O Ideb é uma fonte quase inesgotável de pautas, dada a quantidade e a variedade dos resultados divulgados a cada dois anos pelo MEC.

Listamos abaixo possíveis enfoques e abordagens para a produção de reportagens a partir dos resultados do Ideb.

Nem de longe temos a pretensão de esgotar as possibilidades de pautas. Mesmo se tentássemos, a criatividade dos jornalistas e a riqueza de informações do Ideb tornariam a missão impossível.

6.1 Divulgação dos resultados

A cada nova edição, os resultados do Ideb suscitam uma questão: o índice melhorou, piorou ou permaneceu igual ao da edição anterior?

A pergunta vale para as três etapas avaliadas: anos iniciais do ensino fundamental, anos finais e ensino médio. Vale também para os diferentes níveis geográficos ­– Brasil, unidades da federação (UF) e municípios –, assim como para as distintas redes: municipal, estadual, pública (média das redes municipais, estaduais, do DF e federal), privada e total (média de todas as redes).

O resultado mais abrangente e, por isso mesmo, o que reflete a situação mais geral do território analisado, é o chamado Ideb total, que sintetiza o desempenho conjunto da redes pública e privada.

Noticiar os resultados gerais do Ideb é o que podemos chamar de tarefa obrigatória do jornalista no dia da divulgação dos resultados do Ideb.

A cobertura deve abordar também outros aspectos: as metas intermediárias do Ideb para o respectivo biênio foram atingidas nas três etapas de ensino avaliadas? Considerada a série histórica do Ideb, os novos resultados mostram que a tendência é de melhora, piora ou estagnação? Trata-se do mais baixo Ideb da série histórica?

É interessante verificar ainda se o resultado mais recente do Ideb está acima ou abaixo do resultado mais antigo. Caso esteja abaixo ou igual, será possível afirmar que tantos anos se passaram sem que o desenvolvimento do ensino avançasse em relação ao ponto de partida.

Cabe observar também se os novos resultados estão próximos, distantes ou se já ultrapassaram a marca de 6 pontos, na escala de 0 a 10, isto é, se a meta almejada pelo MEC já foi atingida. Isso vale para análises sobre o Brasil, as unidades da federação, os municípios e as próprias escolas.

6.2 Rankings

Criticados por educadores (ver o item 7 deste guia, “Limites do Ideb”), os rankings permitem comparar resultados das 27 UFs (Unidades da Federação), dos municípios e das escolas.

São de fácil compreensão pelos leitores, ouvintes e telespectadores. Podem também servir de ponto de partida para reportagens aprofundadas sobre como e por que determinadas escolas, cidades e unidades da federação estão à frente ou atrás das demais.

Normalmente os rankings são feitos separadamente por etapa de ensino, unidade geográfica e dependência administrativa (total, rede pública, redes municipais, redes estaduais, rede privada).

É interessante também comparar os rankings de diferentes edições do Ideb. Assim, uma Unidade da Federação pode ter o Ideb mais alto do país em determinado ano e perder posições na edição seguinte do Ideb. Ou vice-versa.

A comparação pode mostrar ainda que determinada UF, mesmo tendo melhorado seu Ideb, fez isso em ritmo mais lento que as demais. Assim, apesar do aumento do Ideb, terá uma posição pior no ranking.

Os rankings estaduais podem ser feitos com base tanto no Ideb total (média de todas as redes de ensino) quanto no Ideb por rede específica. No caso do ensino médio, por exemplo, cerca de oito em cada dez matrículas ocorrem nas redes estaduais. Logo, um ranking do Ideb do ensino médio nas redes estaduais jogará luz sobre a gestão do ensino nos governos estaduais e do DF.

Cuidado, porém, com análises e conclusões simplistas. A educação é um processo complexo, cuja compreensão vai além de um único indicador, como o Ideb.

Os rankings municipais dispõem apenas de Ideb referente ao ensino fundamental (anos iniciais e anos finais), por rede pública, rede municipal, rede estadual ou rede federal. É que o Ideb dos municípios, como já vimos, é calculado com base na Prova Brasil, que só avalia o ensino fundamental de escolas públicas.

