Vagner Freitas: Desvalorizar salário mínimo e aposentadorias agravará crise social
São Paulo – “Se Mansueto e Bolsonaro acabarem com a política de valorização do salário mínimo e a Previdência, significa o fim econômico da maioria das cidades brasileiros de menos de 100 mil habitantes.” A avaliação é do presidente da CUT, Vagner Freitas, em entrevista à Rádio Brasil Atual na tarde desta quinta-feira (22). Ele trata das propostas apresentadas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, e pelo secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, que podem agravar ainda mais a já conturbada realidade brasileira. Cerca de 70% dos municípios do país (3.875 cidades) têm como maior fonte de renda os benefícios pagos pela Previdência Social, muitos deles com base no salário mínimo.
“Não têm (essas cidades) uma economia que gire por si só, são lugares onde pais e filhos estão desempregados e o avô acaba sendo arrimo de família. Ou onde os empregados ganham hoje salário mínimo valorizado. Some-se essas duas coisas e (o fim delas) pode criar uma crise econômica generalizada para a maioria do interior do Brasil, que vai gerar mais desemprego, mais idas do interior para a capital, mais crise nas grandes cidades, mais violência, insegurança, mais crise social.”
A entrevista do presidente da CUT foi concedida nesta tarde, após o Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Previdência e da Seguridade Social. Para o dirigente sindical, que é bancário do Bradesco, toda essa política de retirada de direitos trabalhistas e sociais – colocada em prática pelo governo de Michel Temer e mantida por Bolsonaro – tem de ser desmascarada. “Vieram para adequar o Brasil aos interesses dos patrões, das multinacionais, e não aos interesses da população.”
Por isso o dia de luta. “Foi um ‘esquenta’, um alerta, um início de um processo de conscientização dos trabalhadores brasileiros sobre as propostas nefastas que o governo que vai tomar posse herdou do governo Temer.”
Esse “processo de aquecimento” trata de uma Campanha Permanente em Defesa da Previdência, na qual CUT, Força Sindical, CTB, Intersindical, CSB, CSP-Conlutas, NCST, UGT e CGTB estão unificadas.
“É extremamente importante a unificação das centrais e movimentos sociais”, classifica Vagner Freitas. “A grande vantagem de um momento tão difícil que estamos vivendo com a ascensão da extrema direita ao poder no Brasil é a unidade na base dos trabalhadores, que não fazem parte da estratégia desse governo, nem econômica, nem social, nem política.”
Vagner reforça que a unidade das centrais será no sentido de defender qualquer pauta que retire direitos. “Mas desde que chegue à consciência do trabalhador que foi massacrado por uma proposta mentirosa e envolveu uma parcela que acabou votando nele.”
O dirigente considera que houve um “massacre midiático” na eleição de Bolsonaro. “E com instrumentos até bastante questionáveis que facilitaram sua eleição e que levaram alguns trabalhadores a acreditar que o governo que vai tomar posse pode trazer soluções políticas para a crise econômica e de emprego que eles sofrem. E não é o que vai acontecer. Nós alertamos isso durante a campanha”, afirma, lembrando que as primeiras medidas anunciadas demonstram que o novo governo é “anti-trabalhadores, antissindical e absolutamente controlado pelo interesse dos patrões”.
Sem intimidação
Nesse cenário, avisa, a Central Única dos Trabalhadores “vai continuar cumprindo seu papel histórico: fazer oposição ou dar apoio de acordo com as atitudes que o governo tem”.
Lamentando a eleição de Bolsonaro, o presidente da CUT afirma que não torce contra e espera que as coisas deem certo. “Mas as primeiras medidas e a construção fundamentalmente ideológica desse governo demonstram que vai retirar direitos dos trabalhadores dos setores público e privado”, critica. “E vai retirar recursos das áreas sociais, de educação, saúde, transporte, segurança, como já fez o Temer.”
A maior central sindical do Brasil estará contra as políticas de Bolsonaro que representarem ameaças aos direitos dos trabalhadores, avisa Vagner. “E vamos propor o que achamos correto tanto de política econômica, quanto de geração de emprego e renda. O que a CUT jamais vai deixar de fazer é deixar de defender os trabalhadores e organizá-los para que eles próprios defendam seus direitos e não sejam prejudicados. Vamos continuar acreditando, esmorecer jamais e nunca deixando que nenhuma proposta de violência venha a nos intimidar.”