Jornada de Lutas da Juventude mostra jovens ávidos de viver com respeito e dignidade
Por Marcos Aurélio Ruy
Já está nas redes sociais a Jornada de Lutas da Juventude 2021. O tema escolhido pelos jovens engajados em transformar o país já diz tudo. Vida, Pão, Vacina e Educação é um slogan autoexplicativo. Quem deseja, porém, conhecer os anseios, os desejos, a educação, o país e a vida que a juventude brasileira quer para já, precisa ler esta entrevista com Rozana Barroso, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).
Com a participação de inúmeros artistas, como as atrizes Taís Araújo e Dira Paes, a Jornada de Lutas da Juventude terá ações nesta terça-feira (30) pelas redes sociais. Além de projeções, outdoors, faixas e cartazes nas ruas com atos simbólicos, respeitando o distanciamento social, garante Rozana.
A Ubes representa os mais de 40 milhões de secundaristas de todo o país há quase 73 anos. A Jornada de Lutas da Juventude nasceu em 2013 para expressar a vontade dessa parcela significativa da população. A líder estudantil coloca a educação como tema central para o país vencer a miséria e a profunda desigualdade social.
A jovem de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, pretende cursar biomedicina e diz que “costumamos dizer que os jovens não são apenas o futuro, são também o presente do nosso país e nesse presente estamos lutando muito para chegarmos ainda mais fortes no ano que vem para derrotar esse governo genocida e construir com as nossas mãos um Brasil que garanta segurança às nossas vidas, que garanta acesso à educação, que nos dê acesso à saúde, que tenha serviços públicos valorizados e que dê total prioridade à educação” para “o país voltar a sorrir, e possa ser feliz”.
Para ela, o momento impossibilita essa felicidade porque “a juventude anda de cabeça baixa” e “queremos a juventude de cabeça erguida com acesso aos seus direitos como educação, emprego, alimentação adequada e com uma vida digna”.
Porque “estamos lutando no presente para chegar mais fortes no futuro”. Ela não se cansa de repetir o tema da jornada deste ano: Vida, Pão, Vacina e Educação. Tema que remete à superação das crises sanitária e econômica. Crises que ceifam vidas e sonhos por causa da falta de ação de um governo inimigo da vida, da ciência e da inteligência.
Leia a entrevista abaixo:
Como vocês chegaram a esse tema tão forte e representativo deste momento crucial para a vida do país e da humanidade: Vida, Pão, Vacina e Educação?
Rozana Barroso: O tema surgiu após a nota técnica da Ubes sobre os Direitos Humanos e a Educação em tempos de pandemia. Pensamos como elaborar um tema para apontar os caminhos e as soluções que os estudantes precisam para que continuem tendo acesso à educação e para que aqueles que perderam essa possibilidade por causa da pandemia voltem a ter acesso à educação. Aquelas e aqueles que infelizmente evadiram, abandonaram a escola por causa dessa conjuntura adversa.
Analisando o cenário de agravamento da desigualdade social, pudemos perceber que os problemas abrangem toda a população, principalmente as pessoas que dependem do trabalho para viver. E, para tristeza de todos, neste momento enfrentamos um governo que tira e quer diminuir o auxílio emergencial, essencial para milhões de famílias fugirem da fome.
Esse governo não está nem aí para a ciência e para a pesquisa. O presidente Jair Bolsonaro ignora o papel da vacina, ignora a importância da educação e isso tem colaborado para o número gigantesco de abandono e de evasão escolar. Impossibilitando os jovens da periferia de ter acesso à educação.
O ensino remoto à distância parece não ter dado certo em parte nenhuma, não é?
A partir do momento em que não se disponibiliza a internet, o computador, os estudantes ficam sem a possibilidade de estudar. A situação se agrava ainda mais com as famílias passando fome, passando por situações muito difíceis e, para piorar, os estudantes ficaram sem a merenda escolar. A desnutrição infantil aumentou nesse período.
Daí surgiram essa palavras tão marcantes como tema desta jornada?
Começamos a pensar quais eram as palavras que poderiam traduzir a nossa nota técnica para o povo brasileiro e também serem as nossas reivindicações mais urgentes. Assim surgiu coletivamente: Vida, Pão, Vacina e Educação, que são as palavras de ordem de todo o povo brasileiro neste momento.
Junto com as nossas entidades irmãs, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a ANPG (Associação Nacional de Pós Graduandos) transformamos essas palavras no lema da Jornada de Lutas da Juventude de 2021.
Quais as saídas apontadas pela juventude para o país vencer a crise?
O tema da jornada já indica as saídas para que se possa solucionar os principais problemas da pandemia, do agravamento da desigualdade social e de um governo, que na nossa opinião, colabora com todo esse caos.
Por isso, quando falamos vida, dizemos sobre a importância de defender a vida neste momento tão difícil, com tantas mortes, mais de 3 mil óbitos por dia, um absurdo gigantesco. Quando falamos pão, se trata do auxílio emergencial, da merenda escolar, da garantia constitucional de uma alimentação suficiente e saudável. O tema vacina se trata de defender mais investimentos na ciência e na pesquisa. Levar a sério a imunização do povo brasileiro. A educação porque é daí que saem meninas e meninos prontos para colaborar com o desenvolvimento social, econômico e tecnológico do nosso país.
O nosso tema já direciona para algumas saídas e aponta algumas decisões que precisam ser tomadas para que possamos sair desse buraco de desespero.
