#8M: É pela vida!
Dos 2,2 milhões de professores da educação básica, 1,8 milhões são mulheres, um total de 81,8%. Mais de 80% também é o percentual de gestoras à frente das 180,6 mil unidades escolares do país. Os dados são do Censo Escolar da Educação Básica 2019, maior pesquisa estatística educacional brasileira, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No entanto, o levantamento também mostra que, mesmo na educação, reproduz-se o desnível de tratamento entre mulheres e homens no mercado de trabalho. As professoras são esmagadora maioria na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental, onde se luta, ainda hoje, por uma equiparação salarial com as demais séries do fundamental e com o ensino médio. Em contrapartida, no ensino superior, onde o salário é maior, elas representam 45,28%, ao passo que os homens ocupam 54,72% dos cargos.
Com uma categoria formada majoritariamente por mulheres — e isso não inclui apenas as professoras, mas também as auxiliares de administração escolar e técnicas administrativas — e na qual os impactos da desigualdade de gênero ainda são sentidos, não é possível a Contee passar incólume pelo Dia Internacional da Mulher, neste 8 de março, e sua importância na luta por equidade e contra a violência perpetuada pelo machismo e pela misoginia.
É violência quando uma professora é agredida fisicamente em sala de aula. É violência quando uma docente é alvo de insinuações ou ofensas sexuais dentro do ambiente escolar. É violência quando ela precisa dar conta de crianças bem pequenas na educação infantil e ganha menos por isso. É violência quando retiram seus direitos de aposentadoria, obrigando-a — ela que começou a dar aulas tão cedo — a trabalhar por mais tempo. É violência quando a reforma trabalhista precariza ainda mais suas relações e condições de trabalho nas instituições de ensino. É violência quando o congelamento dos investimentos públicos rouba dessas mulheres trabalhadoras a possibilidade de creches de qualidade onde deixar seus filhos. É violência quando, mesmo diante de tantas violências, as questões sobre gênero e o combate à desigualdade — que afeta essas mulheres que trabalham nas escolas e também as estudantes — são banidas da sala de aula e dos planos de educação, sob pena de censura, perseguição, acusação de doutrinação e criminalização.
As trabalhadoras em educação, assim como todas as mulheres brasileiras, têm muito o que denunciar e muito pelo que lutar, neste 8 de março e em todos os dias. Mas esta não é e não pode ser uma luta só das mulheres. É — e preciso que seja — de toda a sociedade. É contra o machismo, é contra a misoginia, é contra a violência, é contra a supressão de direitos trabalhistas e sociais, é contra o autoritarismo e a barbárie que nos ronda, é pela educação, é pela vida.
Por Táscia Souza