Campanha presidencial na Venezuela começa nesta terça

A campanha eleitoral para a presidência da Venezuela começa oficialmente nesta terça-feira (02), durará 10 dias, mas não há formalidade capaz de enquadrar um país que há mais de 20 anos é sacudido pelo furacão Hugo Chávez.

Por Vinicius Mansur*, de Caracas

A política transborda nas ruas, na mídia, no cotidiano. Apenas a fé e o respeito a ela parecem ser capazes de reduzir a intensidade política na quinta (28) e sexta-feira (29) da Semana Santa, tanto do candidato chavista Nicolás Maduro, como do opositor Capriles Radonski.

Na quarta-feira (27) anterior, porém, Maduro deu continuidade a estratégia tradicionalmente usada por Chávez em períodos pré-eleitorais: o Juramento das Unidades de Batalha. Neste dia três cidades do oriente venezuelano tiveram seus ginásios de basquete abarrotados e coloridos de vermelho pelas camisas e bonés dos militantes bolivarianos.

Organizados pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), os juramentos reúnem o massivo “núcleo duro” chavista com objetivo de renovar seu compromisso e empolgá-los para a tarefa “Um por Dez”: cada militante deve conseguir 10 votos. A meta é crescer dos cerca de 8 milhões de votos (55,25%) conquistados nas eleições presidenciais de 2012 para 10 milhões em 2013.

A caminho do primeiro ato de juramento do dia 27 de março – em Maturín, capital do estado Monagas, 518 km ao leste de Caracas – um militante do PSUV afirmou a reportagem que só a abstenção, em um país onde o voto não é obrigatório, é capaz de derrotá-los. As pesquisas coincidem com a afirmação. A vantagem de Maduro sobre Capriles varia entre 18 a 14 pontos, de acordo com os institutos de pesquisa.

A fusão bolivariana 

Aos descer do avião em Maturín, Maduro foi saudado por militares com palavras de ordem que seriam exatamente repetidas pelos integrantes das Forças Armadas nas outras duas cidades em que aterrissaria neste dia. Palavras que comumente podem ser escutadas de bolivarianos civis: “Chávez vive, la lucha sigue” e “Independencia y Pátria socialista”. Portando um potente fuzil AK 130, hoje fabricados na Venezuela, um militar disse a Maduro que “nesse Exército corre o sangue de Chávez ”. O presidente exaltou o compromisso militar com a revolução, ressaltou que, a exemplo de Chávez, farão de tudo para seguir dando a eles as melhores condições pois “os impérios não respeitam os débeis, só respeitam os povos resolvidos a ser livres bem armados”.

Do aeroporto ao ginásio de Maturín, Maduro foi dirigindo um ônibus, distribuindo beijos e buzinadas nas ruas repletas de apoiadores. Enquanto isso, a equipe transportada pelo candidato recebia pedidos, projetos e mensagens de apoio em papel que, ao final do dia, encheriam dezenas de bolsas de carteiros.

O ônibus tem sido utilizado com frequência pelo candidato e ex-motorista de transporte coletivo. Enquanto a oposição utilizou a origem profissional de Maduro para pôr em dúvida sua capacidade política, as pesquisas do PSUV indicaram estar aí um forte elemento de identificação popular. No dia de registrar sua candidatura, Maduro, escoltado por milhares, chegou ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) dirigindo um ônibus no qual dizia caber 10 milhões de pessoas.

Já no ginásio de Maturín, sob um calor desidratante, Maduro falou por quase duas horas provocando uma espécie de catarse entre o público de quase 6 mil “rojos, rojitos”. O discurso chavista nesta campanha está centrado no resgate da história e do legado de seu grande líder e na necessidade de continuar o seu projeto. “Chávez vive, la lucha sigue” e “Chávez te lo juro, mi voto es pá Maduro” são as consignas que sintetizam o momento e tomam o ginásio.

Conjugando luto e luta, fundindo um discurso socialista, patriótico e cristão com habilidade oratória, Maduro transforma o ato em político, místico e religioso. “A ressureição divina em combate” de Chávez virá no próximo dia 14, afirma. “Viemos trabalhar, trabalhar e trabalhar por mais socialismo”, promete, sendo interrompido pelos gritos de “assim, assim, assim que se governa”.

Após convidar os compatriotas – termo que mais usa para dirigir-se ao público – a erguerem um dos braços, o presidente em exercício, em forma de jogral, conduziu o juramento de compromisso com a batalha democrática que se avizinha. O ritual foi repetido no mesmo dia 27 em ginásios nas cidades de Cumana, no estado de Sucre, e Assunción, estado Nueva Esparta, e também em Barinas, capital do estado de mesmo nome, no sábado (30).

A polarização

Marcando suas diferenças com o candidato Capriles, a quem chama de “burguesito”, Maduro recorda sempre sua origem popular, lembra episódios de ódio da oposição contra a figura e o legado “do nosso comandante” e o desrespeito, inclusive, com sua morte. “Eles não podem sentir o amor, não podem sentir a dor do povo, não o fizeram”, disse, agregando: “Nossa maior vingança é que se consolide a revolução socialista de Chávez”. Em Cumana, leu a mensagem que recebeu no twitter: “Não permita que sua dor se esconda, unidos venceremos”.

A humanização da política e a vinculação aos sentimentos populares respaldam Maduro ao posto de “filho de Chávez” e abrem uma distância que parece ser insuperável pelos adversários, apesar de todos os esforços de marketing de Capriles. Após 14 anos de combate agressivo e de derrotas para o chavismo, os opositores já não ousam questionar – em público – a figura de Chávez, passaram a garantir a continuação de políticas sociais, adotaram símbolos da revolução e batizaram seu comando de campanha de Simón Bolivar, enfatizam que Maduro não é “um Chávez” e, no sábado (30), anunciaram que também querem fazer nesse  dia 2 o ato de inauguração da campanha na cidade de Barinas, terra natal do ex-presidente.

Os chavistas haviam anunciado três dias antes que realizariam seu comício inaugural na mesma data e cidade, mantendo o roteiro de campanha tradicionalmente feito por Hugo Chávez. Maduro acusou a oposição de buscar conflito e alertou seus seguidores para não caírem na provocação que visa desestabilizar a democracia do país. Após a reação do presidente, Capriles voltou atrás e remarcou seu ato em Barinas para o dia 3.

Vinicius Mansur é jornalista da Carta Maior e integra, em Caracas, a equipe da ComunicaSul

Do Portal Vermelho

 

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