A vida acima do lucro: dignidade para quem ensina
Não há dúvida de que vivemos tempos muito, muito difíceis. De casa — daqueles que têm a possibilidade de estar em casa —, nos angustiamos com as notícias que chegam pelas telas (da TV, do celular, do computador…), sobre a pandemia, sobre o (des)governo, sobre as dificuldades que os que mais precisam enfrentam para ter direito a um amparo que, ainda assim, está longe de ser o suficiente.
Por essas mesmas telas damos acesso para que entrem em nossas casas, porque tem sido preciso: os estudantes, a escola que necessita dos trabalhadores para continuar funcionando, as reuniões sindicais que precisam continuar acontecendo para assegurar o respeito aos direitos trabalhistas num momento em que muitos tentam se aproveitar da fragilidade e da excepcionalidade para atacá-los. Por essas telas e pelas janelas, assistimos — e pranteamos — a inúmeras mortes, as causadas pelo Covid e as provocadas pelos covardes.
Muito a Contee já abordou sobre as especificidades educacionais existentes no Brasil, entre a rede pública e o setor privado, e a imensa desigualdade ainda mais escancarada nesse período. Sabemos do enorme drama enfrentado pelas escolas públicas e seus estudantes, professores, técnicos administrativos e toda a comunidade escolar, e nossa defesa, como sempre ao longo destes quase 30 anos de Confederação, continua sendo em defesa de uma educação pública, gratuita, democrática, inclusiva e de qualidade socialmente referenciada.
Mas também como representantes de mais de 1 milhão de trabalhadores em estabelecimentos privados de ensino, conhecemos e acompanhamos de perto também este outro drama, o dos que continuam desenvolvendo suas atividades pedagógicas e acadêmicas de maneira remota, na maioria das vezes com uma carga de tarefas ainda mais exaustiva, enfrentando pressões e cobranças de todos os lados.
Nesse sentido, a Contee destaca a atuação incansável das entidades da base em defesa dos direitos desses professores e desses técnicos administrativos. A agilidade das ações na Justiça, as constantes e praticamente diuturnas negociações com os sindicatos patronais e donos de escolas, a batalha para assegurar salários e impedir demissões, a preocupação com a saúde física e mental dos trabalhadores, os materiais — artigos, notas, orientações, vídeos etc. — voltados à informação da categoria e à conscientização de toda a sociedade. Isso tem acontecido de Norte a Sul, em toda a base, por ação e iniciativa dos sindicatos de professores e/ou de auxiliares de administração escolar filiados à Contee.
Um dos exemplos é o dado esta semana pelo Sinpro Macaé e Região, que acaba de lançar a campanha “A vida acima do lucro: dignidade para quem ensina”. Com ela, o sindicato busca ressaltar o trabalho realizado pelos docentes, bem como chamar a atenção sobre as medidas que penalizam os trabalhadores e que foram intensificadas desde o início da crise sanitária.
“Essa campanha tem uma importância a partir, inclusive, do que a Contee fez: estamos vivendo um período bastante delicado, mas entendemos que é preciso dialogar com a sociedade, chamar a atenção para as políticas que vêm sendo implementadas, porque é uma via de uma mão só e os trabalhadores e trabalhadoras é que continuam pagando por essa conta, como vem sendo reforçado por essas medidas provisórias”, destacou a presidenta do Sinpro Macaé e Região e coordenadora da Secretaria de Formação da Contee, Guilhermina Luzia da Rocha.
“A educação tem um papel, sobretudo no setor privado, sobre o qual a gente não pode deixar de tratar; não podemos deixar de chamar a atenção para o fato de que não paramos. O trabalho continua, exaustivamente. Estamos trabalhando além da nossa própria carga horária, e temos denunciado isso. O estresse, a pressão, tudo para fazer com que a escola não pare”, apontou.
“Obviamente, também tem um fundo aí, que é a nossa função social de alertar que a vida das pessoas vale mais do que o lucro. Hoje entendemos isso mais do que nunca. O trabalhador e a trabalhadora têm seu valor pelo seu trabalho, pela sua produção, mas não podem ser explorados por isso”, resumiu Guilhermina.
“Estamos vivendo um momento muito difícil e a estamos chamando a sociedade para formarmos uma rede de solidariedade, de compreensão, em que o setor privado — no caso, inclusive o patrão — possa também fazer essa reflexão conjunta. Porque não é só se enriquecer pelo trabalho, pela mão de obra, mas entender que a complexidade da situação que estamos vivendo é forte, mas que temos uma responsabilidade.”
Leia abaixo a carta aberta do Sinpro Macaé e Região à sociedade sobre a atuação dos professores na pandemia:
Por Táscia Souza