Rankings com foco nas redes municipais mostram o desempenho dos sistemas de ensino sob responsabilidade direta das prefeituras. Isso é especialmente válido para os anos iniciais do ensino fundamental, cuja gestão cabe diretamente aos municípios.

Os rankings podem abranger cidades de todo o país ou ficar restritos aos municípios de um determinado estado ou região. Outra comparação possível é a das capitais estaduais, assim como a de municípios por faixa populacional (até 20 mil habitantes, mais de 500 mil habitantes, etc.)

De novo, vale verificar a variação nas posições dos rankings municipais, de uma edição para outra do Ideb.

O Inep criou o Inse (Indicador de Nível Socioeconômico das Escolas), que classifica os estabelecimentos de ensino conforme o poder aquisitivo e as condições materiais de vida dos alunos, a fim de apontar desigualdades que extrapolam a educação. A justificativa é que tais desigualdades podem explicar disparidades no Ideb das escolas.

A existência do Inse abre a possibilidade de elaboração de rankings restritos a escolas da mesma faixa socioeconômica. Desse modo, os rankings de escolas poderão levar em conta também o contexto socioeconômico dos estudantes, fator que, segundo especialistas, influencia diretamente o desempenho escolar.

6.3 Ideb e eleições

O Ideb pode contribuir com o debate eleitoral. Além dos rankings tradicionais que mostram a posição de cada município e estado em relação aos demais, é possível verificar quais cidades tiveram maior crescimento no Ideb, em determinado período. Para isso, basta comparar o Ideb de dois, quatro, seis, oito ou dez anos atrás, observando a variação do indicador no período analisado.

Atenção: o fato de uma política educacional não gerar efeitos positivos no Ideb no curto prazo não quer dizer que essa política seja ruim. O jornalista deve usar as variações do Ideb como ponto de partida para ouvir especialistas, gestores e educadores, de modo a aprofundar o debate e a compreensão sobre o assunto (ver o item 7 deste guia, “Limites do Ideb”).

6.4 O que faz o Ideb subir (ou cair)

Desempenho ou aprovação? Uma vez que o Ideb é resultado do cruzamento das taxas de aprovação com as notas em exames padronizados de português e matemática (Prova Brasil/Aneb), podemos verificar qual desses fatores pesou mais para a elevação ou para a queda do Ideb no plano nacional, estadual, municipal ou mesmo em uma única escola.

Se o Ideb de determinada rede municipal subiu 0,5 ponto, isto é de 4,5 para 5, podemos indagar o que provocou o aumento: o melhor desempenho dos alunos na Prova Brasil, o aumento da taxa de aprovação ou ambos?

Nos casos em que tiver ocorrido melhora em ambos os componentes do Ideb, podemos identificar o peso de cada um. Com isso, poderemos mostrar que a melhora ou piora do Ideb foi causada mais pela aprovação de alunos do que pela melhora nas notas. Ou vice-versa.

6.5 Boas práticas

Podemos mostrar como funcionam e o que fazem as escolas e as redes de ensino com Ideb acima de 6, na escala de 0 a 10.

Mas é preciso ter cuidado. Casos de sucesso na educação muitas vezes estão ligados a soluções e políticas desenvolvidas por redes e escolas com base na sua trajetória e na realidade local. É sempre prudente levar em conta que experiências bem-sucedidas em uma determinada situação podem não ser aplicáveis em outro contexto (ou pelo menos podem não ser aplicáveis sem algum tipo de adaptação).

6.6 Sucesso em meio a adversidades

Podemos selecionar escolas que atingiram níveis elevados do Ideb, apesar das condições socioeconômicas desfavoráveis de seus estudantes. É o caso, por exemplo, de escolas com maioria de alunos beneficiários do Bolsa Família que venham a se destacar no Ideb.