Dá para resolver com Bolsonaro na Presidência?
Com certeza o impeachment e a campanha Fora Bolsonaro estão na pauta do movimento estudantil e da juventude. A saída de Bolsonaro para nós é uma questão de saúde pública. Temos um governo genocida. Desde o início minimizou os efeitos da pandemia. Algo desse tamanho. Apontado por inúmeros estudos que a humanidade não vivia há mais de 100 anos.
Mesmo assim, Bolsonaro chamou de “gripezinha” e banalizou a perda de tantas vidas. O nosso tema deste ano, direciona para os problemas que precisam ser solucionados com a maior urgência para o país sair do buraco de morte que Bolsonaro nos levou.
Qual educação os jovens brasileiros querem?
Os estudantes brasileiros querem uma educação que acompanhe o desenvolvimento da tecnologia. E a pandemia escancarou a desigualdade educacional do país. Porque grande parte das escolas públicas se mantém ainda na base da lousa e do giz. Grande parte dessas escolas não têm laboratório de informática e quando têm o computador não funciona. A falta de estrutura das escolas públicas não responde aos anseios de professores e estudantes, evidenciado neste momento de distanciamento social.
Nós sonhamos com uma educação livre, democrática. Uma educação que forme meninas e meninos para contribuir com o desenvolvimento do nosso país. Uma educação que esteja sempre no centro do debate da soberania nacional. Uma educação levada a sério para que possamos ter um Brasil que não só transforme a vida desses estudantes no individual, como eu, por exemplo, que quero ser a primeira da minha família a estar na universidade. Queremos uma educação que transforme o nosso Brasil como um todo porque a luta por uma educação de qualidade no Brasil não é só uma luta individual, de sonhos individuais, de transformar nossas vidas e de nossas famílias, mas de transformar o Brasil. Porque quando a educação avança, ninguém retrocede.
Queremos uma educação que esteja sempre avançando, sempre acompanhando as novas tecnologias, sempre pautando a necessidade da liberdade de expressão, de arte, mas também da importância desses jovens brasileiros para a construção de um país desenvolvido e soberano.
Como disse antes, não há país que consiga andar para a frente se a valorização da educação não estiver no centro do debate. Essa é a educação dos nossos sonhos. Livre, baseada o diálogo, no conteúdo democrático e na capacidade de transformar o país num lugar bom para se viver para todas as pessoas.
Nesta atual conjuntura, é possível ter esse sonho?
O sonho permanece porque nos alimenta. Mas infelizmente não acreditamos que o Brasil esteja perto disso, como disse acima, neste momento. Temos um governo que não valoriza a educação, não entende o seu papel estratégico e não dá importância para os necessários investimentos nesse setor vital para qualquer nação.
Um governo que queria aprovar o novo e permanente Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) apenas em 2022. Um governo que acaba de vetar uma lei de conectividade, que ignora e orienta os seus ministros a não receber as entidades estudantis. Que defende sempre uma política de exclusão.
Porque para os ultraconservadores, a educação não podes ser uma ponte para o ensino superior. Para eles, o lugar dos jovens pobres, negros, da periferia é longe dos bancos escolares.
A educação brasileira retrocede?
Tudo o que conquistamos até aqui, o governo Bolsonaro tenta retroceder. Essa Jornada de Lutas da Juventude, portanto, é fundamental para reforçarmos a nossa resiliência e a resistência em defesa de uma educação pública, voltada para o diálogo, inclusiva e de qualidade.
A juventude sonha com o que?
As meninas e os meninos deste país querem viver em paz, em segurança e com perspectivas de futuro, de poder sonhar com uma vida digna, sem violência, sem discriminação, com justiça social, respeito à diversidade e aos direitos humanos.
Lutamos pelo Fora Bolsonaro para voltarmos a sonhar com um futuro construído com as nossas mãos. Queremos a juventude inserida na política, construindo a luta dos movimentos sociais, mas também entendendo a importância do voto, do seu papel de exercer a democracia. Assim iremos derrotar esse projeto de genocídio através das urnas. Um projeto que, mesmo em meio a uma pandemia, aumentou o número de jovens negros mortos.
Precisamos derrotar esse projeto que inclusive ignora o tanto de jovens que são violentados e mortos todos os dias, até dentro de casa com tiro na barriga, jovens mortos nas ruas. Jovens mortos pela fome, pelo subemprego, pela falta de escolas.
Dá para ter esperança?
A juventude está desesperada porque temos um governo que ignora o nosso papel para a contribuição, como disse anteriormente, na construção de um país soberano e desenvolvido.
Por isso, costumamos dizer que os jovens não são apenas o futuro, são também o presente do nosso país e nesse presente estamos lutando muito para chegarmos ainda mais fortes no ano que vem para derrotar esse governo genocida e construir com as nossas mãos um Brasil que garanta segurança às nossas vidas, que garanta acesso à educação, que nos dê acesso à saúde, que tenha serviços públicos valorizados e que dê total prioridade à educação” para “o país voltar a sorrir, e possa ser feliz.
Não é esse presente de mortes que desejamos e muito menos um futuro como esse que queremos legar para quem vier depois de nós. Queremos a juventude de cabeça erguida com acesso aos seus direitos como educação, emprego, alimentação adequada e com uma vida digna.
Estamos lutando no presente para chegar mais fortes no futuro e derrotar o medo, o ódio e a violência. Fora Bolsonaro. Vida, Pão, Vacina e Educação para tirarmos o Brasil do buraco e do cemitério.