Sinpro-BA: Resultado de assembleia da educação básica
Essencial é a vida
Em luta pela vida, educadores aprovaram, em Assembleia ocorrida entre 17h30 e 22h30 da quinta-feira, 6 de maio de 2021, o NÃO RETORNO ÀS ATIVIDADES PRESENCIAIS OU SEMIPRESENCIAIS SEM IMUNIZAÇÃO COMPLETA DA CATEGORIA, COM MANUTENÇÃO DAS AULAS REMOTAS FORA DO AMBIENTE ESCOLAR, ATÉ QUE TODA A CATEGORIA SEJA IMUNIZADA.
Vários fatores pesaram nessa decisão, dentre os quais o fato de que a categoria apenas começou a passar pelo processo de aplicação da primeira dose dos imunizantes e que demanda tempo para que comecem a produzir os efeitos esperados, de que a segunda dose é fundamental para a complementação do processo de imunização, de que o ambiente escolar não é seguro para conter o contágio – as experiências de outros estados e cidades brasileiras onde professores foram infectados e morreram após o retorno às aulas presenciais sem estarem imunizados, e mesmo estudantes sofreram com a doença nos serve de aviso e de alerta -, de que muitas escolas de Salvador e da Bahia não têm condições de cumprir com os protocolos sanitários ou de oferecer equipamentos de proteção à categoria, muito menos oferecer segurança sanitária à comunidade escolar.
As informações confirmadas de que apenas em 4 dias de retorno às atividades presenciais em poucas escolas de Salvador, e apenas as da rede privada, algumas delas apresentaram professores, alunos e/ou funcionários positivados para Covid-19 – muitas das quais associadas desde sempre aos grupos que vinham insistentemente pedindo pela reabertura e que se diziam preparadas e seguras -, o que obrigou o fechamento das unidades de ensino e retorno ao sistema remoto, foram também importantes na definição da categoria.
Há um evidente desejo de retorno às atividades presenciais por parte da categoria docente, mas há uma compreensão de que vidas estão em jogo, e que este vírus não nos permite apostar ou contar com a sorte. Professoras e professores não querem ser motivo de luto em suas famílias, não querem chorar a morte de colegas e de estudantes. Não há heroísmo em mortes evitáveis e nenhum de nós quer ser herói. Somos trabalhadores, somos profissionais.
As professoras e os professores das escolas particulares vêm trabalhando muito e, muitas vezes, de forma precarizada desde o ano de 2020. O trabalho multiplicou-se, invadiu as nossas casas, tomou nosso tempo de modo que muitas atividades outras, incluindo o lazer (o lazer possível ao momento), ficaram em segundo, terceiro planos. Nosso trabalho tem sido imenso, árduo, constante, intenso e praticamente ininterrupto.
É falsa, deselegante, desrespeitosa qualquer afirmação de que a categoria não quer trabalhar e que quer receber seus salários sem a contrapartida da prestação do serviço. Pais, mães, estudantes ou donos de escolas que dizem isto precisam, antes de tudo, nos respeitar. É, aliás, um contrassenso exigir aulas presenciais por nos acharem importantes e, quando não atendidos, disparar impropérios e ofensas, tentando reduzir-nos ao que de pior há. É preciso, também, entender que nossa luta não é apenas por nós e por nossas vidas, é também por eles, para que não sejam também eles (pais, mães, estudantes e donos de escolas) vítimas do vírus circulante entre pessoas que obrigatoriamente terão mais proximidade e contato com o retorno às aulas presenciais e todas as demais ações e atividades a que isto leva.
Quem conhece as dinâmicas das escolas, quem sabe da dificuldade de implantar e fazer cumprir protocolos entre crianças e adolescentes, quem compreende os comportamentos infanto-juvenis, quem conhece a realidade das escolas e suas limitações físicas e estruturais – a maioria das escolas particulares não são as escolas ricas que têm feito pressão sobre o poder público e a sociedade -, muitas das quais em cômodos das casas de famílias que são suas donas, sabe que o ambiente escolar é pouco seguro quanto a um agente biológico letal.
Educação é essencial, mas esta essencialidade não está e nem deve estar atrelada à sua forma presencial neste momento. Sabemos todos – somos educadores – que a presença, o contato, o olho no olho são importantes na formação das crianças e dos adolescentes. Sabemos que a escola é um lugar de socialização, mas, em pleno século XXI, na era das redes e da comunicação digital em tempo real, pensar a escola apenas como o seu espaço físico estático e finito é não considerar as possibilidades postas no mundo contemporâneo.
Sabemos que a educação presencial alcança algo que as tecnologias não permitem ou o fazem de forma limitada. Sabemos, igualmente, que em situações de “normalidade” o ensino presencial é, de fato, o ideal. Mas, neste momento, em que tudo o que temos é distante da “normalidade”, num momento em que ainda não há segurança para um retorno que verdadeiramente possibilite as interações que esperamos e desejamos, com crianças robotizadas e vigiadas para que se busque o improvável e não garantido respeito aos protocolos, reabrir as escolas é colocar vidas em risco
.Enfrentamos dificuldades e colaboramos com o processo pedagógico e a continuidade da oferta dos serviços escolares até aqui – e seguimos e seguiremos colaborando, porque isto também nos interessa. Não jogamos e nem queremos jogar contra o negócio escola, em que pese pensemos a escola num sentido muito mais humanizado. Justamente por tudo isto, compreendemos que diante de uma vacinação iniciada e com a imunização em nosso horizonte – algo que não tínhamos em 2020 -, a pressa custará vidas, a pressão para o retorno fará famílias sofrerem, porque tudo é remediável, menos a morte. E não se pode negar que a morte esteja no horizonte de todos nós, de forma mais escancarada, neste momento.
A luta da categoria docente é, também, uma luta pedagógica, a construção de uma aprendizagem: como educadores, nunca olhamos para os nossos umbigos, pois sempre construímos algo que só tem sentido na coletividade. Nossa luta é coletiva, pois é por nós e por nossas famílias, pelos nossos alunos e por suas famílias, pelos funcionários escolares e por suas famílias, pelos donos de escolas – muitos dos quais nos atacam e nos criticam – e por suas famílias. Queremo-nos vivos da mesma forma como queremos a todos vivos e protegidos neste momento.O não retorno não é uma insubordinação, não é uma provocação ou um chamamento para o embate entre educadores, donos de escolas, famílias e estudantes.
O não retorno sequer é uma negativa para o trabalho – NÃO ESTAMOS EM GREVE! É mais e melhor que isto: é um chamamento para o diálogo, para a construção de uma compreensão mais ampla e profunda sobre o próprio fazer da educação e o papel verdadeiramente pedagógico que a proteção à vida pode e deve ter neste momento em que parecemos nos acostumar com a morte e flertar com ela como se nada mais nos restasse. Amamos a vida, doce e dura, nas suas dores e delícias. O não retorno, neste momento, é a invocação do mais sagrado e fundamental direito natural dos homens, o direito à vida!
Essencial é a vida!
Educação não é mercadoria!
Vidas importam!
DIRETORIA COLEGIADA