“Fora Bolsonaro” foi grito de guerra da 26ª Parada LGBT+ de São Paulo
Fantasia mais popular foi a bandeira de #forabolsonaro, vendida pelos ambulantes. Mas as declarações de voto a Lula também tomaram a avenida
Neste domingo (19), quem foi à 26ª. Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo teve a impressão que era obrigatório gritar um “Fora Bolsonaro” para participar. Na verdade, este era o clima entre políticos, ativistas, artistas e público, a todo momento. Mas houve também vários momentos em que as pessoas nos trios elétricos, como a presidenta da APOGBLT-SP, Claudia Garcia, pediram um “joinha” (gesto com o polegar), como senha para que todos levantassem a mão com o L que simboliza a volta de Luis Inácio Lula da Silva.
A maior parada do gênero no mundo nunca foi tão politizada, no sentido eleitoral do termo. Com o tema “Vote com Orgulho, por uma política que representa”, a manifestação expressou a insatisfação da juventude e da comunidade LGBT+ com o governo de Bolsonaro, depois de dois anos sem poder sair às ruas. Este também foi o tom dos discursos.
O evento evitou defender voto em candidatos, devido a restrições da lei eleitoral, mas não poupou ataques ao governo Bolsonaro. Muitas vezes, os gritos eram espontâneos, sem estímulo nos microfones.
Claudia disse que estamos votando pelo Brasil, por empregos, por saúde, moradia, comida barata, segurança. “Hoje, a parada está representando o Brasil para que, em outubro, a gente tire o que é ruim e coloque um presidente progressista e um parlamento progressista. Eu sei em quem vou votar e espero que vocês também saibam qual é a pessoa que pode garantir a democracia e a inclusão. Quem sabe em quem vai votar, quero ver um gesto de positivo. Faz um positivo!”, disse a presidenta da APOGLBT-SP.Foto de Roberto Parizoti
Desde a concentração, ainda pela manhã, muitos manifestantes carregavam cartazes ou bandeiras contra Jair Bolsonaro (PL). Os vendedores ambulantes esgotaram seu estoque de bandeirões com Fora Bolsonaro. Era possível vê-los para todo lado na avenida. Os botons e camisetas com imagens bem humoradas de Lula, fazendo caretas, também eram comuns.
A abertura no início da tarde contou com falas engajadas do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) e de Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato a uma vaga na Câmara dos Deputados. A deputada trans Erica Malunguinho (PSol-SP) também marcou presença, assim como Eduardo Suplicy (PT), Ivan Valente (PSol), Carlos Gianazzi (PSol), Thainara Faria (PT) e Nilton Tatto (PT). Representantes dos governos municipal e estadual também falaram.
“Estamos vivas e vamos continuar, destruindo o ódio e toda essa atmosfera de tristeza que esse governo instaurou no nosso país”, disse Erica Malunguinho. A deputada Isa Penna (PCdoB) lembrou o assédio sofrido na Assembleia Legislativa de São Paulo e disse que o machismo “vai ter que nos engolir na política e nas ruas, porque não vamos dar nenhum passo atrás”. “As mulheres não vão voltar para a cozinha, a negritude não vai voltar para a senzala e nós, os LGBT, não vamos voltar para o armário!”
Orlando, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, disse que nos últimos dias o mundo olhou para o Brasil com tristeza pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, mas que hoje olha com alegria pela maior parada LGBT+ do mundo. “Esta parada é o começo da caminhada que vai até outubro, para derrotar Bolsonaro e eleger Lula presidente”, afirmou.
“É bonito ver esta avenida tomada pelo amor e não pelo ódio. Espero que seja o último ano da Parada com um genocida no poder, um intolerante que a gente vai arrancar do Palácio do Planalto”, disse Boulos em cima do primeiro trio da organização, sendo ovacionado. “Aqui estamos semeando a esperança de uma sociedade onde todas as formas de amor sejam respeitadas e valorizadas, onde todas as identidades de gênero sejam respeitadas e valorizadas”.
A vereadora travesti de Araraquara (SP), Filipa Brunelli (PT), fez referência a LGBT+ do interior do estado, que sofrem com o ambiente mais conservador e repressivo a suas identidades de gênero. “Além de tudo ainda chamam a gente de caipira. Eu sou travesti e caipira com muito orgulho!”, disse ela, lembrando que foi eleita numa das cidades mais conservadoras do estado, com apoio da comunidade LGBT+.
A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy também compareceu e fez coro às críticas ao governo, mas sem mencionar diretamente Bolsonaro. “Não é um momento qualquer da nossa história, mas um momento decisório para nossas vidas. Nós estamos num retrocesso civilizatório. Tudo o que faz com que tenhamos respeito uns com os outros é o que estamos perdendo nesses anos”, disse ela, salientando que, além da “economia que foi pro brejo”, o que está em jogo são os valores de respeito à diversidade que se perderam nesse período.