A criação do Inse facilita a tarefa, uma vez que indica, por meio de critérios adotados pelo próprio Inep, quais as escolas com alunado em pior situação socioeconômica. Em 2012, antes da criação do Inse, o jornal O Globo publicou série de reportagens concebida sob esse enfoque, com o título “Aula de excelência na pobreza”. A série venceu o Prêmio Esso de Educação daquele ano.

7. Limites do Ideb

A exemplo de outros indicadores, o Ideb faz a síntese de um fenômeno extremamente complexo, a educação. É natural, portanto, que tenha limitações. Estar ciente delas ajuda os jornalistas a produzirem reportagens mais esclarecedoras.

Uma das limitações do Ideb tem origem nos conteúdos avaliados pela Prova Brasil e pela Aneb: português e matemática. Embora sejam disciplinas estruturantes do conhecimento, é evidente que a grade curricular das escolas contempla outras áreas que acabam ficando de fora do Ideb. O Pisa, por exemplo, inclui na prova conteúdos de ciências. A partir de 2019, o Inep vai começar a avaliar conhecimentos de Ciências da Natureza e Ciências Humanas de alunos do 9º ano do ensino fundamental.

A maior lacuna do indicador, porém, é que o Ideb puro desconsidera o contexto socioeconômico dos estudantes. Especialistas afirmam que a escolaridade dos pais, o acesso à pré-escola, a existência de livros em casa e a quantidade de estímulos cognitivos a que as crianças são expostas nos primeiros anos de vida fazem muita diferença no desempenho escolar.

Assim, ao compararmos o Ideb de escolas com perfis distintos de alunos – uma escola de periferia e outra de bairro nobre, por exemplo –, é muito provável que encontremos resultados diferentes. Mas é possível que boa parte dessa distância não se deva ao fato de uma escola oferecer ensino melhor que a outra. Tudo indica que a explicação, nesse caso, possa estar no contexto socioeconômico dos estudantes.

O Inse utiliza informações prestadas pelos próprios alunos, nos questionários socioeconômicos da Prova Brasil e de outras avaliações oficiais. São dados como o número de aparelhos de TV, banheiros e quartos na residência do aluno; sobre a contratação de empregada(o) diarista ou mensalista e de TV por assinatura; e sobre a escolaridade dos pais e a renda mensal familiar.

Está claro que é injusto comparar uma escola que atenda alunos de Inse alto com uma que atenda alunos de Inse baixo. O motivo é simples: a diferença entre elas é explicada muito mais pelo perfil dos alunos que atendem, e não pelo que acontece de bom ou ruim em sala de aula. Por isso, as comparações do Ideb entre escolas (ou mesmo entre municípios) têm maior precisão quando analisamos escolas ou redes com perfis semelhantes de alunos.

Educadores e gestores também costumam criticar a ênfase dada aos rankings na cobertura jornalística do Ideb. Dizem que a leitura que os meios de comunicação fazem dos rankings é injusta, por focar exclusivamente nos resultados do Ideb, ignorando disparidades com origem fora das escolas. O argumento é que um colégio de periferia que recebe alunos de famílias de baixa renda e pouca escolaridade terá que superar dificuldades muito maiores que as de uma escola frequentada por crianças e adolescentes de classe média.

Apesar das críticas, é importante lembrar que os rankings têm alto poder de síntese e ajudam a disseminar informações para um público leigo e mais amplo que nem sempre acompanha o noticiário sobre educação. Contextualizar as informações e aprofundar as análises são tarefas – e desafios – para os jornalistas.

8. Tabelas

A Tabela 8.1 mostra o Ideb do Brasil, por rede, nas três etapas de ensino avaliadas (anos iniciais do ensino fundamental, anos finais do ensino fundamental e ensino médio), de 2005 a 2015.

A Tabela 8.2 mostra o Ideb total dos estados e do DF, nos anos iniciais do fundamental, ordenado pelos resultados de 2015.

A Tabela 8.3 mostra o Ideb total dos estados e do DF, nos anos finais do fundamental, ordenado pelos resultados de 2015.

A Tabela 8.4 mostra o Ideb total dos estados e do DF no ensino médio, ordenado pelos resultados de 2015.

Jeduca

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