Desemprego aumentou antes da chegada do coronavírus no Brasil, mostra IBGE
Brasil tem 12,3 milhões de desempregados e 38 milhões de trabalhadores informais, mostra análise do trimestre que se encerrou em fevereiro
O desemprego atingiu 12,3 milhões de pessoas no trimestre que vai de dezembro até fevereiro, anunciou a pesquisa PNAD Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira 31. Uma alta nas demissões nos setores de construção puxou o número para cima, diz a pesquisa, que destaca, também, a existência de mais de 38 milhões de trabalhadores informais adicionais ao cenário negativo.
De acordo com a pesquisa, é usual que os empregos gerados no fim do ano demitam funcionários, mas o setor responsável não foi o comércio, como tradicionalmente acontece. “Desta vez, a alta na taxa foi puxada pelos setores de construção (-4,4%), administração pública (-2,3%) e também pelos serviços domésticos (-2,4%).”, diz o IBGE.
A taxa de desocupação, que subiu de 11,2% para 11,6%, interrompeu uma sequência de dois trimestres em queda e ainda é menos do que o mesmo trimestre de 2019, quando a taxa alcançava 12,4%. Ao longo do ano passado, no entanto, o IBGE já apontava que eram os empregos informais que sustentavam os números de queda do desemprego.
No ano passado, a taxa de informalidade – que é a soma dos trabalhadores sem carteira, dos trabalhadores domésticos sem carteira, do empregador e do autônomo sem CNPJ e do trabalhador familiar auxiliar – atingiu o maior nível desde 2016 no Brasil, com 41,1% dos trabalhadores, e bateu o recorde em 19 estados e no Distrito Federal.
No trimestre que encerrou em fevereiro, a taxa caiu para 40,6%, o que ainda representa um contingente de 38 milhões de trabalhadores informais. Para a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, ainda há influência das contratações de fim de ano na análise dos dados. “A gente ainda vive sob a influência do mês de dezembro, em que tivemos um desempenho muito bom das contratações com carteira trabalho. Muitas pessoas foram contratadas via carteira de trabalho no comércio, o que deu um pouco mais de consistência aos dados de formalidade.”, explica.
A pesquisa também computou o total de pessoas fora da força de trabalho, que chegou a 65,9 milhões, patamar recorde desde o primeiro trimestre de 2012, quando a pesquisa começou a ser feita. São pessoas que não procuram trabalho ativamente, mas que não se enquadram no desalento, que são aquelas desistiram de procurar emprego. Os desalentados somam 4,7 milhões, quadro estatisticamente estável em ambas as comparações.
O IBGE informou que toda a pesquisa já foi realizada por telefone em decorrência das medidas de afastamento social. No próximo trimestre analisado, a pesquisa já deve encontrar os impactos da pandemia de coronavírus nos empregos no País, assim como no rendimento dos trabalhadores informais.
Já que o primeiro caso da Covid-19 no País foi registrado no dia 26 de fevereiro, a pesquisa não conseguiu analisar o cenário do mercado sob o impacto direto da pandemia no Brasil.
Na segunda-feira 31, o Senado aprovou com unanimidade o projeto de uma renda básica de R$ 600 para trabalhadores informais durante a crise do coronavírus, texto que já tinha sido apreciado pela Câmara. Agora, o projeto depende apenas da sanção presidencial de Jair Bolsonaro.
O auxílio será destinado a cidadãos maiores de idade, sem emprego formal, que exerçam atividades na condição de trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI) ou contribuintes da Previdência Social e que tenham renda familiar mensal inferior a três salários mínimos no total. O valor pode ser acumulado por até dois membros de uma mesma família, somando 1,2 mil reais. O Ministério da Economia, com a sanção de Bolsonaro, ainda deverá regulamentar como o pagamento será feito.